Fotógrafo registra mãe com filho implorando a soldado para deixá-los entrar nos EUA

Menino, de seis anos, encara militar de forma desafiadora enquanto sua mãe chora

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Cidade do México | Reuters

Ledy Perez caiu de joelhos e tinha o punho fechado sobre seu rosto enquanto chorava e abraçava seu fillho de seis anos de idade, que encarava o soldado da Guarda Nacional do México que os impedia de cruzar a fronteira americana.

A fuga dessa mãe e de seu filho, que viajaram mais de 2.400 km da Guatemala até Ciudad Juarez, foi interrompida a poucos passos dos Estados Unidos —o fotógrafo da agência Reuters Jose Luis Gonzalez registrou o momento em que eles foram parados por um soldado, durante o final da tarde da segunda-feira (22).

"A mulher implorava e suplicava ao guarda nacional para deixá-los cruzar a fronteira... Ela queria dar um futuro melhor ao seu filho", disse Gonzalez. O soldado, que não revelou seu nome, disse que estava apenas cumprindo ordens, conta o fotógrafo. 

Uma das imagens da cena publicadas pela Reuters viralizou em redes sociais e lançou luz sobre o papel da Guarda Nacional mexicana na contenção de migrantes, vindos principalmente da América Central.

O presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador (conhecido como AMLO), criou a entidade militar para reduzir os altos índices de homicídios do país, mas quase um terço dos soldados estão atualmente designados a patrulhar a fronteira —uma demanda do presidente americano, Donald Trump, que espera conter o fluxo de migrantes que entram ilegalmente nos Estados Unidos. 

Gonzalez afirma que se deparou com a cena enquanto fazia sua rota diária ao longo das margens do rio Grande, que separa Ciudad Juarez de El Paso, no Texas. Os soldados interceptaram meia dúzia de pessoas, incluindo a mãe e o menino, em uma estrada de terra próxima, conta. 

Em junho, AMLO afirmou que os militares não estavam autorizados a deter migrantes que estivessem cruzando a fronteira com os EUA. Ele tem afirmado, em diversas ocasiões, que o combate à migração na região não deve violar direitos.

Jesus Ramirez, porta-voz do presidente mexicano, disse que a imagem era uma demonstração da Guarda Nacional fazendo o seu trabalho de garantir a segurança pública. Ele afirmou que o soldado não impediu Perez de cruzar a fronteira, mas alertou a guatemalteca dos perigos envolvidos. 

No início de junho, uma foto de pai e filha afogados no rio Grande gerou comoção internacional. Os salvadorenhos Óscar Alberto Martínez, 25, e Angie Valeria, 2, morreram quando tentavam chegar aos EUA para pedir asilo. A mulher de Óscar, Tania Vanessa Ávalos, 21, se salvou. 

"[A imagem] de seu rosto é um pequeno reflexo do sofrimento de todos os migrantes", disse o fotógrafo. "Muitas pessoas julgam os migrantes, perguntam-se por que eles não ficam nos países deles, por que eles vêm para cá ou por que estão atravessando para os EUA... Todo migrante tem uma história."

Travessia para os EUA

Aproveitando um momento de distração do soldado, que olhou em outra direção, Perez correu para os arbustos que crescem na margem do rio, puxando seu filho consigo. Os dois atravessaram a água, deixando a jurisdição mexicana e entrando nos EUA —onde agentes da Patrulha de Fronteira americana os detiveram. 

Um porta-voz da corporação americana afirmou não ter os recursos necessários para rastrear o paradeiro dos guatemaltecos com base nos detalhes fornecidos pela reportagem. 

Por regra, mãe e filho normalmente seriam registrados em uma delegacia da Patrulha de Fronteira e depois entregues a agentes da imigração americana.

Eles também podem ter sido incluídos em um programa que retorna migrantes ao México enquanto eles aguardam audiências na Justiça dos EUA, afirmou o porta-voz. 

O soldado não demonstrou agressividade durante o encontro de nove minutos com Perez e seu filho —no entanto, a dinâmica de poder que as imagens revelam serviu de combustível aos críticos do tratamento que migrantes vêm recebendo no México.

O ex-presidente mexicano Felipe Calderón publicou a foto em uma rede social e escreveu: "Que pena, o México jamais deveria ter aceitado isso".

A Guarda Nacional e o gabinete de López Obrador não responderam às perguntas da reportagem. 

Segundo dados dos Estados Unidos, as detenções de migrantes por autoridades americanas na fronteira com o México caíram 28% em junho em relação ao mês anterior, após os dois países endurecerem os controles. É a primeira redução neste ano.

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