Descrição de chapéu The New York Times

O que se sabe sobre o caso do bilionário acusado de tráfico sexual de menores?

Jeffrey Epstein já estava envolvido em episódios de pedofilia há mais de uma década

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Nova York | The New York Times

Quando o empresário bilionário e criminoso Jeffrey Epstein foi detido no começo de julho, acusado de tráfico sexual, ele já vinha sendo acusado de pedofilia e abusos sexuais há mais de uma década. 

O corpo de Epstein foi encontrado na cadeia na manhã deste sábado (10), segundo a porta-voz de órgão responsável por autópsias em Nova York, Aja Davis. ​

Mas Epstein —cujos conhecidos incluem dois presidentes e numerosas celebridades— vinha conseguindo evitar processos federais.

Ele compareceu ao tribunal federal de primeira instância em Manhattan nesta segunda-feira (8) para encarar acusações que incluem tráfico sexual entre 2002 e 2005 envolvendo meninas menores de idade, de acordo com duas fontes na Justiça.

Epstein se declarou inocente das acusações.

Mulher protesta com cartaz com retrato de Jeffrey Epstein em frente a corte federal em Nova York
Mulher protesta com retrato de Jeffrey Epstein em frente a corte federal em Nova York - Stephanie Keith/Getty Images/AFP

Investigadores apreenderam fotos de garotas nuas em sua casa, em Manhattan, como parte de uma nova investigação sobre as acusações de que ele explorou dezenas de menores para fazer sexo.  

Uma das acusações aponta que ele teria levado garotas rotineiramente à sua casa, no Upper East Side de Manhattan, e lhes pagado centenas de dólares em dinheiro por massagens e atos sexuais, disse uma das fontes. Parte das imagens foram encontradas em um cofre, com CDs intitulados "fotos garotas nuas".

Epstein também levava as meninas a sua casa em Palm Beach e outras quatro propriedades, segundo promotores: sua residência principal em uma ilha privada nas Ilhas Virgens dos Estados Unidos, Little Saint James; uma casa em Great St. James nas Ilhas Virgens; propriedade em Paris e uma fazenda a cerca de uma hora a leste de Albuquerque.

Geoffrey S. Berman, procurador dos Estados Unidos em Manhattan, disse que os promotores querem Epstein fique preso sem possibilidade de pagamento de fiança, devido sua riqueza e acesso a jatos particulares. Segundo Berman, havia "preocupações reais" de que Epstein, se libertado sob fiança, poderia tentar "pressionar e intimidar" testemunhas, incluindo seus acusadores e suas famílias.

O caso pode revelar novos fatos não só sobre as acusações, que abarcam um longo período e vários países, mas também as supostas conexões entre Epstein e autoridades dos Estados Unidos —entre as quais, notavelmente, o presidente Donald Trump e seu secretário do Trabalho, Alexander Acosta— que teriam minimizado as queixas contra ele.

Os promotores querem que a da casa de Epstein na East 71st Street --entre a Fifth e a Madison Avenue -- seja confiscada. O imóvel é considerado uma dos maiores de Manhattan. Tem pelo menos sete andares com quase dois mil metros quadrados e está avaliado em 56 milhões de dólares.

Eis um histórico das acusações que pesam sobre Epstein. 

Quem é Jeffrey Epstein?

Epstein, 66, trabalhou no banco de investimento Bear Stearns por seis anos antes de abrir sua empresa, em 1982, para administrar o patrimônio de clientes muito ricos.

Seu círculo de amigos e conhecidos inclui figuras de destaque, entre as quais Trump, o ex-presidente Bill Clinton, o príncipe Andrew, do Reino Unido, e Leslie Wexner, magnata dos negócios e dono da Victoria's Secret e outras marcas de varejo.

Clinton voou no jatinho de Epstein dezenas de vezes, de acordo com registros de voo, e Andrew foi a festas com Epstein.

Trump disse à revista New York, em 2002, que Epstein era "um cara excelente", a quem ele conhecia há 15 anos.

"Ele é uma companhia muito divertida", disse o presidente à época. "Chegam a dizer que ele gosta de mulheres bonitas tanto quanto eu, muitas delas na ala mais jovem."​

Do que ele é acusado?

