Ativistas retomam resgate de migrantes no Mediterrâneo

Barco humanitário se dirige à região mesmo com ameaças contra ONGs e voluntários

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Anne Chaon
Paris | AFP

A ONG SOS Mediterranée, em colaboração com o Médicos Sem Fronteiras (MSF), voltou a socorrer migrantes no Mediterrâneo sete meses após a imobilização do navio Aquarius —e apesar da recusa de portos europeus em aceitar navios humanitários.

 

O Ocean Viking, com bandeira norueguesa, dirige-se desde 18 de julho "para liderar uma nova campanha de salvamento no Mediterrâneo central", a rota marítima migratória que causa mais mortes, segundo a ONG afirma em um comunicado.

"O navio irá patrulhar o Mediterrâneo central, de onde vem o maior número de pedidos de ajuda, mas sem nunca entrar nas águas territoriais líbias", informou Frédéric Penard, diretor de operações da SOS Mediterranée.

A embarcação Aquarius, retirada das operações de salvamento de migrantes, em uma foto de 26 de junho de 2018
A embarcação Aquarius, retirada das operações de salvamento de migrantes, em uma foto de 26 de junho de 2018 - Pau Barrena/AFP

A Líbia, que vive um conflito desde 2014, é um dos países que reforça o número de travessias feitas pelo Mediterrâneo.

"Os políticos querem que acreditemos que as mortes de centenas de pessoas no mar e o sofrimento dos milhares de refugiados encurralados na Líbia são o preço aceitável das tentativas de controlar a migração", afirma Sam Turner, coordenador-geral do MSF para a Líbia. 

 "Dizer que são as embarcações de salvamento que incitam as travessias é falso. Mesmo sem os navios, as saídas continuam", diz Penard, do SOS Mediterranée.

Pelo menos 426 pessoas morreram tentando atravessar o mar Mediterrâneo desde o início do ano, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) e a Organização Internacional para as Migrações (OIM).

O último naufrágio ao largo da costa da Tunísia causou 60 mortes.

Depois de quase três anos no mar, o Aquarius, navio da SOS Mediterranée que resgatou 30 mil migrantes, teve que cessar suas atividades em dezembro de 2018, por ter sido privado de sua bandeira de Gibraltar e, mais tarde, do Panamá.

A alemã Carola Rackete, presa após o navio Sea Watch atracar na Itália
A alemã Carola Rackete, presa após o navio Sea Watch atracar na Itália - Andreas Solaro/AFP

O Ocean Viking, de 69 metros de comprimento, foi construído em 1986 para assistência a plataformas de petróleo. Mais de 30 pessoas estão a bordo, mas sua capacidade de recepção não foi especificada. Cada dia no mar custa 14 mil euros, segundo a ONG, que pede doações.

A nova campanha começará quase um mês após a detenção, na Sicília, do Sea Watch 3, barco fretado pela ONG alemã Sea Watch, e de sua capitã, Carola Rackete —um claro aviso das autoridades italianas de sua postura linha-dura em relação às embarcações humanitárias.

Rackete representa um dos muitos casos de ativistas e ONGs que atuam no resgate a migrantes e que estão sendo investigados ou processados sob acusações como tráfico humano.

Segundo a Plataforma Social de Pesquisa em Migração e Asilo (Resoma), 158 pessoas foram investigadas ou processadas por esse motivo entre 2015 e 2019 em 11 países europeus.

As ONGs começaram a resgatar pessoas quando os países europeus pararam de conduzir ações de busca ativa de migrantes em perigo no mar.

A Europa realiza nesta segunda (22) uma reunião com ministros do Interior e das Relações Exteriores de 15 países com a intenção de procurar uma saída para a questão. ​

 
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