Explosões atingem petroleiros no golfo de Omã; EUA culpam Irã

Missão iraniana na ONU nega acusação 'infudada'

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Dubai e Washington | Reuters

Dois petroleiros foram atacados nesta quinta-feira (13) no golfo de Omã, levando a uma disparada do preço do petróleo e a novos temores de um confronto entre o Irã e os EUA, que culparam Teerã pelo incidente. 

“A avaliação do governo dos EUA é que a República Islâmica do Irã é responsável pelos ataques que ocorreram no golfo de Omã hoje”, afirmou o secretário de Estado americano, Mike Pompeo.

“Essa avaliação está baseada em informações de inteligência, nas armas usadas, no nível de expertise necessário para executar a operação, em recentes ataques iranianos similares e no fato de que nenhum grupo ‘por procuração’ [proxy] operando na região tem os recursos e a proficiência para agir com tal grau de sofisticação”, acrescentou.

Petroleiro pega fogo no Golfo de Omã - HO/IRIB TV/AFP

Para reforçar a acusação da Casa Branca, o Pentágono divulgou no fim do dia um vídeo em que um suposto bote de patrulha da Guarda Revolucionária do Irã se aproxima do petroleiro japonês Kokuka Courageous, uma das embarcações atacadas, e recolhe um dispositivo apontado como uma mina marítima que não teria explodido.

Os preços do petróleo tiveram um aumento de mais de 4% depois dos ataques no estreito de Hormuz, uma rota crucial para o transporte de petróleo da Arábia Saudita e de outros produtores do golfo, por temores de que uma instabilidade na região possa afetar o escoamento da commodity.

 

Mais tarde, os preços se estabilizaram com uma alta de 2%.

Este é o segundo incidente na região no último mês. Em maio, quatro petroleiros foram atingidos por minas navais. A Arábia Saudita e os EUA culparam o Irã por esses ataques, mas Teerã nega.

Após a declaração de Pompeo, a Arábia Saudita afirmou que irá adotar “todas as medidas” para se proteger.

"Não temos razão para discordar do secretário de Estado. Concordamos com ele", afirmou o chanceler saudita, Adel al-Jubeir.

As tensões entre o Irã e os EUA —e seus respectivos aliados regionais— aumentaram desde que o presidente Donald Trump abandonou o acordo nuclear iraniano, no ano passado, e incrementou as sanções contra a república islâmica, em abril. 

Em várias ocasiões, o Irã afirmou que bloquearia o estreito de Hormuz caso ficasse impedido de exportar petróleo devido às sanções.

Ninguém assumiu a autoria pelos ataques desta quinta. O chanceler iraniano, Javad Zarif, descreveu os incidentes como “suspeitosos” e defendeu um diálogo regional. 

Ele afirmou ainda que a a acusação dos EUA faz parte de uma “diplomacia da sabotagem”, encabeçada pelo conselheiro de Segurança Nacional, da Casa Branca, John Bolton.

“Que os EUA imediatamente tenham feito alegações contra o Irã —sem um fiapo de evidência factual— só deixa abundantemente claro que o ‘Time B’ se move para um plano B: a diplomacia de sabotagem”, escreveu Zarif.

O chanceler tem repetido que Bolton (abertamente favorável a endurecer com Teerã), o premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, e o príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, tentam convencer o presidente Donald Trump a embarcar num conflito com o Irã.

Mais tarde, a missão iraniana na ONU negou o que chamou de "acusação infundada" pelos EUA.

"O Irã rejeita categoricamente a acusação americana infundada com relação aos incidentes com petroleiros em 13 de junho e a condena nos termos mais fortes possíveis", disse a missão em nota. 

Os dois navios pegaram fogo, mas nenhum afundou. A tripulação do Front Altair, da Noruega, abandonou a embarcação nas águas entre os países do golfo e o Irã depois de uma explosão que, segundo fontes, pode ter sido causada por uma mina marítima. 

A tripulação foi resgatada. O petroleiro transportava 75 mil toneladas de combustível dos Emirados Árabes Unidos para Taiwan. 

