Criticado, Trump diz que 'certamente' denunciaria ajuda estrangeira em campanha

Presidente volta atrás após afirmar não haver problema em receber informações sobre adversários

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Washington | The New York Times

O presidente Donald Trump pareceu recuar na sexta-feira (14) sobre aceitar ajuda de campanha da Rússia ou de outros governos estrangeiros sem necessariamente contar ao FBI, dizendo que certamente informaria às autoridades policiais se ele fosse procurado.

Criticado por ter dito no início da semana que "aceitaria" e zombado da ideia de que deveria chamar as autoridades, Trump mudou de posição, dizendo que, embora ele examinasse informações incriminatórias fornecidas por uma potência estrangeira hostil sobre um adversário na eleição, ele iria "sem dúvida" relatar tal encontro.

"É claro, você entrega para o FBI ou denuncia ao procurador-geral ou a alguém assim", disse Trump ao programa "Fox & Friends" em entrevista por telefone na manhã de sexta . "Mas é claro que você faz isso. Você não poderia deixar isso acontecer com nosso país."

O presidente dos EUA, Donald Trump, no jardim da Casa Branca, em Washington
O presidente dos EUA, Donald Trump, no jardim da Casa Branca, em Washington - Saul Loeb - 14.jun.19/AFP

Ele rebateu, com raiva, entretanto, a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, que disse na quinta-feira que a disposição do presidente a aceitar ajuda estrangeira para ganhar a eleição demonstrou "que ele não sabe distinguir o certo do errado" e que "ele esteve envolvido em uma ocultação criminosa".

Trump​ chamou isso de "declaração fascista", citando um apoiador. "Quando Nancy Pelosi faz uma declaração como essa, deveria ter vergonha de si mesma", disse ele. "É uma desgraça."

O presidente também reagiu contra as críticas em outra frente, rejeitando a recomendação de uma agência independente de que demitisse sua advogada, Kellyanne Conway, por violar a lei federal referente a política partidária no governo.

"Não, eu não vou demitir", disse Trump. "Eu acho que ela é uma pessoa maravilhosa. É uma tremenda porta-voz."

A recomendação para demitir Conway veio do Escritório do Conselho Especial, órgão que aplica a Lei Hatch relativa a política em locais de trabalho federais, e não tem relação com o ex-procurador especial Robert Mueller, que investigou Trump e Rússia.

A agência chamou Conway de "reincidente" por usar sua posição na Casa Branca para se envolver em política de campanha quando foi à televisão ou às redes sociais criticar os democratas que concorrem à indicação do partido para desafiar Trump na eleição do próximo ano. Henry J. Kerner, chefe da agência, que foi nomeado por Trump, disse que a conduta de Pelosi desgasta o Estado de direito.

Trump também usou a entrevista na Fox na sexta-feira para anunciar que pretende trazer de volta ao governo Thomas D. Homan, que atuou como diretor interino da Polícia de Imigração e Alfândega até se aposentar no ano passado. Sua indicação para manter o cargo ficou parada no Senado.

Homan, que tem sido um forte defensor das políticas de imigração radicais de Trump em suas próprias aparições na Fox, seria um "czar da fronteira", trabalhando fora da Casa Branca, disse o presidente. "Ele estará muito envolvido com a fronteira", disse Trump.

Mas o presidente disse que ainda não decidiu sobre a substituição de Sarah Huckabee Sanders, a secretária de imprensa da Casa Branca, que anunciou na quinta-feira que deixará o cargo no final do mês, depois de quase dois anos como porta-voz de Trump.

O presidente disse que tinha muitos bons candidatos para assumir o cargo, mas descartou explicitamente um, Anthony Scaramucci, que serviu por 11 dias como diretor de comunicações da Casa Branca antes de ser demitido em 2017 após um discurso sobre seus colegas a um repórter.

"Eu gosto de Anthony", disse Trump. Mas, acrescentou: "Eu acho que Anthony deve ficar onde está agora."

Os comentários do presidente sobre a ajuda de campanha da Rússia vieram depois de mais de um dia de duras críticas dos democratas, e até um desconfortável distanciamento dos republicanos, que disseram que qualquer candidato deveria denunciar automaticamente uma tentativa estrangeira de influenciar as eleições nos Estados Unidos. 

Com suas observações iniciais no começo desta semana, Trump colocou seu relacionamento com Moscou de volta no centro do debate em Washington sobre o futuro da Presidência, depois que Mueller informou que não pôde estabelecer qualquer conspiração criminosa entre a campanha de Trump e a Rússia durante a eleição de 2016.

Ele reabriu a questão em uma entrevista a George Stephanopoulos, da ABC News, quando rejeitou a ideia de que um candidato deveria ligar para o FBI se fosse procurado por uma potência estrangeira com ajuda eleitoral, como um ex-diretor do FBI de Trump, Christopher A. Wray, disse que deveria acontecer.

"Acho que em toda a minha vida eu nunca liguei para o FBI. Em toda a minha vida", disse Trump a Stephanopoulos, com desdém. "Você não liga para o FBI. Você joga a pessoa para fora do seu escritório, faz qualquer coisa."

Ele acrescentou: "Me poupe, a vida não funciona assim".

Lembrado de que seu próprio diretor do FBI disse que tais abordagens deveriam ser relatadas, Trump disse: "O diretor do FBI está errado".

Mais tarde ele disse que talvez ligasse para o FBI, mas só se ele pensasse que algo errado havia sido feito. "Eu acho que talvez você faça as duas coisas", completou.

Esses comentários provocaram novo furor no Capitólio, alimentando pedidos de leis que exijam que as campanhas políticas dos Estados Unidos denunciem entidades estrangeiras que ofereçam ajuda na campanha e encorajando os democratas que pedem o impeachment de Trump.

Os republicanos rejeitaram a lógica de Trump, dizendo categoricamente que tais abordagens devem ser relatadas, apesar de terem bloqueado uma proposta democrata no Senado para colocar isso em lei.

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves 

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