Bolsonaro contraria ala militar e recebe credenciais de embaixadora de Guaidó

María Teresa Belandria havia sido desconvidada de cerimônia, mas foi reincluída de última hora

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Brasília

Contrariando o conselho de seus assessores militares, o presidente Jair Bolsonaro recebeu, nesta terça-feira (4), as cartas credenciais da embaixadora para o Brasil do autoproclamado presidente da Venezuela, Juan Guaidó, em cerimônia no Palácio do Planalto.

Na semana passada, a Folha mostrou que María Teresa Belandria —indicada por Guaidó para representá-lo no Brasil em fevereiro— havia sido desconvidada da cerimônia desta terça, da qual também participam os novos chefes das missões diplomáticas de México, Colômbia, Paraguai, Arábia Saudita, Peru, Guiné e Indonésia.

Ela foi reincluída na lista de participantes de última hora.

Na tradição diplomática, a apresentação das credenciais ao chefe de Estado marca oficialmente o início da missão de um embaixador como representante do seu país em uma nação estrangeira.

O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, cumprimenta Maria Teresa Belandria, embaixadora designada pelo líder oposicionista venezuelano Juan Guaidó, durante cerimônia em Brasília
O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, cumprimenta Maria Teresa Belandria, embaixadora designada pelo líder oposicionista venezuelano Juan Guaidó, durante cerimônia em Brasília - Adriano Machado - 4.jun.2019/Reuters

A avaliação da ala militar do Palácio do Planalto —que defendia que Belandria não participasse da cerimônia— é que, ao receber as cartas credenciais de uma representante da oposição ao chavismo, Bolsonaro enviaria uma "provocação desnecessária" ao ditador Nicolás Maduro, justamente no momento em que os generais conseguiram reduzir a tensão na fronteira entre os dois países.

A fronteira entre as cidades de Pacaraima (em Roraima) e Santa Elena de Uairén (na Venezuela), que ficou fechada por quase três meses, foi reaberta no início de maio.

O governo também retomou nas últimas semanas as negociações com emissários de Maduro para que a Venezuela volte a vender energia elétrica para Roraima, o único estado brasileiro que depende da importação de eletricidade.

Além das questões práticas, há um cálculo político por trás da opinião dos militares, de que Belandria não deveria entregar suas cartas credenciais a Bolsonaro.

Os militares avaliam que o levante liderado por Guaidó em 30 de abril não foi bem-sucedido e enfraqueceu sua posição. María Teresa Belandria deixou o Palácio do Planalto nesta terça-feira sem dar declarações à imprensa.

Em uma rede social, Guaidó agradeceu o gesto do presidente brasileiro. "Agradecemos o compromisso do governo do Brasil com a luta de todos os venezuelanos. Reconhecer a nossa embaixadora é reconhecer o esforço de um país decidido a conquistar sua liberdade. Obrigado, presidente Jair Bolsonaro."

Já o porta-voz da Presidência da República, general Otávio Rêgo Barros, negou na noite desta terça-feira que tenha existido pressão de setores militares para que Bolsonaro não recebesse as credenciais de Belandria.

"Não vi nenhum oficial general que participa do dia a dia com o senhor presidente objetar", declarou.

Ele disse, no entanto, que Bolsonaro seguiu orientação de sua assessoria pessoal e do Itamaraty.

"O presidente baseou-se em parecer realizado pela assessoria pessoal e pelo MRE [Ministério das Relações Exteriores] sobre a conveniência ou não de receber as cartas credenciais da embaixadora designada pelo presidente da Venezuela encarregado, Juan Guaidó", disse o porta-voz.

"De posse dessa informações e após constatar que a mesma medida havia sido já adotada por outros países, dentro e fora do Grupo de Lima, sem qualquer repercussão negativa, o presidente optou por receber as cartas credenciais, mantendo-se coerente com a decisão de reconhecer o governo de Guaidó", acrescentou.

Ele argumentou ainda que a decisão não implica na expulsão dos diplomatas venezuelanos, indicados por Maduro, que se encontram no Brasil.

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