A embarcação japonesa, cuja tripulação também foi resgatada em segurança, pode ter sido atingido por um torpedo. O navio levava metanol da Arábia Saudita para Singapura.

Um dispositivo que não explodiu e que acredita-se ser uma mina marítima foi avistado em um dos lados do petroleiro japonês, disse uma fonte americana. O passo seguinte seria desativar ou detonar o dispositivo de maneira controlada.

A agência estatal iraniana de notícias Irna informou que equipes de resgate do país socorreram 44 marinheiros dos petroleiros e os levaram para o porto iraniano de Jask. A Marinha americana afirmou que prestava assistência com sua frota baseada no Bahrein. 

A coalizão militar liderada pela Arábia Saudita, que combate rebeldes houthis aliados ao Irã no Iêmen, descreveu os eventos como uma “grande escalada”.

Os ataques ocorrem um dia depois que houthis dispararam um míssil contra um aeroporto na Arábia Saudita, ferindo 26 pessoas. Os houthis também reivindicaram um ataque com drone no mês passado em estações de bombeamento de petróleo sauditas.

A Rússia, um dos principais aliados do Irã, pediu cautela, afirmando que não se deve fazer conclusões precipitadas ou usar o incidente para pressionar a república islâmica. 

O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse em uma reunião do Conselho de Segurança que o mundo não suportaria “um grande confronto na região do golfo”.

Pompeo afirmou que o embaixador americano na ONU levantaria a questão em uma reunião a portas fechadas do Conselho de Segurança ainda nesta quinta.

“Precisamos lembrar que cerca de 30% do petróleo cru passa pelo estreito. Se as águas ficarem inseguras, o suprimento para todo o mundo ocidental poderia ficar em risco”, afirmou Paolo d’Amico, presidente da associação de petroleiros Intertanko. 

Apesar das exportações de petróleo do Irã terem caído de 2,5 milhões de barris por dia em abril do ano passado para 400 mil barris por dia em maio deste ano devido às sanções, o país não cumpriu a ameaça de fechar o estreito. 

Ambos os lados disseram querer evitar uma guerra.

“Nossa política continua sendo a de um esforço econômico e diplomático para trazer o Irã de volta à mesa de negociações no momento certo, para estimular um acordo abrangente que lide com a ampla gama de ameaças [iranianas]”, afirmou Pompeo. “O Irã deveria enfrentar a diplomacia com diplomacia e não com terror, derramamento de sangue e extorsão.” 

Ao abandonar o acordo nuclear iraniano, de 2015, Trump afirmou que queria impedir não apenas o trabalho nuclear do Irã, mas também o desenvolvimento de mísseis e seu apoio a forças no Iraque, na Síria, no Líbano e no Iêmen. 

Analistas regionais afirmaram que os ataques provavelmente foram conduzidos pelo Irã numa tentativa de alavancar seu poder de negociação e talvez fazer aumentar a pressão global para o retorno de conversas com os EUA.

“Sempre há a possibilidade de que alguém esteja tentando culpar os iranianos”, afirmou Jon Alterman, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, de Washington. “Mas há uma grande possibilidade de que isso represente um esforço iraniano de cacifar sua diplomacia ao criar uma percepção de urgência internacional de que EUA e Irã devem conversar.” 

O presidente do Irã, Hassan Rouhani, afirmou que a segurança no golfo é extremamente importante para seu país.

O premiê do Japão, Shinzo Abe, visitava Teerã no momento dos ataques. Abe, cujo país era um grande importador do petróleo iraniano até Washington aumentar as sanções, pediu que os dois lados não deixem as tensões crescerem.

O Reino Unido se disse “profundamente preocupado”. A Alemanha, que como Londres continua signatária do acordo nuclear iraniano, afirmou que a situação é “perigosa”.

A França, que tem uma base naval nos Emirados, pediu contenção e redução das tensões na região, acrescentando que defende “a liberdade de navegação, que deve ser preservada”.

A Liga Árabe afirmou que algumas partes estão “tentando alimentar incêndios na região”, sem citar nenhum país.

 
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