“O fato de Mujica ter declarado que a Venezuela é uma ditadura é um prego a mais no caixão do regime”, disse o líder opositor Juan Guaidó à Folha nesta segunda-feira (29), por telefone, de Caracas.
No sábado (27), durante encontro de militantes do MPP (Movimento de Participação Popular), que integra a Frente Ampla, partido de esquerda que governa o país há três mandatos, o ex-presidente uruguaio afirmou que o regime do ditador Nicolás Maduro é uma ditadura e que cabe apenas aos venezuelanos resolver a crise que atinge o país.
Ao fazer um breve balanço dos últimos seis meses desde que se declarou presidente interino da Venezuela, Guaidó disse que “o principal deste período é o apoio internacional que a cada dia vai ganhando mais personagens políticos importantes".
"Mujica é um deles. Outro dos avanços foi o relatório da ONU realizado por Michelle Bachelet, que demonstrou como são reais os abusos em direitos humanos na Venezuela.” Mais de 50 países países, incluindo EUA e Brasil, reconhecem o opositor como o líder legítimo do país.
Como ponto negativo, o líder opositor disse que, “obviamente, é o fato de não termos conseguido tirar Maduro, mas estamos avançando como nunca antes a oposição pôde avançar”.
Guaidó também destacou o fracasso do Foro de São Paulo, sediado neste ano em Caracas, ao qual, segundo ele, “não veio quase ninguém".
"Díaz-Canel veio às pressas para que Maduro não parecesse tão sozinho na foto”, disse, referindo-se ao dirigente da ditadura cubana.
Questionado sobre o possível adiantamento das eleições legislativas para dezembro, como sugeriu Diosdado Cabello, número dois do regime chavista, Guaidó disse que “seria outra forma de burlar a democracia, algo que seria inaceitável do ponto de vista internacional”.
Admitiu, porém, que não haveria outra opção que seguir militando nas ruas e pedindo ajuda a governos internacionais.
Guaidó voltou a mostrar pouca esperança de que diálogos como os realizados em Barbados, mediados pela Noruega, fossem adiante.
“Temos o exemplo de várias negociações assim que faliram”, disse. “Se aparecerem com uma solução, ótimo, mas não tenho como não ser cético devido ao histórico das tentativas na República Dominicana. E não vamos abrir mão de eleições livres e justas e do fim da usurpação, seguido da reforma do CNE [Conselho Nacional Eleitoral]."
Guaidó se mostrou preocupado, também, com os presos recentes de seu entorno, como o vice da Assembleia Nacional e de seus guarda-costas.
“Temos relatos de torturas e de abusos de direitos humanos, além de não termos ideia de quando [os presos políticos] serão julgados ou liberados, o que nos causa muita apreensão, mas não vamos voltar atrás.”
O líder opositor ainda contou que sua família sofre ameaças, mas que todos estão comprometidos com o futuro do país. “Tenho que pensar também em que país quero que minha filha cresça. E não é esse.”
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