O Ministro do Exterior japonês se encontrou com o embaixador da Coreia do Sul nesta sexta (19), em Tóquio, para tratar dos recentes desentendimentos entre os dois países, que fizeram com que o Japão dificultasse as exportações de materiais tecnológicos usados em smartphones para seu vizinho asiático.
No dia 4 de julho, entraram em vigor medidas japonesas que restringem o envio de materiais empregados em telas e chips de smartphones das gigantes coreanas Samsung e LG. A medida pode também afetar os mercados globais.
As novas regras são vistas como retaliação à uma decisão recente da Suprema Corte da Coreia do Sul. Em outubro, o júri determinou que quatro coreanos forçados a trabalharem em uma usina siderúrgica japonesa durante a ocupação nipônica da península coreana (1910 a 1945) deveriam ser recompensados.
O Japão argumenta que a questão da compensação foi resolvida em um acordo entre os dois lados em 1965.
A japonesa Nippon Steel & Sumitomo Metal foi ordenada a pagar US$ 87,7 mil para cada um dos trabalhadores após uma jornada legal que durou 13 anos. Apenas um deles, Lee Chun-sik, de 94 anos, está vivo.
Os exportadores japoneses agora precisam solicitar permissão para cada lote que desejem enviar à Coreia do Sul —o processo de obtenção dos documentos pode demorar até 90 dias. A lista de materiais inclui fluoreto de hidrogênio, poliimida fluorada e resistores.
Embora o Japão não confirme que os obstáculos às exportações são de fato uma resposta ao resultado do caso judicial, o Ministério da Economia, Comércio e Indústria do país disse que "o controle do sistema de exportações é baseado em relações de confiança", e que esta confiança entre os lados havia sido danificada significativamente.
A Coreia do Sul afirma que as medidas tomadas pelo Japão são ilegais de acordo com regras da Organização Mundial de Comércio.
Nesta sexta (19), o Ministro do Exterior japonês, Taro Kono, reuniu-se com o representante sul-coreano em Tóquio, Nam Gwan-pyo, e disse que a Coreia estava "subvertendo a ordem internacional pós-Segunda Guerra".
O Japão insiste que a questão do trabalho forçado foi totalmente resolvida em 1965, quando os países assinaram um acordo e restauraram relações diplomáticas.
Também na sexta, um homem de 78 anos de sobrenome Kim foi até a embaixada do Japão em Seul, estacionou em frente à entrada e ateou fogo em seu carro enquanto estava dentro. Ele
morreu no hospital.
Seu sogro teria sido vítima de trabalho forçado durante a Segunda Guerra Mundial, e acredita-se que o homem agiu em protesto contra as restrições impostas pelo Japão às suas exportações.
O presidente dos EUA, Donald Trump, se ofereceu nesta sexta para ajudar a mediar a disputa entre os lados —os EUA estavam hesitantes em entrar publicamente na desavença entre seus dois principais aliados na Ásia.
Trump disse que o presidente sul-coreano, Moon Jae-in, lhe perguntou se ele poderia se envolver. O republicano aquiesceu, mas afirmou ser necessário que o Japão também queira, comunicou a repórteres na Casa Branca.
A Coreia do Sul vem reagindo às desavenças com boicotes comerciais. Segundo a Associação de Supermercados Coreana, mais de 200 supermercados e mercados no país estão retirando de suas prateleiras produtos oriundos do Japão, como bebidas alcoólicas —61% das cervejas japonesas são exportadas para o vizinho.
As lojas também penduram cartazes pedindo aos consumidores que não comprem nada de origem nipônica.
A questão da ocupação japonesa, do trabalho forçado e da exploração sexual de mulheres ainda é um entrave nos laços dos dois países, ambos aliados dos EUA.
Apesar disso, Washington insiste que Tóquio e Seul se unam para enfrentar a crescente influência de China e Coreia do Norte.
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