Kremlin confirma que submarino que sofreu incêndio era nuclear

Lentidão na confirmação de informações sobre aparelho lembra episódio do Kursk

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São Paulo

Após três dias de silêncio oficial, o Kremlin confirmou que o submarino atingido por um incêndio na segunda (1º) era de propulsão nuclear. O Ministério da Defesa disse que o acidente, que matou 14 homens no Ártico russo, não atingiu o reator do barco e que não há risco de contaminação radioativa.

Marinheiros acendem velas em homenagem aos mortos no acidente, na Catedral Naval de Kronstadt, cidade russa
Marinheiros em homenagem aos mortos no acidente, na Catedral Naval de Kronstadt (Rússia) - Anton Vaganov/Reuters

Até então, o governo só confirmava o acidente e o número de vítimas, sem detalhes. O presidente Vladimir Putin vinha recebendo grande pressão doméstica por mais informações acerca do acidente, que remete à primeira crise que teve de enfrentar no cargo.

Em agosto de 2000, uma explosão afundou o submarino Kursk, matando seus 118 tripulantes, e o mandatário então em seus primeiros meses de governo foi fortemente criticado por não interromper suas férias para acompanhar o resgate e pela divulgação parcial de informações sobre o que havia ocorrido.

O Kursk era um submarino de ataque movido a energia nuclear gigantesco, com 154 metros de comprimento. Já o aparelho acidentado na segunda está envolto de mistério, embora haja consenso entre analistas de que se trata de um aparelho menor, o AS-31, que tem cerca de 70 metros.

O que importa aqui é a função. Apelidado de Losharik, em homenagem a um cavalinho com bolas no couro de um antigo desenho soviético por ter compartimentos estanques esféricos resistentes a altas pressões, o AS-31 opera a grandes profundidades —usualmente 1.000 metros, mas já esteve a 2.500 metros abaixo do nível do mar, enquanto barcos como o Kursk navegam submersos em média a 300 metros.

Especializado em análise e ações no fundo do mar e derivado de uma versão chamada AS-21, o AS-31 tem equipamentos que o definem como um submarino espião. Pode analisar e danificar cabos de comunicação enterrados, composição mineral do subsolo e instalar sensores.

Chama a atenção também a lista de marinheiros mortos, composta por militares de alta patente —o que sugere uma missão de grande importância ocorrendo no mar de Barents, perto da sede da Frota Setentrional da Marinha Russa. Dos 14, 7 eram capitães de primeira classe, 3 capitães de segunda classe e 3 de terceira classe. Dois deles tinham a condecoração máxima do país, a de Herói da Rússia.

Oficialmente, o governo russo disse de forma vaga que a tripulação estava fazendo uma "pesquisa de solo marinho".

O AS-31 tem um reator nuclear. Segundo informou a Putin o ministro da Defesa, Serguei Shoigu, ele não foi atingido pelo incêndio, que começou no compartimento de baterias do barco. O que matou os marinheiros foi a fumaça tóxica, não o fogo em si, segundo o relato oficial.

Segundo o governo norueguês, não houve sinais de aumento da radioatividade na região nos últimos dias. Em 1986, a então União Soviética só começou a revelar ao mundo o tamanho do desastre ocorrido com a explosão da usina nuclear de Tchernóbil depois que a Suécia registrou grande contaminação radioativa.

"Todas as medidas foram tomadas", afirmou Putin, segundo o Kremlin divulgou nesta quinta (4), sem informar contudo quando a reunião entre o presidente e Shoigu havia ocorrido. Putin está na Itália.

A investigação do caso vai ocorrer em sigilo, afirmou o Kremlin. Isso deverá alimentar o moinho dos rumores acerca da natureza da missão e até fomentar teorias conspiratórias que já chegaram a blogs militares, que envolvem até um suposto embate entre submarinos de Moscou e de Washington.

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