Descrição de chapéu The New York Times

Vice-presidente filipina, crítica ao governo, é acusada de conspirar contra Duterte

Denúncias contra 36 pessoas têm por alvo opositores da guerra de mandatário contra as drogas

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Jason Gutierrez
Manila | The New York Times

A polícia acusou membros da oposição política filipina de sedição e outros delitos por supostamente conspirarem para derrubar o presidente Rodrigo Duterte, acusações que classificam como uma forma de intimidar os críticos do líder cada vez mais autocrático.

As denúncias contra 36 pessoas, entre as quais a vice-presidente Leni Robredo, diversos senadores e dirigentes da Igreja Católica, têm por alvo os críticos mais ferozes da guerra de Duterte contra as drogas e outras de suas ações, como repressão à imprensa.

As acusações foram apresentadas na quinta-feira pela polícia nacional, segundo a qual Robredo e os demais planejavam conectar Duterte, sua família e membros de seu governo a cartéis de drogas; se condenados, os acusados podem ser sentenciados a penas de seis a 12 anos de prisão. 

O presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, durante cúpula em Bancoc
O presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, durante cúpula em Bancoc - Lillian Suwanrumpha - 22.jun.19/AFP

Até esta sexta-feira, não haviam sido expedidos mandados de prisão contra eles.

Os acusados teriam conspirado com um homem que aparece em uma série de vídeos nos quais Duterte é acusado de conexões com cartéis de drogas. 

A polícia deteve o homem que aparece nos vídeos, Peter John Advincula, que disse aos investigadores ter inventado as acusações contra Duterte a fim de desacreditá-lo e desestabilizar seu governo, em um complô organizado por oponentes do presidente.

Salvador Panelo, porta-voz de Duterte, disse nesta sexta-feira (19) que o governo recebia positivamente as acusações contra a vice-presidente e seus aliados políticos.

"Já era hora de a verdade sobre esses vídeos ser conhecida", disse. "No que toca a nós, que o processo judicial faça seu trabalho."

Grupos de defesa dos direitos humanos questionaram o momento da apresentação das acusações, surgidas apenas quatro dias antes da data marcada para o discurso de Duterte ao Congresso sobre o estado da nação. 

Muitas organizações, algumas das quais apoiadas pela influente Igreja Católica, devem protestar nas ruas contra o discurso.

A vice-presidente Robredo, advogada de fala mansa e ex-legisladora, questiona a guerra de Duterte contra as drogas, que deixou mais de 6.600 mortos nos últimos três anos, de acordo com estimativas da polícia.

A advogada apoiou uma resolução do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas pela execução de uma investigação independente sobre execuções extrajudiciais que vêm sendo conduzidas pela polícia filipina.

Embora Robredo até agora não tenha se pronunciado a respeito das acusações contra ela, seus aliados apelaram por apoio popular à vice-presidente.

Duterte não oculta seu desprezo por ela e declarou diversas vezes em público seu apoio a Ferdinand Marcos Jr., derrotado por Robredo na disputa pela vice-presidência, três anos atrás. 

Marcos é o filho de Ferdinand Marcos, ditador das Filipinas de 1965 a 1986.

A família Marcos é uma firme aliada de Duterte e doa dinheiro às suas campanhas. Entre os primeiros atos oficiais dele como presidente foi ordenar o sepultamento do ditador Marcos como herói.

Nas Filipinas, o presidente e o vice-presidente são eleitos separadamente, e algumas pessoas sugeriram que as acusações contra Robredo são uma manobra política para conduzir Marcos Jr. à vice-presidência.

"É uma novela mal escrita", disse a senadora Risa Hontiveros, uma das acusadas na quinta-feira. "Maus atores. Roteiro horroroso. Reviravolta patética na trama."

A vice-presidente das Filipinas, Leni Robredo, em cerimônia de celebração do Dia da Independência em Manila
A vice-presidente das Filipinas, Leni Robredo, em cerimônia de celebração do Dia da Independência em Manila - Ted Aljibe - 12.jun.19/AFP

Ela definiu as acusações como "um total desperdício do dinheiro dos contribuintes".

"Em lugar de dedicar recursos humanos e dinheiro a perseguir chefões das drogas e outros criminosos", afirmou Hontiveros, "nossa força policial sai em perseguição a fantasmas para intimidar e pressionar ainda mais a oposição democrática".

Apresentar as acusações antes do discurso de Duterte ao Congresso era "mais uma tentativa de introduzir uma narrativa que cause distração às pessoas e desviar a atenção do público das questões reais quanto à situação do país", disse.

Outra oponente de Duterte, a senadora Leila de Lima, que passou mais de dois anos detida antes de ser acusada pelo presidente de envolvimento com drogas ilegais, definiu as mais recentes acusações como forjadas.

"Não sei se a polícia investigou", disse Lima, que no passado liderou uma investigação sobre execuções extrajudiciais de traficantes e usuários de drogas em Davao, cidade no sul das Filipinas, quando Duterte era prefeito lá.

Tradução de Paulo Migliacci  

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