Mesquita progressista de Paris terá protagonismo feminino

Por razão de segurança, idealizadoras não divulgam o endereço e evitam sessões de fotos

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Paris

Um lugar de culto em que homens e mulheres muçulmanos circulem livremente —sem áreas delimitadas para uns e outras—, no qual o comando da reza se reveze entre vozes femininas e masculinas e em que o véu seja opcional.

Eis os contornos da mesquita "espiritual e progressista" que Eva Janadin e Anne-Sophie Monsinay, ambas na faixa dos 30 anos, preparam-se para abrir em Paris em setembro.

Detalhe de fachada da Grande Mesquita de Paris - Joel Saget - 17.jun.2015/AFP

Por razão de segurança, elas não divulgam o endereço e evitam sessões de fotos. Mas Janadin conversou por telefone sobre o projeto e a configuração atual do islã na França.

"Há uma perda do sentido espiritual da religião hoje. Cumprimos certos ritos sem pensar naquilo a que correspondem", diz. "Outro problema é o dogmatismo de correntes como o xiismo e o sunismo, que creem ser os porta-vozes do verdadeiro islã, eliminando a pluralidade teológica."

Para Janadin, é preciso mostrar o leque de interpretações possíveis do Corão e "lutar contra o obscurantismo, seja ele expresso sob a forma de violência, seja sob a de superstição".

"Devemos mudar a maneira de conceber a religião, que não deve reger as esferas social e política", afirma a coautora do projeto, que se converteu ao islã há cerca de dez anos. "A crença é um caminho iniciático íntimo, não precisa ter essa dimensão identitária, de exibição à sociedade."

O progressismo que as criadoras desejam imprimir à iniciativa se relaciona, segundo Janadin, à própria origem do Corão, "que estabeleceu normas revolucionárias para a época [de sua primeira difusão, no século 7], como a possibilidade de as mulheres terem direito a herança".

As líderes do empreendimento, que também farão as vezes de imãs (sacerdotes), preferem não falar em mesquita feminista. "Não queremos ser reduzidas a isso. Buscamos algo mais amplo, uma refundação do pensamento religioso."

Os cálculos são imprecisos, mas estima-se que haja mais de 4 milhões de muçulmanos na França, o maior contingente na Europa para um país não majoritariamente islâmico. Mas não se sabe que parcela desse grupo é de fato praticante.

 

As mesquitas declaradas em território francês são cerca de 2.000. Mas a Simorgh (nome de um pássaro da mitologia persa associado à consciência) será a primeira com essas características. "Precisamos melhorar a imagem do islã e dos muçulmanos, mostrar que não são um bloco monolítico de violência e radicalismo", afirma Janadin.

Projetos semelhantes já existem em Berlim, Copenhague e nos EUA. O "caçula" francês vai dar os primeiros passos em dimensão ainda reduzida: o culto ocorrerá uma vez por mês, em sala alugada. A ideia é avaliar a demanda (e levantar recursos) antes de partir para uma sede definitiva.

"Vivemos em um país em que os espaços são mistos, sejam transportes, escolas ou piscinas. Mesquitas que separam homens e mulheres criam uma defasagem em relação à realidade profana do entorno", conclui.

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