Líder de Hong Kong sinaliza arquivamento de projeto de lei de extradição

Carrie Lam afirma esperar governo 'difícil' após série de protestos e diz que não vai renunciar

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Hong Kong | Reuters

A chefe executiva de Hong Kong, Carrie Lam, sinalizou nesta terça (18) o possível fim do projeto de lei de extradição que já havia sido adiado indefinidamente devido aos grandes protestos realizados nas últimas semanas. Contudo, ela não retirou a proposta completamente.

Lam disse também que não renunciará ao cargo —uma demanda dos manifestantes— e que ainda tem trabalhos importantes a fazer nos três anos que lhe restam no governo. As declarações foram dadas em entrevista coletiva na sede do governo de Hong Kong.

Carrie Lam, líder de Hong Kong, fala durante entrevista para a imprensa na sede do governo do território - Anthony Wallace/AFP

​Lam se desculpou pela turbulência causada pela proposta de lei que, se aprovada, permitiria a Hong Kong enviar suspeitos para serem julgadas pelos tribunais da China continental, controlados pelo Partido Comunista.

Nas últimas semanas, milhares de manifestantes foram às ruas em três ocasiões para pedir a anulação do projeto, no que são considerados os maiores protestos desde que a ex-colônia britânica voltou ao domínio chinês, em 1997. 

A líder, que tem o aval de Pequim, também afirmou que o projeto não será reintroduzido durante seu mandato caso os temores do público persistirem. Ela já havia anunciado no sábado (15) o adiamento indefinido da apreciação do projeto pelo Parlamento.

"Como esse projeto de lei nos últimos meses causou tanta ansiedade, preocupação e diferenças de opinião, eu não vou, isso é uma tarefa, dar continuidade a este exercício legislativo caso esses medos e ansiedades não puderem ser adequadamente abordados", disse Lam aos repórteres.

Este foi o indicador mais forte de que o governo está arquivando a legislação proposta, mesmo que não atenda às exigências dos manifestantes de que desfaça o projeto completamente.

​​Lam reconheceu que seu mandato, daqui para a frente, será complicado. "Após este incidente, acho que o trabalho nos próximos três anos será muito difícil... Mas eu e minha equipe trabalharemos com afinco para reconstruir a confiança do público."

 
Ela também afirmou ter ouvido os manifestantes e que iria tentar reconquistar a confiança da população.

Mas organizadores dos protestos e democratas da oposição disseram que Lam permanece "surda" às demandas públicas. Eles exigem que ela declare categoricamente a retirada do projeto, renuncie e prometa não processar nenhum manifestante por acusações de tumulto.

"Carrie Lam continua a mentir", disse Jimmy Sham, da Frente Civil de Direitos Humanos. "Esperamos que o povo de Hong Kong possa se unir a nós, para continuarmos trabalhando duro para retirar a lei do mal." 

Para Alvin Yeung, legislador democrático, Lam falhou novamente em reduzir a temperatura política na cidade de sete milhões de habitantes.

O episódio é considerado o maior desafio para o dirigente chinês Xi Jinping, que governa o país com mão de ferro desde que assumiu o poder, em 2012. Críticos dizem que o projeto de lei minaria o poder judiciário independente de Hong Kong, garantido pela fórmula "um país, dois sistemas" sob o qual Hong Kong retornou à China desde que deixou de ser uma colônia do Reino Unido.

Lam assumiu o cargo há dois anos prometendo curar uma sociedade dividida. Alguns observadores dizem que é improvável que ela renuncie imediatamente, mas que suas ambições políticas de longo prazo estão prejudicadas.

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