Parlamento da Espanha nega nomeação do socialista Pedro Sánchez como premiê pela 2ª vez

Partidos de esquerda não conseguem chegar a acordo para formar governo conjunto

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Paris

A Espanha ficou mais perto nesta quinta (25) de ter de realizar novas eleições gerais, depois de seu Parlamento derrubar pela segunda vez nesta semana a investidura do primeiro-ministro Pedro Sánchez, líder do PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol), que venceu o pleito de abril.

O premiê precisava de maioria simples para iniciar seu segundo mandato, o primeiro com lastro no voto popular –ele chegou ao poder em junho de 2018, após a aprovação de uma moção de desconfiança na gestão de seu arquirrival, o conservador Mariano Rajoy (Partido Popular).

Os socialistas venceram a eleição realizada em abril, mas precisam de outros partidos de esquerda e de regiões independentistas para formar maioria. 

Pedro Sánchez, ao lado da vice-primeira-ministra Carmen Calvo, durante sessão do Parlamento da Espanha - Oscar del Pozo/AFP

Mas o placar na Casa marcou 124 “sim” (Sánchez só recebeu um voto de fora da bancada socialista), 155 “não” e 67 abstenções.

O principal desfalque na frente pró-Sánchez foi o Podemos (ultraesquerda), que tem 42 deputados e não chegou a um acordo com o PSOE para a formação de um governo de coalizão (que seria o primeiro na Espanha ao menos desde a redemocratização, no fim dos anos 1970).

Com a nova falha, o convite feito a Sánchez para formar governo perde a validade, e o processo tem que ser reiniciado.

Como determina a Constituição, o rei da Espanha, Felipe 6º, convocará uma rodada de consultas com os principais partidos do país, antes de convidar Sánchez novamente a montar um governo. Ele terá então até 23 de setembro para tentar agregar sustentação suficiente.

Como nesta semana, duas chances lhe serão dadas de confirmar seu apoio no Legislativo; na primeira, precisará obter maioria absoluta (metade + 1 da composição total do Congresso, de 350 deputados); na segunda, bastará receber mais “sim” que “não” –abstenções contam a seu favor.   

Caso fracasse nas duas, deverá convocar novas eleições para 10 de novembro –seria a quarta visita dos espanhóis às urnas em quatro anos para definir seu plantel de deputados.

Na quinta, o Podemos se absteve. Durante a sessão que precedeu o voto, seu líder, Pablo Iglesias, interpelou Sánchez: “Não leve os espanhóis a eleições, negocie conosco”.

Em sua fala, o líder socialista respondeu: “A investidura deveria ter sido garantida pelas forças de esquerda desde o primeiro momento. [...] Os problemas que impediram o acordo nunca envolveram o programa, mas sim os ministérios”.

O PSOE havia anunciado algumas horas antes que as tratativas tinham sido suspensas porque, nas palavras da vice-primeira-ministra, Carmen Calvo, “eles nos pediram literalmente o governo [todo]”.

O Podemos retrucou afirmando que só não queria ficar relegado a um papel decorativo na gestão compartilhada. Para a legenda, era crucial estar a cargo de pastas ou diretorias que lhe permitissem pôr em marcha pontos-chave de sua plataforma, como o reajuste do salário mínimo e a revogação de uma reforma trabalhista implantada no governo Rajoy.

Isso implicaria assumir o Ministério do Trabalho, concessão que os socialistas nem sequer cogitavam fazer –sob o argumento velado de que a esquerda radical deveria ficar longe de qualquer domínio que envolvesse diálogo com o patronato.         

O partido majoritário, que logo após a eleição de abril descartava dividir poder com quem quer que fosse, acabou baixando a guarda e dialogando com o Podemos nos últimos dias.

Sánchez se mostrava arredio à possibilidade de entregar um ministério a Iglesias, mas já não se opunha a reservar cargos ao partido deste.

Ofereceu o comando das pastas de Saúde, Habitação e Igualdade à agremiação de ultraesquerda, além de uma vice-presidência (o premiê é chamado na Espanha de presidente de governo) de Assuntos Sociais, o que significaria articular toda a política de assistência social do governo.

O cargo seria ocupado por Irene Montero, deputada que é casada com Iglesias. O Podemos queria, além do Trabalho, a chefia de Ciência e Universidades.

O improvável acordo entre Podemos e PSOE é a chave para convencer os partidos regionais, que prometeram facilitar a investidura em caso de desbloqueio.

Mesmo se for bem-sucedida, essa coalizão terá, no entanto, margem limitada para realizar grandes reformas, disse Antonio Barroso, analista da consultoria londrina Teneo. 

Com 165 deputados dos 350, "não teriam maioria em um Parlamento muito fragmentado", e "a entrada do Podemos limitará ainda mais a margem de manobra de Sánchez para negociar acordos políticos específicos" com outras forças, dado o antagonismo entre a esquerda radical e as partes de centro-direita, Cidadãos e PP.

Com AFP

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