Descrição de chapéu The New York Times

Vendedores de drogas na dark web resistem a operações policiais

Apesar de ações repressivas nos últimos 6 anos, ainda há cerca de 30 mercados ilegais na internet

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Nathaniel Popper
San Francisco | The New York Times

Autoridades dos Estados Unidos e da Europa realizaram recentemente uma ampla repressão aos mercados de drogas online, derrubando Wall Street Market e Valhalla, dois dos maiores negócios online de drogas na chamada dark web.

Mas o desejo de obter drogas no conforto de casa e o de ganhar dinheiro vendendo drogas parece, para muitas pessoas, ser mais forte que o medo de ser preso.

Apesar de ações repressivas nos últimos seis anos que levaram ao fechamento de meia dúzia de sites —incluindo os dois mais recentes—, ainda há perto de 30 mercados ilegais na internet, segundo o site de notícias e informações DarknetLive.

Lyn Ulbricht, mãe de Ross Ulbricht, condenado à prisão perpétua por participar da criação da Silk Road, mercado de drogas na dark web, durante entrevista coletiva em Nova York
Lyn Ulbricht, mãe de Ross Ulbricht, condenado à prisão perpétua por participar da criação da Silk Road, mercado de drogas na dark web, durante entrevista coletiva em Nova York - Sam Hodgson - 29.mai.15/The New York Times

Nesta semana, clientes ainda podiam obter cinco gramas de heroína —"de primeira qualidade, sem mistura"— por 0,021 bitcoin (aproximadamente R$ 655), ou um décimo de grama de cocaína crack por 0,0017 bitcoin (R$ 53) no mercado conhecido como Berlusconi.

Isso significa que a luta contra a venda de drogas online começa a se parecer com a guerra às drogas no mundo físico: há batidas, sites são fechados, algumas pessoas são presas. E depois de um tempo o negócio e os mercados reaparecem em outro lugar. 

"A instabilidade está meio embutida na experiência do mercado da dark web", disse Emily Wilson, especialista da firma de segurança Terbium Labs.

"As pessoas não ficam mais tão assustadas com isso como nas primeiras vezes."

Os mercados na dark web são considerados uma das fontes cruciais de fentanil e outros opioides. Essas drogas muitas vezes são produzidas na China e enviadas a usuários encontrados na dark web.

Os pacotes enviados a partir da China agravam a crise de opioides nos Estados Unidos. No Empire, um dos maiores mercados que ainda funcionam online, pode-se escolher entre mais de 26 mil drogas e substâncias químicas, incluindo mais de 2.000 opioides, enviados diretamente para caixas de correio.

As vendas de drogas ilícitas online cresceram em complexidade e volume desde o fechamento da Silk Road, o mercado original na dark web que entrou online em 2011 e inicialmente oferecia só uma seleção de cogumelos alucinógenos.

Quando as autoridades fecharam a Silk Road, em 2013, e prenderam seu criador, Ross Ulbricht, houve uma crença generalizada de que seu fracasso e punição conteriam os imitadores. 

Mas os traficantes que vendiam drogas no mercado migraram para sites concorrentes montados com infraestrutura parecida, usando o navegador da web Tor, que oculta a localização de sites e seus visitantes, e a moeda bitcoin, que basicamente permite fazer pagamentos anônimos.

Jeff Sessions, então procurador-geral dos EUA, em entrevista coletiva sobre repressão a mercados de droga online, em Washington
Jeff Sessions, então procurador-geral dos EUA, em entrevista coletiva sobre repressão a mercados de droga online, em Washington - Tom Brenner - 20.jul.17/The New York Times

Alguns anos depois, em 2017, quando a polícia derrubou dois dos maiores sucessores da Silk Road, AlphaBay e Hansa, havia cinco vezes mais tráfego na dark web quanto a Silk Road tinha no auge, segundo a firma Chainalysis, que analisa o tráfego de bitcoins.

O canadense que criou o AlphaBay, Alexandre Cazes, viveu em estilo opulento na Tailândia durante anos, com três propriedades e quatro carros Lamborghini, graças à pequena comissão que o AlphaBay recebia em cada transação, segundo promotores.

Cazes cometeu suicídio pouco depois de ser preso, segundo autoridades tailandesas.

Os governos dedicaram recursos cada vez mais substanciais a combater os mercados da dark web, especialmente quando seu papel na ascensão dos opioides sintéticos se tornou mais clara.

No início de 2018, o FBI criou a equipe de Repressão Conjunta à Rede Criminosa de Opioides, chamada de J-Code, com mais de uma dúzia de agentes especiais e funcionários. A Europol tem uma equipe própria dedicada à dark web. E autoridades de todo lugar ampliaram seu enfoque além dos administradores que supervisionam os mercados.

Nos primeiros meses de 2019, autoridades americanas conduziram uma operação chamada SaboTor, que se concentrou nos vendedores de drogas na dark web. Houve 61 prisões em poucas semanas.

Um grupo da área de Los Angeles seria responsável por enviar 1.500 pacotes por mês com crack, heroína e metanfetamina.

Richard Downing, que supervisiona a seção de crimes de tecnologia no Departamento de Justiça dos Estados Unidos, disse que ele e seus colegas se concentraram em técnicas que geram desconfiança nos sites, incentivando os usuários a acreditar que os vendedores e administradores dos sites já estão comprometidos e passam informações aos agentes da lei. 

Há alguns sinais de que essa tática limitou o crescimento dos mercados. Quando as autoridades derrubaram o Wall Street Market no início de maio, ele tinha 5.400 vendedores, apenas um sétimo do que tinha o AlphaBay quando foi fechado dois anos antes. 

Vários mercados também preferiram proibir a venda de fentanil, tornando-os menos interessantes para a polícia.

Berlusconi, um dos maiores mercados, anunciou que estava fazendo essa mudança no início de maio, pouco depois que o Wall Street Market foi fechado. 

Mas o impacto da atividade policial nos últimos dois anos pode ser temporário.

Dados da Chainalysis sugerem que, antes da última ação de repressão, as transações totais na dark web tinham se recuperado para quase 70% do pico anterior, pouco antes de o AlphaBay cair, e estavam crescendo mês a mês. 

Downing, o advogado do Departamento de Justiça, disse que por enquanto há um reconhecimento, mesmo entre as autoridades, de que os mercados da dark web se tornaram uma parte duradoura da economia criminosa. 

"Depois de alguns anos desse ciclo, seria difícil dizer que é provável que possamos eliminá-lo completamente", disse Downing.

"Espero que nossos esforços para disseminar a dissuasão e desconfiança tenham um impacto negativo na velocidade e na potência de seu retorno."

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves 

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