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Após ataques, Estados Unidos mergulham em ansiedade e alarmes falsos

Rescaldo de ataques é momento especialmente intenso, dizem socorristas

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Postreis Thebault
Washington | The Washington Post

Não havia muitos detalhes, mas as semelhanças eram enervantes.

Tiros disparados no Walmart. Consumidores aterrorizados correndo para se esconder. Ligações frenéticas chegam ao 911.

A loja de Baton Rouge, na Louisiana, fica a quase 1.600 quilômetros a leste do Walmart de El Paso, no Texas, onde apenas 72 horas antes relatos iniciais deram lugar a cenas de caos e violência em massa: 22 mortos e um número muito maior de feridos.

Na capital da Louisiana, o treinamento predominou. Os órgãos policiais responderam em massa.

Vigília em homenagem às vítimas do massacre em El Paso, no Texas
Vigília em homenagem às vítimas do massacre em El Paso, no Texas - Mark Ralston - 5.ago.19/AFP

Oficiais da delegacia de East Baton Rouge chegaram ao local do crime em quatro minutos, depois vieram os policiais da cidade e do Estado, agentes do FBI e do Departamento de Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos. Eles inundaram o Walmart.

Logo depois de entrar na confusão, porém, as autoridades descobriram que não havia um atirador.

Nenhum agressor percorria os corredores da loja disparando como o atirador de El Paso. Em vez disso, os policiais aliviados encontraram um desafio totalmente diferente: o policiamento nos dias seguintes aos tiroteios em Gilroy (Califórnia), El Paso e Dayton (Ohio) deixou as pessoas profundamente ansiosas.

"Graças a Deus nós não precisamos de todos esses indivíduos, mas estou feliz que eles responderam", disse o delegado de East Baton Rouge, Sid Gautreaux, em entrevista coletiva na terça-feira (6).

"Porque, como todos sabem, algo tão trágico quanto o que aconteceu em Dayton ou El Paso pode acontecer em qualquer lugar, a qualquer hora."

A reação urgente foi motivada por dois homens lutando, um dos quais ameaçava o outro com uma tesoura, disse a polícia à imprensa local. O segundo homem sacou a arma e apontou para o da tesoura, no que segundo a polícia foi um ato de legítima defesa. 

A visão de uma arma deixou as pessoas ao redor em pânico, com razão, e testemunhas mais tarde relataram ter ouvido "estalidos".

Mas na terça-feira à noite a investigação ainda não tinha encontrado evidências de que um tiroteio realmente tivesse ocorrido.

"O clima nacional em relação a esses incidentes deixou o país muito nervoso, e os níveis de ansiedade dos cidadãos estão muito acima do normal", acrescentou o Departamento de Polícia em um comunicado.

O nervosismo depois dos tiroteios pode alimentar relatos chocantes —mas não verificados— nas redes sociais, criando um ambiente frenético de informações que pode ser uma ameaça à segurança pública, dizem especialistas. Nesta semana, esse ambiente está pujante.

O rescaldo de um ataque é um momento especialmente intenso para os socorristas, disse Frank Straub, diretor do Centro de Estudos de Reação à Violência em Massa da Fundação Polícia, entidade sem fins lucrativos.

"Todo mundo está nervoso", disse Straub ao Washington. "Essas ligações chegam, e os policiais vão. Eles têm que responder —você tem que levar todas as ameaças a sério—, então isso se torna um dreno para os recursos policiais e (...) para os próprios policiais."

Ligações falsas ou por engano ao número 911 são frequentemente bem-intencionadas, disse ele, mas podem ser baseadas em fluxos de rumores sem consistência. 

Isso pode começar com um fragmento de informação, algo que é apenas parcialmente verdadeiro, que é compartilhado várias vezes na internet.

Se receber atenção suficiente, disse Straub, uma organização de notícias ansiosa para ser a primeira a contar a história vai relatá-la, dando-lhe um verniz de credibilidade. A partir daí, a narrativa é reforçada.

"Você vê alguns desses posts na rede social ganharem vida própria, eles se tornam realidade", disse Straub. "Então essa má informação entra nos despachos da polícia e é reforçada nos noticiários, e é um problema a mais tentar descobrir o que é fato e o que é ficção."

Em Cambridge (Massachusetts), na terça-feira, a busca por um suspeito de homicídio transcorreu de maneira semelhante.

A polícia da Universidade Harvard alertou os estudantes de que um homem procurado por um assassinato na Filadélfia poderia estar se escondendo em Harvard Square. 

Eles disseram que o homem podia estar armado. Depois que a polícia de Cambridge revistou a praça, brotaram na rede social rumores de um atirador "em ação", que as autoridades acreditam ter sido motivados em parte por pessoas sem conexão com a área de Cambridge.

"Você tem pessoas que não são desta comunidade enviando informações erradas e criando uma histeria potencial sem nem conhecer nossa comunidade", disse Jeremy Warnick, porta-voz da polícia de Cambridge.

Os policiais de Cambridge prenderam o suspeito da Filadélfia naquele dia e forneceram atualizações frequentes nas redes sociais para combater a desinformação --tática que o departamento aperfeiçoou depois do atentado na Maratona de Boston em 2013.

Em um incidente separado em Nova York, multidões na Times Square correram assustadas quando motocicletas soltaram estouros pelo escapamento, um som urbano cotidiano.

"Não há #ActiveShooter na #TimesSquare", escreveu a polícia de Nova York no Twitter depois de relatos de uma "multidão em disparada" no local turístico lotado. "Motocicletas espocando ao passar pareciam tiros. Estamos recebendo várias chamadas no 911. Por favor, não entrem em pânico. A área da Times Square é muito segura!"

Em Long Beach (Califórnia), na segunda-feira (5), porém, reportagens online realmente levaram à captura de um homem que estava supostamente fazendo ameaças violentas em um comício do senador democrata Bernie Sanders, de Vermont, que discursou lá na terça-feira. 

Em uma declaração anunciando a prisão do homem, a polícia de Long Beach prometeu patrulhas extras e uma presença maior em eventos e locais públicos de grande movimento após as ameaças e os tiroteios em El Paso e Dayton.

Uma dedicação maior ao policiamento comunitário, especialmente após eventos nacionais traumáticos, disse Straub, pode ajudar a prevenir futuros ataques. 

Se houver um tiroteio em uma escola ou uma igreja em algum lugar do país, departamentos de polícia de outros lugares podem aumentar a visibilidade em suas instituições locais. 

Isso serve a um duplo propósito, segundo ele: gerar confiança e coletar informações. E, apesar de esses falsos alarmes serem estressantes, disse Straub, as autoridades preferem saber de algo e investigar a só ficar sabendo depois.

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves  

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