As acusações contra Epstein precedem sua detenção no sábado (6) em mais de uma década e envolvem uma história sórdida que enfureceu as vítimas e despertou questões sobre favorecimento da polícia e da Justiça a ele.

Em 2005, os pais de uma menina de 14 anos disseram à polícia que Epstein a havia molestado em sua casa em Palm Beach.

Antes que a polícia encaminhasse o caso ao Serviço Federal de Investigações (FBI), em 2006, as autoridades já haviam identificado três dúzias de potenciais vítimas, que disseram que Epstein havia feito pagamentos a elas, quando eram menores de idade, por massagens, sexo oral e intercurso, de acordo com um relatório policial obtido pelo jornal Miami Herald.

Os abusos datavam de 2001, de acordo com o jornal. A maioria das vítimas tinha entre 13 e 16 anos.

Muitas vinham de famílias de baixa renda e foram informadas de que poderiam ganhar entre US$ 200 e US$ 300 ao fazer uma massagem em Epstein, de acordo com o Miami Herald.

"Queríamos o dinheiro para comprar roupas para a escola, sapatos", disse uma das mulheres ao jornal.

Procuradores públicos federais em Miami prepararam um indiciamento inicial de 53 páginas contra Epstein. Mas, em 2008, esses procuradores —liderados por Acosta, então procurador federal responsável pela região e hoje secretário do Trabalho de Trump— fecharam um acordo com os advogados de Epstein que lhe permitiu evitar acusações federais.

Em vez disso, ele se declarou culpado por acusações estaduais de solicitar sexo a prostitutas menores de idade.

Sob as acusações federais, Epstein poderia ter sido condenado à prisão perpétua. Depois do acordo, ele foi sentenciado a 13 meses de prisão, mas autorizado a sair da penitenciária para trabalhar seis dias por semana e 12 horas por dia.

Ele era apanhado por um motorista particular e transportado a um escritório nas imediações.

Anos depois, como parte de processos civis, testemunhas depuseram que centenas de meninas de todo o mundo foram levadas a Epstein em diversos momentos.

Os procuradores não informaram às vítimas detalhes do acordo que haviam fechado com Epstein antes que um juiz o aprovasse —ainda que as leis federais exijam que as vítimas sejam informadas sobre os principais desdobramentos de suas queixas.

As novas acusações envolvem tráfico sexual e foram apresentadas por procuradores federais em Manhattan, com a ajuda da polícia de Nova York e do FBI. A detenção de Epstein no sábado foi noticiada inicialmente pelo site de notícias The Daily Beast.

Qual é a conexão com o governo Trump?

Acosta, que Trump nomeou como secretário do Trabalho em 2017, enfrenta intenso escrutínio por seu papel no acordo sob o qual Epstein evitou um processo federal e que foi amplamente criticado por sua chocante leniência.

Uma série de reportagens investigativas do Miami Herald no ano passado revelou que Acosta esteve pessoalmente envolvido nas negociações.

Ele participou de uma reunião privada com um dos advogados de Epstein, que havia sido seu colega.

Na audiência de confirmação pela qual Acosta passou no Senado ao ser indicado para seu atual posto, ele defendeu o acordo ao apontar que Epstein havia sido forçado a se declarar criminoso sexual.

Ele também havia declarado, em 2011, que os resultados do acordo eram "melhores" do que correr o risco de um julgamento, que segundo ele teria "probabilidade reduzida de sucesso".

Sarah Sanders, antiga porta-voz da Casa Branca, disse meses atrás que o governo estava estudando as informações sobre Acosta publicadas pelo Miami Herald, embora o secretário tenha mantido o posto.

O relacionamento entre Epstein e o presidente é menos claro. Um advogado de Trump negou que o presidente e Epstein tenham um relacionamento social, a despeito das declarações de Trump à revista New York em 2002.

Uma das acusadoras de Epstein, Virginia Giuffre, declarou, em documentos referentes ao processo, ter sido recrutada para fazer massagens em Epstein quando ela trabalhava em Mar-a-Lago, o resort de Trump na Flórida.

Há fotos que mostram Epstein junto a Trump em Mar-a-Lago. 

​O que acontece a seguir?

Epstein deve depor diante de um juiz federal em Nova York na segunda-feira. Não há prazo de prescrição para crimes federais envolvendo tráfico de crianças.

Tradução de Paulo Migliacci

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