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EUA prometem ações 'diplomáticas ou outras' contra Irã por ataques a petroleiros

Mike Pompeo afirma discutir com aliados que medidas adotar, mas que não quer guerra

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Washington | Reuters

Os EUA não querem uma guerra com o Irã, mas adotarão todas as ações necessárias —”diplomáticas ou outras"— para garantir a navegação no Oriente Médio, afirmou neste domingo (16) o secretário de Estado americano, Mike Pompeo. 

As tensões entre os dois países aumentaram desde que Washington culpou Teerã pelos ataques contra dois petroleiros no golfo de Omã, na quinta-feira (13). O Irã nega

“Não queremos guerra. Fizemos o que podemos para impedir isso”, afirmou Pompeo em entrevista ao canal Fox News. “Os iranianos devem entender muito claramente que vamos continuar a tomar ações que impeçam o Irã de adotar esse tipo de comportamento.”

O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, dá entrevista - Eric Baradat - 13.jun/AFP

Em outro programa de TV, na CBS, Pompeo deixou aberta a possibilidade de uma ação militar americana na região, também sem discutir detalhes.

Pompeo afirmou que há outras evidências, além do vídeo divulgado semana passada, que corroborariam a afirmação de que o Irã foi o autor dos ataques. “A comunidade de inteligência tem muitas informações, muitas evidências. O mundo verá muitas delas.”

A Arábia Saudita se somou aos EUA e ao Reino Unido nas acusações contra o Irã e pediu que a comunidade internacional adote medidas para assegurar o suprimento de combustíveis pelo golfo.

O estreito de Hormuz é uma das principais rotas de fornecimento de petróleo da Arábia Saudita, o maior produtor mundial, e de outros produtores do golfo. 

Pompeo disse que os EUA estão discutindo uma possível resposta internacional e que conversaram com líderes de alguns países. 

Ele citou China, Japão, Coreia do Sul e Indonésia como países que dependem fortemente da liberdade de navegação pelos estreitos. “Tenho certeza de que quando eles virem os riscos, o risco para suas economias e seus povos, e o comportamento ultrajante da República Islâmica do Irã, eles irão se juntar a nós.” 

Congressistas republicanos conservadores pressionaram neste domingo a Casa Branca por uma resposta dura contra o Irã.

“Ataques não provocados contra a navegação comercial justificam um ataque militar retaliatório”, afirmou o senador Tom Cotton.

Steve Scalise, deputado republicano, afirmou que a Casa Branca está mantendo o Congresso informado. “Não queremos ver uma escalada para uma operação militar. Mas temos de confrontar o Irã.” 

Mas para o deputado democrata Adam Schiff, que presidente o Comitê de Inteligência da Câmara, os EUA podem ter dificuldades em convencer aliados, apesar de as evidências sobre o envolvimento do Irã nos ataques serem “convincentes”. 

“O problema é que estamos tendo dificuldades, mesmo com evidências sólidas, de persuadir nossos aliados a se unirem a nós em qualquer tipo de resposta, e isso mostra o quão isolados os EUA ficaram”, afirmou à rede CBS. 


ENTENDA O QUE ESTÁ EM JOGO

O que significam as explosões nos petroleiros?

Um aumento de tensões na região. Há uma “Guerra Fria” entre a Arábia Saudita, a maior exportadora de petróleo do mundo, apoiada pelos EUA, e o Irã, rival dos americanos há 40 anos e que luta pela supremacia da região com os sauditas.

Quando tudo começou?

Os primeiros ataques a petroleiros foram em 12 de maio, na costa dos Emirados Árabes.

Quem está por trás dos ataques de maio e de junho?

Nos dois casos, não se sabe. Os EUA e a Arábia Saudita culpam o Irã, que nega.

O que o Irã ganharia atacando petroleiros?

O Irã pode ter conduzido os ataques numa tentativa de alavancar seu poder de negociação e fazer aumentar a pressão global para o retorno de conversas com os EUA, com quem é rompido. Além disso, as explosões seriam uma demonstração de que o Irã é capaz de afetar o comércio mundial de petróleo. Contudo, não há confirmação de que os ataques partiram do Irã.

Qual o papel do Irã na região?

O Irã era o maior aliado americano no Golfo Pérsico até 1979. Depois da Revolução Islâmica daquele ano e da invasão da embaixada americana em Teerã, a relação dos países foi rompida e os EUA passaram a apoiar a Arábia Saudita, que se tornaria a maior potência regional nas décadas seguintes.

O Irã volta a ter influência com a eleição de Mahmoud Ahmadinejad, em 2005. Também aumentou seu poder político com a queda de Saddam Hussein. Em paralelo, o Irã detém certo controle do Estreito de Hormuz, por possuir mísseis supersônicos capazes de atingir navios comerciais (petroleiros) e militares. O petróleo é a principal fonte de renda do país.

E o papel da Arábia Saudita?

O país é forte aliado americano —a Arábia Saudita foi a primeira nação visitada por Trump depois de assumir como presidente. Trump apoia os sauditas contra a influência do Irã na região.

O que os EUA querem?

EUA querem estrangular a economia do Irã, impedindo que o país exporte petróleo. O suprimento seria fornecido por outros países, entre eles a Arábia Saudita (que tem petróleo de altíssima qualidade, melhor que o do Irã e um pouco mais caro) e os Emirados Árabes.

O que os EUA vêm fazendo para bloquear o Irã?

O país se retirou, em 2018, de um acordo nuclear assinado em 2015 com o Irã e outras potências. No final do ano passado, impôs sanções econômicas ao país. Em 2019, proibiu aliados de importarem petróleo iraniano

Como o Irã está sendo afetado?

Com as sanções impostas pelos EUA, as exportações caíram de 2,5 milhões de barris/dia em abril de 2018 para 400 mil barris/dia em maio de 2019.

Como o Irã responde?

O país ameaça fechar o Estreito de Hormuz. Para isso, tem mísseis supersônicos capazes de atingir navios comerciais (petroleiros) e militares. Também ameaça expandir o enriquecimento de urânio, usado em reatores nucleares, e de plutônio, utilizado em ogivas nucleares. 

Como os ataques influenciam o preço do petróleo?

Ataques a petroleiros fazem o preço da commodity subir. Antes das explosões do dia 13 de junho, o barril valia US$ 59,97; no dia dos ataques, fechou em US$ 61,31; um dia depois, era vendido a US$ 62,08. Um confronto na região afetaria o escoamento para países do Ocidente, fazendo o preço disparar.

Fontes: Reuters, NY Times e Gunther Rudzit (coordenador do Núcleo de Estudos em Negócios do Oriente Médio da ESPM e doutor em Ciência Política pela USP)

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