Chanceler fará contraponto às resistências a Eduardo Bolsonaro

Aliados de Araújo dizem ser possível aparar arestas com democratas no Congresso

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São Paulo

As prováveis resistências que Eduardo Bolsonaro sofrerá se assumir a Embaixada do Brasil em Washington, oriundas de políticos do oposicionista Partido Democrata, serão enfrentadas diretamente pelo chanceler Ernesto Araújo.

 

Na costura para a indicação do filho político mais novo do presidente Jair Bolsonaro (PSL) para o cargo mais importante da carreira diplomática no exterior, as críticas foram colocadas na balança com o grande ativo do deputado que acaba de completar 35 anos.

Pesou mais o acesso de Eduardo à Casa Branca. Ele já foi elogiado publicamente por Donald Trump e tem relação pessoal com o influente genro do presidente, Jared Kushner. Como diz um diplomata que acompanhou a discussão, Eduardo seria o embaixador mais próximo do núcleo do poder americano da história.

Eduardo Bolsonaro com o chanceler Ernesto Araújo durante audiência em junho
Eduardo Bolsonaro com o chanceler Ernesto Araújo durante audiência em junho - Arthur Max - 5.jun.2019/Ministério das Relações Exteriores/Divulgação

De resto, Trump está em excelentes condições políticas para disputar a reeleição no ano que vem. A economia americana vai bem, e o campo democrata está dividido, sem nenhum candidato forte à vista ainda. É uma aposta relativamente segura dizer que o presidente é hoje favorito a reter a cadeira.

O óbice óbvio vem do Congresso, em especial da Câmara dominada pelos democratas. Praticamente não há iniciativa que interesse ao Brasil que não tenha de passar pelos congressistas, e a antipatia ao Brasil de Bolsonaro ficou patente quando o prefeito democrata de Nova York rejeitou sua presença para receber um prêmio na cidade.

Não ajuda em nada o fato de Eduardo nutrir admiração recíproca por Steve Bannon, o ideólogo da direita nacionalista que foi conselheiro da campanha de Trump e trabalhou na Casa Branca até brigar com o chefe, ainda no começo do mandato do presidente, em 2017.

Eduardo é representante no Brasil do embrião de "internacional nacionalista" proposta por Bannon para unir regimes de direita em todo o mundo e teve sua indicação para Washington elogiada pelo ideólogo.

Aliados de Araújo dizem que isso poderá ser superado com o trabalho direto do chanceler, que já teve conversas consideras muito boas com deputados e senadores democratas e republicanos na condição de chanceler.

Além disso, Araújo serviu na embaixada em Washington como vice-chefe da missão, conhecendo assim os códigos do Capitólio.

Para os críticos da escolha dentro do Itamaraty, uma silenciosa maioria, há duas considerações a fazer sobre essa visão. Primeiro, que o alinhamento prometido pelo próprio Bolsonaro aos EUA de Trump poderá naturalmente trazer frutos, mas também arrisca o interesse nacional a depender das condições vinculantes que a Casa Branca colocar na mesa.

Segundo, a inexperiência de Eduardo poderá reforçar essa ideia de subserviência no exterior. Sua frase lembrando que "fritou hambúrguer" nos EUA, como prova de seu conhecimento do país, foi uma blague mal colocada, para usar o eufemismo típico das relações diplomáticas.

Como diz um embaixador, ele poderia apenas dizer que preside a Comissão de Defesa e Relações Exteriores da Câmara.

Mais: se realmente o chanceler for seu anteparo, ficará configurada de forma explícita demais a submissão de Araújo a seu fiador no governo.

Araújo teve seu nome indicado por Olavo de Carvalho e chancelado por Eduardo. O escritor radicado nos EUA é o ideólogo dos filhos de Bolsonaro, de Araújo e de Filipe Martins, assessor internacional do presidente. No grupo, a posição do deputado Eduardo (PSL-SP) sempre foi prevalente.

Embora se elogiem constantemente, há ciúmes na relação. É notório o episódio em que Araújo queixou-se do protagonismo de Eduardo na visita do pai a Trump, em março, e irrita a ambos o apelido de "chanceler sombra" que o deputado recebeu no Itamaraty.

A ala, autodenominada antiestablishment, colheu várias vitórias sobre seus rivais militares no governo, mas assessores palacianos sugerem que o grupo deva se abster de loas públicas ao homem que chamam de "o professor" para evitar mais turbulências.

Os militares com assento no governo estão ressabiados. Temem que uma aproximação excessiva com os EUA acabe por gerar problemas registrados no começo do governo, como o anúncio depois desmentido de uma base militar americana no Brasil e uma condução voluntariosa da crise na Venezuela.

Até aqui, eles seguraram os impulsos da turma olavista no que consideram suas áreas, mas isso parece cada vez mais incerto.

Assim como não está mensurada a oposição que a indicação de Eduardo possa vir a ter no Senado dominado pelo DEM, partido que está agastado com a desidratação promovida pelo PSL de Bolsonaro na reforma da Previdência, cuja aprovação do texto-base é considerada obra de seu principal expoente, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ).

 
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