Evidências sugerem que o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohamed bin Salman, é um dos responsáveis pelo assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, informou nesta quarta-feira (19) a relatora especial das Nações Unidas para execuções extrajudiciais, Agnes Callamard.
"A investigação de direitos humanos mostrou que há evidências suficientes a respeito da responsabilidade do príncipe herdeiro", disse Callamard, que pediu ao secretário-geral da ONU, António Guterres, que abra uma investigação internacional sobre o caso.
Segundo ela, outros oficiais do alto escalão do governo saudita também estariam envolvidos no crime.
Callamard foi à Turquia no início deste ano com uma equipe de peritos e afirmou ter recebido provas das autoridades turcas. Ela ficou seis meses investigando o caso.
Khashoggi, jornalista saudita crítico do príncipe, foi visto pela última vez ao entrar no consulado de seu país em Istambul, no dia 2 de outubro de 2018.
Ele tinha ido ao local para cuidar da documentação de seu casamento com sua noiva, a turca Hatice Cengiz, mas nunca saiu de lá.
Quase três semanas mais tarde, a televisão estatal turca noticiou que Khashoggi havia sido morto em uma operação comandada por um oficial saudita. No final de novembro, o procurador-geral da Arábia Saudita confirmou que a morte do jornalista foi premeditada —ele teria recebido uma injeção letal.
À época, o procurador saudita disse que seu corpo havia sido esquartejado e retirado do consulado. Seu corpo nunca foi encontrado.
Em reação ao relatório, o vice-ministro saudita das Relações Exteriores, Adel al-Jubeir, chamou as acusações de "infundadas".
"Não tem nada de novo. O relatório repete o que já se disse e o que foi 'vendido' pelos meios de comunicação", publicou Al-Jubeir em uma rede social, acrescentando que "o relatório contém contradições e acusações infundadas, o que põe sua credibilidade em xeque".
Segundo a CIA, agência americana de inteligência, o crime foi ordenado pelo príncipe para calar o jornalista, crítico do regime.
Nascido em 1958, Jamal Khashoggi foi criado junto à elite do país, e por isso tinha acesso privilegiado à família real.
Mas, desde o início dos anos 2000, o jornalista passou a criticar governo saudita, incluindo opiniões sobre políticas religiosas do regime.
Khashoggi foi editor-chefe dos jornais sauditas Al Madina (década de 1990) e Al-Watan (início dos anos 2000). Mais tarde, colaborou com os canais de televisão BBC, Al Jazeera e Dubai TV. A partir de 2015, ele se autoexilou nos Estados Unidos, onde passou a escrever uma coluna para o jornal The Washington Post.
Neste ano, foi agraciado postumamente com o prêmio de liberdade de imprensa Golden Pen of Freedom.
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