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Financial Times Brexit

Para se tornar premiê, Boris Johnson só terá que derrotar a si mesmo

Em 1ª fase, ex-prefeito de Londres obteve quase 3 vezes mais votos que seu adversário mais próximo

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Robert Shrimsley
Financial Times

Boris Johnson está com um pé na soleira de Downing Street. Essa disputa ele já tinha ganho.

O que está claro agora é que ele terá que derrotar a si mesmo. Ninguém parece perto de alcançá-lo. E dada a sua popularidade indiscutível entre os membros do Partido Conservador, só uma pessoa corajosa apostaria que Johnson não será o próximo primeiro-ministro.

O ex-secretário de Relações Exteriores e primeiro colocado para chegar à liderança fez tudo o que precisava na primeira votação de parlamentares conservadores, obtendo quase três vezes mais votos que seu adversário mais próximo, Jeremy Hunt, atual secretário de Relações Exteriores.

Johnson já tem apoiadores suficientes para garantir um lugar na decisão final, cujos dois nomes seguirão para votação dos membros do partido.

Boris Johnson, favorito para se tornar o novo premiê britânuico, em evento de lançamento de campanha, em Londres
Boris Johnson, favorito para se tornar o novo premiê britânuico, em evento de lançamento de campanha, em Londres - Tolga Akmen - 12.jun.19/AFP

É provável que ele obtenha mais apoio quando sua posição for confirmada, e os defensores linha-dura do brexit, como Esther McVey, que foi eliminada, e, eventualmente, Dominic Raab, desistirem.

A estratégia de segurança de Johnson de voar baixo e oferecer poucas chances de problemas futuros está valendo a pena.

A batalha ainda está firme para o segundo lugar na cédula eleitoral final. Enquanto Johnson se afastou do bando, Hunt e Michael Gove, o secretário do Meio Ambiente, estão com seis votos de diferença do segundo para o terceiro lugares.

Hunt ficará desapontado. Seu argumento para ser o candidato realista do establishment o ajudou a obter apoio da maioria dos grandes nomes do gabinete, mesmo superando as divisões do partido, de "leavers" e "remainers".

Mas o resultado mostra que ele não se firmou como a alternativa indiscutível a Johnson. Hunt esperava que a campanha de Gove acabasse depois de confessar consumo de cocaína em sua vida pré-parlamentar. Mas Gove manteve seu apoio e continua na luta.

Os conservadores moderados agora enfrentam um verdadeiro dilema. Eles se unirão atrás de Hunt apesar dos receios de que ele ofereça pouco mais que Theresa May em termos de soluções para o quebra-cabeça do brexit?

Gove, como uma das figuras de proa na campanha para o referendo do brexit em 2016, tem maior credibilidade entre os que preferem a saída da União Europeia, e pode, portanto, tentar fazer do segundo turno contra Johnson um voto na competência e capacidade de entrega.

Ou eles tentarão reforçar Rory Stewart, cuja campanha enérgica e excêntrica lhe rendeu muitos admiradores?

​​Raab espera se manter competitivo conquistando os 20 votos que foram para Esther McVey e Andrea Leadsom, e alguns dos que foram para Mark Harper —os três concorrentes já fora da disputa por não conseguirem votos suficientes na primeira votação.

A linha dura pró-brexit vai querer dois candidatos prontos a defender um não acordo entre os finalistas, mas parece improvável que Raab consiga o impulso extra.

Os votos combinados dos outros candidatos deverão ser suficientes para impedi-lo de chegar à luta final contra Johnson.

Normalmente, seria de se esperar que os mais atrasados na disputa, aqueles com 20 votos ou menos, desistissem e se unissem em torno dos candidatos para segundo e terceiro lugares.

No entanto, muitos ficarão tentados a esperar o primeiro debate televisivo, no Channel 4, no domingo (16), no qual poderão ver tropeçar outros candidatos que pensam da mesma maneira.

Sajid Javid, o secretário do Interior, e Matt Hancock, secretário da Saúde, provavelmente estão muito atrasados para chegar até o fim, mas querem ter a chance de atacar Johnson na frente dos telespectadores.

Da mesma forma, Stewart, o secretário de Desenvolvimento Internacional, atualmente em último lugar entre os que continuam na disputa, mas que sente ter alguma força entre os deputados, vai querer impressionar no debate.

O debate na TV é agora um evento sem vantagem para Johnson. Se ele se recusar a participar, parecerá amedrontado, evocando imagens de Theresa May quando não foi aos debates na eleição geral de 2017 —as emissoras ameaçaram mostrar um púlpito vazio.

Se ele comparecer, será o alvo de todos. Mas se lidar bem com os ataques poderá ganhar com o espetáculo, retratando seus rivais como pigmeus tentando derrubar o gigante.

Johnson continua sendo um exímio debatedor e poderá se contentar em deixar seus rivais brigarem entre si, cada um tentando provar que é o melhor colocado para desafiá-lo na última rodada.

Agora será necessária uma enorme catástrofe para derrubar o líder. O ex-jogador Gary Lineker costumava brincar que futebol era um jogo simples em que "22 homens perseguem uma bola por 90 minutos e no final os alemães sempre vencem".

No momento, a corrida para ser o próximo primeiro-ministro parece igualmente predeterminada.

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves 

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