Descrição de chapéu The New York Times

Advogado pacifista se torna voz da moderação e herói da juventude de Hong Kong

Roy Kwong tenta convencer grande público de que demandas de manifestantes são legítimas

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Javier C. Hernández
Hong Kong | The New York Times

Enquanto manifestantes invadiam o Legislativo de Hong Kong nesta semana, um jovem político corria até as linhas de frente com um apelo desesperado.

O político, Roy Kwong, um legislador que tinha sido uma força propulsora dos protestos que varriam a cidade, tentava impedir que um pequeno grupo de manifestantes usassem um carrinho de metal para arrombar as portas do complexo legislativo.

"Estamos tentando proteger vocês", gritou Kwong, 36, em um megafone, pulando para cima e para baixo enquanto implorava aos manifestantes.

Não há líderes oficiais nos protestos de Hong Kong contra uma impopular proposta de lei de extradição que trouxe à tona profundas preocupações sobre o domínio de Pequim no território.

Mas Kwong, um antigo ativista que também é autor de romances, surgiu como uma voz moderada e um herói para a juventude da cidade, que o apelidou de "Deus Kwong".

Legislador Roy Kwong fala para manifestantes em Hong Kong - Tyrone Siu/Reuters

Após o ataque ao Legislativo, agora ele é uma figura chave no esforço para preservar um dos mais poderosos movimentos políticos de Hong Kong nos últimos anos.

Por um lado, Kwong tenta tranquilizar um núcleo de jovens manifestantes —cujo vandalismo no Legislativo salientou sua desilusão com os políticos como um todo— de que os apoia. Por outro, ele tenta convencer o grande público de que as demandas e as táticas dos manifestantes, mesmo em sua forma mais radical, são legítimas.

Para seus críticos, Kwong é um fanático que alimenta a desconfiança entre os jovens e o establishment político. Para seus fãs, é um estrategista ágil, sem medo de enfrentar Pequim e determinado a proteger aqueles que se manifestam.

"Esses estudantes são meus companheiros, meus irmãos, minha família", disse Kwong durante uma recente entrevista em seu escritório no Conselho Legislativo, onde, antes do cerco de segunda-feira, ele dormia para o caso de haver choques entre os manifestantes que acampavam ali e a polícia. "Não quero ver sangue."

Kwong disse que não se considera um líder dos protestos, que começaram no início de junho em oposição ao projeto de lei que permitiria que criminosos suspeitos em Hong Kong, um território semiautônomo, fossem extraditados para julgamento em tribunais na China continental.

Mas Kwong, que é um admirador declarado de Abraham Lincoln e que corre pela cidade de camiseta, jeans e tênis, assumiu o papel de pacificador, soldado e guardião em momentos críticos.

No mês passado, quando um homem ameaçou saltar do telhado de um shopping center em protesto, Kwong correu para a cena com um alto-falante para pedir que ele reconsiderasse. Quando os manifestantes discutiam invadir a sede da polícia em uma manifestação em meados de junho, ele pediu que evitassem riscos desnecessários e possivelmente fossem presos.

Na segunda-feira (1), quando um pequeno grupo de manifestantes atacou o Legislativo, minando semanas de protestos pacíficos, ele enfrentou um novo teste.

Junto com vários outros legisladores pró-democracia, Kwong tentou persuadir os manifestantes mascarados a se afastar, argumentando que suas ações teriam pouco impacto, já que o prédio estava praticamente vazio. Mas os manifestantes não recuaram, chamando os políticos de "inúteis" e reiniciando a destruição.

Centenas de milhares de pessoas marcharam pacificamente na segunda-feira (1º) em um protesto que pedia a retirada da lei de extradição e a renúncia da executiva-chefe do território, Carrie Lam, entre outras exigências. Mas o caos no Legislativo e as cenas de manifestantes pichando o plenário e desfigurando retratos oficiais chocaram a cidade e levantaram questões sobre a credibilidade do movimento.

Kwong parou de condenar a violência, dizendo que os manifestantes são motivados pelo amor por Hong Kong.

"A violência real está vindo do nosso governo", disse ele em uma entrevista na quarta-feira (3), entre reuniões com manifestantes.

Kwong e outros legisladores pró-democracia enfrentam agora o desafio de manter uma frente unida entre os manifestantes, à medida que aumentam as tensões com as autoridades municipais.

Victoria Hui, professora associada que estuda a política de Hong Kong na Universidade Notre Dame, em Indiana (EUA), disse que os legisladores foram "colocados no meio, e ninguém aprecia isso".

Mas Hui acrescentou que Kwong e outros poderiam se beneficiar do fato de que muitos manifestantes em Hong Kong foram simpáticos aos ativistas que invadiram o Legislativo, mesmo que discordassem de seus métodos.

Na assembleia, Kwong alinhou-se aos legisladores pró-democracia que apoiam eleições livres e se opõem à crescente influência de Pequim em Hong Kong.

No ano passado, enquanto os legisladores debatiam um plano para permitir que policiais chineses do continente operassem numa parte de uma nova estação ferroviária, Kwong permaneceu em sua mesa em protesto. Mais tarde ele foi removido da câmara.

As táticas espirituosas de Kwong o tornaram querido pela juventude de Hong Kong, que o vê como realista e destemido, e o cumprimenta com aplausos nas ruas. Manifestantes o elogiaram quando ele ajudou a encontrar médicos particulares para manifestantes feridos em confrontos com a polícia, pois muitos temiam ser presos se fossem aos hospitais administrados pelo governo.

Mas os críticos de Kwong dizem que ele está inflamando as tensões em Hong Kong, de modo irresponsável.

Leticia Lee, ativista que apoia o governo, disse que Kwong promove opiniões perigosas entre os jovens e que deveria simplesmente denunciar a destruição.

"Poderia ter havido um confronto violento", disse Lee sobre o ataque ao Legislativo. "Ele apenas disse aos jovens para se protegerem, mas não lhes disse para se acalmarem ou não fazerem aquilo."

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves 

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