Descrição de chapéu Venezuela

Governo uruguaio se distancia de declarações de Mujica sobre Venezuela

Para vice-chanceler, 'não corresponde aos Estados definir a natureza do governo de outro Estado'

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Montevidéu | AFP

O governo uruguaio de Tabaré Vázquez, por meio de sua chancelaria, tomou distância nesta terça (30) das afirmações de líderes da coalizão Frente Ampla, que classificaram o regime na Venezuela como uma ditadura.

"Não corresponde aos Estados definir a natureza do governo de outro Estado", disse enfaticamente o vice-chanceler Ariel Bergamino à rádio Carve.

Faltando três meses para a realização das eleições presidenciais, o posicionamento sobre a Venezuela se tornou tema de discórdia dentro da coalizão de forças de esquerda em que estão, entre outros, socialistas, comunistas, social-democratas e ex-guerrilheiros tupamaros.

O ex-presidente uruguaii José Mujica durante entrevista em Veneza, na Itália
O ex-presidente uruguaii José Mujica durante entrevista em Veneza, na Itália - Tony Gentile - 3.set.18/Reuters

Daniel Martínez, ex-prefeito de Montevidéu que lidera as pesquisas com 30% das intenções de votos, corroborou a afirmação do ministro da Economia, Danilo Astori —fundador e uma das figuras principais da Frente Ampla—, em que qualificou o governo venezuelano de "ditadura".

"Sim, companheiro Danilo, para a esquerda o tema dos direitos humanos deve ser sempre um imperativo ético. O relatório da [Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos Michelle] Bachelet é lapidar a respeito da Venezuela, trata-se de uma ditadura. É preciso seguir trabalhando em uma saída negociada, e que o foco sejam os venezuelanos", afirmou Martínez.

No sábado (27), o ex-presidente uruguaio José "Pepe" Mujica (2010-2015), cujo grupo político, MPP (Movimento de Participação Popular), é próximo ao chavismo, também definiu a Venezuela como uma ditadura.

"Sim, é uma ditadura. Na situação em que está, não há nada além de uma ditadura. Mas há ditadura na Arábia Saudita com um rei absoluto, na Malásia, onde matam 25 por dia. E na República Popular da China?", disse Mujica.

As afirmações dos dirigentes históricos geraram reações dentro da coalizão que governa o Uruguai desde 2005, em particular do Partido Comunista, que apoia explicitamente o regime de Maduro.

"Catalogar significa agregar mais um elemento a um problema já suficientemente grave", disse o vice-chanceler Bergamino, para quem o Uruguai trabalha para "promover as condições favoráveis para um diálogo". Ele também reiterou que os próprios venezuelanos devem resolver sua "crise aguda".

As diferenças internas na Frente Ampla sobre a Venezuela provocaram rusgas que se acentuaram quando o Uruguai decidiu apoiar, em 2017, a suspensão de Caracas do Mercosul, cujo ingresso teve apoio do governo de Mujica junto a Cristina Kirchner, na Argentina, e Dilma Rousseff, no Brasil, durante o período em que o Paraguai estava suspenso do bloco econômico.

A suspensão se deve à aplicação do Protocolo de Ushuaia, que considera que qualquer sócio do Mercosul deve ter vigência plena de suas instituições democráticas. Desde então, o bloco considerou existir uma "ruptura da ordem democrática" na Venezuela.

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