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Que os candidatos menores renunciem, na Bolívia!

Analistas e a opinião pública querem que políticos apoiem quem tem mais chance de derrotar Evo

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Jorge Dulón Fernández
Latino América 21

Alguns dias atrás, o ex-presidente boliviano e agora ex-candidato à presidência Jaime Paz Zamora renunciou à sua candidatura, de novo esboçando mais uma daquelas frases que ficam gravadas na memória coletiva dos seus compatriotas: "Esbarrei em um muro de gelo e em uma visão política do século passado", ao preparar sua lista de candidatos para o Congresso, ele disse.

O ex-presidente acrescentou que desejava liderar um processo de renovação política, e por isso propôs que nas listas de candidatos ao Senado e Câmara houvesse a maior quantidade possível de jovens e de gente "nova". Lamentavelmente, o estatuto do Partido Democrata Cristão (PDC), que o convidou a se candidatar, não permitia "semelhante transgressão", e por isso o resultado tradicional foi imposto aos desejos do ex-líder do Movimiento de Izquierda Revolucionario (MIR).

As repercussões da renúncia não demoraram a surgir. De um lado, alguns porta-vozes do Movimiento al Socialismo (MAS), o partido do governo, minimizaram o acontecido, de forma algo prepotente, declarando que Jaime era um candidato marginal na disputa eleitoral e que sua decisão não merecia nem mesmo uma análise ou avaliação política por parte da agremiação situacionista.

Na oposição, a visão foi outra. Os candidatos que tinham menos de 5% de intenções de voto nas pesquisas (MNR, Tercer Sistema, UCS, PAN Bol) ficaram em situação incômoda e se viram expostos a controvérsias. As redes sociais, analistas e a opinião pública em geral, de seus diferentes pontos de vista, recomendaram que esses candidatos menores seguissem o exemplo de Jaime Paz, ou seja, que renunciassem a suas candidaturas e apoiassem o candidato com mais chances de derrotar Evo Morales

E houve até posições um tanto mais radicais, e pessoas que pediram encarecidamente ao candidato Oscar Ortiz, da aliança Bolivia Dice No, o terceiro colocado nas pesquisas, com 8% das intenções de voto, que abandonasse sua candidatura e declarasse apoio a Carlos Mesa, o candidato da Comunidad Ciudadana (CC). O argumento era ainda mais contundente: se Ortiz desse esse sinal de desprendimento, Mesa poderia ganhar as eleições já no primeiro turno, obtendo, dessa maneira, um requisito indispensável para governar com tranquilidade, relacionado à obtenção de maioria de dois terços no Congresso.

Ao que parece, esses argumentos vindos da oposição representariam um verdadeiro sinal de unidade para recuperar a democracia e lutar contra a impunidade nos casos que envolvem delitos de corrupção, contrabando, descaso pela segurança pública e tráfico de drogas. Mas para sermos realistas, é quase impossível que o terceiro colocado nas pesquisas renuncie à sua candidatura, porque embora Ortiz saiba que não tem possibilidade de vencer as eleições nacionais, deseja assegurar espaços de poder para abrir caminho a uma nova candidatura na eleição de 2025.

Ainda assim, sem perder a esperança de que Ortiz mude de ideia e renuncie à sua candidatura, resta uma alternativa para negociar uma possibilidade viável de aliança, que permitiria conseguir um ritmo diferente de alternância no poder e daria aos bolivianos a possibilidade de voltar a respeitar o Estado de Direito e recuperar a democracia. As organizações políticas de oposição poderiam fazer acordos e dessa maneira priorizar a eleição de legisladores coligados, escolhidos distrito a distrito em todo o país, levando em conta que esses representantes são escolhidos por voto popular direto.

De fato, cada organização política de oposição, de acordo com seu nível de representatividade e legitimidade, poderia propor candidatos unificados em distritos estratégicos, de forma a lhes garantir a vitória. Assim, seria possível garantir uma bancada opositora forte e responsável que permitiria desenvolver um bom trabalho legislativo e além disso seria representativa de todo o país e de todas as correntes políticas de oposição. Obteríamos, com certeza, um nível de fiscalização coerente e consistente com o que a Bolívia necessita atualmente: tolerância zero para com a impunidade de alguns poderosos, e acima de tudo recuperar a democracia moribunda no país.

Jorge Dulon Fernández é administrador público e cientista político (Universidade do Chile), mestre em gestão e políticas públicas (MpD UCB – Harvard).

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@latinoamerica21

Tradução de Paulo Migliacci 

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