Líder da Igreja Católica em Cuba e responsável pela mediação da reaproximação entre a ilha e os Estados Unidos durante o governo Barack Obama, Jaime Ortega morreu nesta sexta (26), aos 82 anos.
Secretário pessoal do cardeal, Nelson Crespo disse que Ortega faleceu após uma longa batalha contra o câncer.
Ex-prisioneiro de um campo de trabalho nos anos 1960, quando o governo revolucionário de Fidel Castro cercava figuras religiosas e outros inimigos ideológicos, Ortega se tornou arcebispo de Havana em 1981, numa época em que Cuba ainda era oficialmente ateia.
Nas três décadas seguintes, quando a posição de Fidel em relação a Igreja Católica Romana abrandou, Ortega ganhou destaque e poder, construindo uma relação de trabalho com o governo graças em parte ao seu estilo de não entrar em confronto.
Ortega recebeu três papas e negociou a libertação de dezenas de presos políticos em 2010 e 2011.
O clérigo se tornou uma das principais figuras políticas de Cuba, particularmente depois que a ilha reformou sua Constituição em 1992, mudando o Estado de ateu para laico e garantindo a liberdade de religião. Quando Raúl Castro se tornou dirigente em 2010, Ortega apoiou suas tentativas de abrir o país e restaurar as relações com as nações ocidentais.
Em um momento crítico em que ocorriam conversas secretas entre Cuba e os Estados Unidos, que levariam a uma retomada das relações entre os lados em dezembro de 2014, foi Ortega quem transmitiu mensagens entre o papa Francisco, Castro e Obama.
Alguns críticos o acusaram de ter abandonado as vítimas da opressão, tornando-se muito próximo ao governo, em busca poder. Pouco antes de se aposentar, em 2016, ele disse que não havia prisioneiros políticos em Cuba, embora a principal organização dissidente de direitos humanos do país tenha argumentado que havia 60, incluindo duas dúzias de pessoas detidas por conduzirem protestos pacíficos.
Ortega também se recusou a apoiar o grupo de oposição Damas de Branco, movimento fundado em 2003 por mulheres e parentes de presos políticos.
Autoridades da igreja argumentaram que o trabalho de Ortega era defender a liberdade religiosa e o bem-estar de todos os cubanos, não promover qualquer agenda político-partidária.
Ortega estudou teologia em Quebec e tornou-se pároco em meados da década de 1960 em sua cidade natal, Jagüey Grande, na província de Matanzas, cuidando também das paróquias vizinhas devido à escassez de padres.
Foi nomeado bispo de Pinar del Rio pelo papa João Paulo 2º em 1978 e arcebispo de Havana três anos depois. O papa nomeou-o cardeal em 1994.
O arcebispo de Havana, Juan Garcia Rodriguez, lamentou a morte do cardeal.
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