Irã confirma violação de acordo nuclear e aumenta tensão com EUA

Teerã anuncia enriquecimento de urânio acima do nível permitido e ameaça romper outros compromissos

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Teerã | AFP

O Irã anunciou que começou, neste domingo (7), a aumentar seu enriquecimento de urânio acima do nível de 3,67%, violando o acordo nuclear estabelecido com a comunidade internacional em 2015.

Autoridades do país já haviam afirmado na quarta (3) a intenção de enriquecer o material nuclear acima do limite imposto pelo acordo, com objetivo de fomentar, segundo Teerã, “atividades pacíficas”. 

iranianos em coletiva
Abbas Araqchi, do Ministério de Relações Exteriores iraniano, e os porta-vozes Behrouz Kamalvandi, da Organização de Energia Atômica Iraniana, e Ali Rabiei, do governo do país, em coletiva de imprensa neste domingo (7) - Tasnim News Agency/Reuters

Esse movimento é considerado perigoso porque recoloca o Irã no caminho para construir armas nucleares. Uma bomba utiliza urânio com enriquecimento acima de 90%. 

Teerã ameaçou ainda reavaliar, a cada 60 dias, o abandono de outras obrigações do pacto nuclear, a menos que suas demandas sejam atendidas. 

Horas depois do anúncio, o presidente dos EUA, Donald Trump, disse que ao Irã que "é melhor o país ser cuidadoso" e que o país nunca terã uma bomba nuclear. O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, ameaçou o Irã com mais sanções e isolamento.

A França pediu que o Irã volte a cumprir os termos do acordo e disse "estar em contato com seus parceiros para se engajar na necessária redução das tensões", segundo seu Ministério das Relações Exteriores.

Os governos de Reino Unido e Alemanha também exortaram o Irã a reverter seus planos.

Binyamin Netanyahu, premiê de Israel e opositor histórico do programa nuclear do país islâmico, afirmou neste domingo que o novo posicionamento do Irã é “um passo muito perigoso”. Ele fez um chamado a países da Europa para reforçarem sanções contra Teerã.

O novo posicionamento do país comandado pelo presidente Hassan Rouhani é uma reação à retirada dos Estados Unidos do pacto nuclear, em maio do ano passado, sob liderança do presidente Donald Trump.

Em 2015, depois de longa negociação com o governo Barack Obama, o Irã se comprometeu a não desenvolver armas atômicas e a limitar seu programa nuclear em troca de uma suspensão parcial das sanções internacionais que asfixiavam sua economia. O país também pôde ter acesso a US$ 100 bilhões que estavam congelados.

Com a retirada unilateral dos Estados Unidos do acordo, em maio de 2018, os americanos reestabeleceram sanções que privaram o país dos benefícios trazidos pelo pacto.

Na quarta (3), o presidente Rouhani advertiu que o Irã poderia também retomar o projeto do reator de água pesada em Arak, que seria capaz de produzir plutônio, a menos que “vocês [os outros países do acordo] mantenham todos os seus compromissos”.

Dirigindo-se aos demais Estados que ainda fazem parte do acordo nuclear (Alemanha, China, França, Reino Unido e Rússia), Rouhani declarou: “Nós continuaremos a respeitar [o acordo de Viena] desde que as partes o respeitem. Aplicaremos 100% [do acordo] no dia em que as demais partes fizerem 100%”, acrescentou. 

De acordo com ele, o Irã aplica 98% do acordo, enquanto os outros países não cumprem nem 10% do combinado.

 

Nas últimas semanas, o Irã já vinha acenando com a intenção de romper com o acordo, para pressionar potências ocidentais. Em 1º/7, Teerã anunciou que o Irã havia superado o limite de 300 kg de urânio pouco enriquecido estabelecido pelo pacto de 2015.

O objetivo é, principalmente, convencer países europeus a compensarem as sanções dos Estados Unidos ou provocarem uma rediscussão do acordo num contexto em que nações daquele continente estão mais distanciadas de Trump.

Teerã está em meio a fortes tensões com Washington nas últimas semanas. A crise entre os dois países teve um pico em 20 de junho, depois que o Irã abateu um drone americano, que teria violado o espaço aéreo do país. Para Washington, o veículo não tripulado estava sobrevoando espaço aéreo internacional.

Idas e vindas do acordo

jul. 2015
Irã assina acordo com seis países, no qual se compromete a limitar seu programa nuclear em troca da suspensão de sanções econômicas

jan. 2016
Acordo entra em vigor e Irã tem acesso a US$ 100 bilhões que estavam congelados. Acerto tem prazo até 2031

mai. 2018
Trump retira EUA do acordo e volta a impor sanções ao Irã

mai.2019
Irã anuncia que deixaria de seguir dois limites fixados no acordo: as reservas de água pesada e de urânio pouco enriquecido

20.jun.2019
Irã derruba drone dos EUA, sob argumento de que aeronave teria invadido espaço aéreo do país, o que Washington nega

21.jun.2019
Trump diz que tinha autorizado ataque miltar ao Irã, mas que recuou no último instante. Também disse ter imposto novas sanções ao país

1.jul.2019
Teerã anuncia que superou limite de 300 kg de reservas de urânio enriquecido

4.jul.2019
Marinha britânica intercepta petroleiro iraniano que estaria indo para a Síria, por violar sanções contra Damasco

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