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The New York Times

Por que policial de NY que matou homem negro por sufocamento ainda não foi demitido?

Daniel Pantaleo segurou pescoço de Eric Garner de maneira fatal em 2014; até agora, ninguém foi responsabilizado

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The New York Times

O texto abaixo é um editorial publicado pelo jornal The New York Times.

Na terça-feira (16), apenas um dia antes que o prazo para prescrição do caso se encerrasse, o Departamento da Justiça federal americano anunciou que não apresentaria acusações contra o policial da cidade de Nova York que segurou Eric Garner pelo pescoço de maneira a provocar um ataque fatal de asma ao prisioneiro, em 2014, enquanto Garner se queixava de não conseguir respirar.

Um júri estadual de inscrição se recusou a indiciar o policial, Daniel Pantaleo, cinco anos atrás, e, porque as medidas disciplinares contra ele foram postergadas, Pantaleo não só continua em serviço, com funções modificadas, como recebeu aumento em seu pagamento por horas extras. Até agora, ninguém foi responsabilizado pela morte de Garner.

Depois de uma reunião com procuradores federais, a família Garner falou a jornalistas diante de um tribunal no centro de Manhattan, retorcida de dor.

Emerald Garner, filha de Eric Garner - Drew Angerer/Getty Images/AFP

"Vocês todos o viram matar meu pai", gritou para as câmeras Emerald Garner, filha de Eric Garner, com voz pesada de raiva. "Ele precisa ser demitido."

O prefeito Bill de Blasio e a polícia de Nova York postergaram ações disciplinares contra Pantaleo a pedido do Departamento da Justiça, enquanto determinava se abriria um processo contra o policial ou não.

Na terça-feira, o prefeito disse que esperar tanto tempo para que o Departamento da Justiça decidisse se ia ou não apresentar acusações havia sido um erro.

A polícia por fim iniciou uma audiência disciplinar em maio, depois que um painel civil de revisão de queixas propôs acusações.

Um juiz administrativo ainda não decidiu se Pantaleo é culpado pelas acusações apresentadas pela polícia quanto ao uso imprudente de técnica de estrangulamento, em violação às normas do departamento, e de ter restringido intencionalmente a respiração de Garner.

Parada ao sol, diante da sede da prefeitura de Nova York, Gwenn Carr, mãe de Eric Garner, implorou que o prefeito demitisse Pantaleo.

"Faça seu trabalho", disse. "Assuma a responsabilidade e se torne o prefeito que foi eleito para ser." Mas De Blasio, eleito para o posto em boa medida devido ao apoio do eleitorado negro nova-iorquino, e tendo prometido que responsabilizaria a polícia por seus atos, estava em Gracie Mansion (a residência oficial do prefeito), a quilômetros de distância, durante o protesto.

As leis municipais parecem impedir que a polícia demita Pantaleo antes da conclusão da audiência.

Dados os fatos do caso, é difícil considerar o emprego continuado de Pantaleo na polícia como qualquer outra coisa que não um insulto ao povo de Nova York.

Garner, que estava desarmado e supostamente vendendo cigarros sem maço, o que é ilegal, morreu porque Pantaleo recorreu a uma técnica de estrangulamento que a polícia proibiu em 1993 devido ao número crescente de mortes associadas a essa manobra.

Em um depoimento cáustico no julgamento interno conduzido pela polícia este ano, o médico legista afirmou que o estrangulamento causou um ataque de asma que resultou na morte de Garner, que ele determinou ter sido homicídio.

Um investigador da corregedoria da polícia também disse ter recomendado medidas disciplinares contra Pantaleo em 2015. Nada foi feito até o ano passado.

Embora o juiz deva decidir se as ações de Pantaleo representam violação das normas policiais, elas representam uma clara violação do bom senso e são uma demonstração das posturas de policiamento abertamente agressivas que resultaram em muitas mortes controversas.

Gwen Carr, a mãe de Eric Garner, fala com a imprensa na prefeitura de Nova York - Brendan McDermid/Reuters

Ele optou por intensificar um confronto com um homem desarmado, envolvendo diversos policiais e por conta de um delito menor, e em seguida correu a uma manobra perigosa e proibida. Um vídeo do episódio, visto por milhares de pessoas, mostra Pantaleo com o braço em torno do pescoço de Garner.

Mesmo antes da morte de Garner, o painel civil de revisão de queixas já havia substanciado quatro acusações de abuso contra Pantaleo em casos anteriores.

Por que manter um homem como Pantaleo na polícia, reduzindo a confiança dos nova-iorquinos?

A demora do Departamento da Justiça é imperdoável.

A deferência das autoridades municipais aos procuradores federais, e sua falta de urgência, são insultuosas.

Que Pantaleo continue na polícia, depois de tudo isso, parece inimaginável.

Tradução de Paulo Migliacci

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