Corpo de bilionário acusado de abuso de menores é encontrado em cadeia nos EUA

Segundo imprensa, Jeffrey Epstein teria se enforcado; autoridades não confirmam causa da morte

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Washington | AFP, The New York Times e Reuters

​O corpo do bilionário americano Jeffrey Epstein, 66, foi encontrado na manhã deste sábado (10) na cadeia onde estava preso desde julho sob acusação de abuso de menores, segundo a porta-voz do órgão responsável por autópsias em Nova York, Aja Davis.

Ela, porém, não determinou a causa da morte e disse que será necessário examinar o corpo. O FBI abriu uma investigação para apurar o caso.

De acordo com o jornal americano New York Times e outras publicações, Epstein teria se enforcado durante a madrugada. Em 23 de julho, o bilionário já havia sido encontrado inconsciente e em posição fetal em sua cela. As autoridades trataram o incidente como uma tentativa de suicídio.

O New York Times também afirma que, segundo uma pessoa familiarizada com o caso, Epstein ficou sob vigilância como potencial suicida depois desse episódio e passou por uma avaliação psiquiátrica. No dia 29, deixou o regime de vigilância e foi colocado em uma área especial com segurança reforçada.

O secretário de Justiça do governo Trump, William Barr, disse em um comunicado que ficou "horrorizado" ao saber da notícia.

"A morte de Epstein levanta questões sérias que precisam ser respondidas", disse. Barr acrescenta que consultou o inspetor-geral do Departamento de Justiça, que também abriu uma investigação sobre as circunstâncias em torno da morte.

O empresário Jeffrey Epstein, ao centro, em corte em West Palm Beach, na Flórida
O empresário Jeffrey Epstein, ao centro, em corte em West Palm Beach, na Flórida - Uma Sanghvi - 30.ago.08/Palm Beach Post/Reuters

Epstein foi levado no início de julho para a prisão de segurança máxima Manhattan MCC, a mesma onde o ex-traficante de drogas Joaquín “Chapo” Guzmán passou dois anos e meio preso.

O empresário era acusado de tráfico sexual de menores e de conspiração criminosa para traficar menores para explorá-los sexualmente, duas acusações passíveis de punição com um total de 45 anos de prisão.


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Segundo a ata de acusação, ele teria levado menores de idade, algumas delas com apenas 14 anos, para suas residências em Manhattan e em Palm Beach, na Flórida, entre 2002 e 2005, “para participar de atos sexuais com ele, depois dos quais lhes dava centenas de dólares em dinheiro”.

“Também pagava algumas de suas vítimas para recrutarem mais meninas para serem abusadas”, apontou a acusação.

Epstein negava as acusações, mas um juiz federal rejeitou o pedido de liberdade condicional feito por sua defesa. Os advogados do bilionário propuseram que ele ficasse isolado em sua casa em Manhattan com uma tornozeleira ou um bracelete eletrônico, além de câmeras de vídeo para registrar seus movimentos.

A Justiça avaliou, porém, que Epstein representava um risco para a sociedade e que ele poderia tentar fugir, já que tinha os meios para isso.

Durante busca realizada na casa do empresário em Nova York, autoridades encontraram em um cofre “dezenas de diamantes” e “maços de notas”, bem como um passaporte austríaco falso já vencido em nome de Epstein.

Se ele fosse condenado pelos crimes dos quais é acusado, poderia ter sido sentenciado a até 45 anos de prisão, o que, com sua idade, configuraria uma pena de prisão perpétua.

O caso de Epstein também teve desdobramentos políticos que afetaram o governo de Donald Trump. Em julho, o secretário de Trabalho dos EUA, Alex Acosta, renunciou devido a ligação com o episódio.

Ele, que foi nomeado em 2017 pelo presidente Trump, foi questionado por sua participação, há mais de uma década, quando era promotor em Miami, em um acordo que resultou em penas brandas para o bilionário.

Na mesma semana em que renunciou, Acosta disse que o acordo, no qual Epstein cumpriu 13 meses de prisão após ser acusado de abusar sexualmente de dezenas de mulheres e meninas, foi o acerto mais duro possível, pois, de acordo com ele, o caso era complexo.

Críticos do acordo argumentam que o bilionário deveria ter enfrentado uma acusação mais severa no tribunal estadual do que uma única infração de solicitar prostituição de uma menor.

O relacionamento entre Epstein e Trump é menos claro. Um advogado do presidente americano negou que ele e Epstein tivessem um relacionamento social, a despeito das declarações de Trump à revista New York em 2002.

À publicação o republicano disse que Epstein era “um cara excelente”, a quem ele conhecia há 15 anos. “Ele é uma companhia muito divertida”, disse à época. “Chegam a dizer que ele gosta de mulheres bonitas tanto quanto eu, muitas delas na ala mais jovem.”

O círculo de amigos e conhecidos do bilionário inclui outras figuras de destaque, entre as quais o ex-presidente Bill Clinton, o príncipe Andrew, do Reino Unido, e Leslie Wexner, dono da Victoria’s Secret e outras marcas de varejo. Clinton voou no jatinho de Epstein dezenas de vezes, de acordo com registros de voo, e Andrew foi a festas com ele.

Epstein trabalhou no banco de investimento Bear Stearns por seis anos antes de abrir sua empresa, em 1982, para administrar o patrimônio de clientes muito ricos.

No entanto, há dúvidas de que Epstein tenha sido de fato bilionário, uma vez que existem poucas provas disso.

A riqueza dele talvez dependesse menos de sua perícia matemática do que de suas conexões com dois homens —Steven Hoffenberg, ex-proprietário do jornal New York Post e notório fraudador, condenado por operar um esquema de pirâmide de US$ 460 mi, e Wexner, executivo da empresa que é dona das lojas Victoria’s Secret.

Epstein parecia estar realizando negócios e operando moedas por intermédio do Deutsche Bank até alguns meses atrás, de acordo com duas pessoas informadas sobre suas atividades de negócios.
Com a possibilidade iminente de acusações federais, o banco encerrou o relacionamento com o empresário. Não se sabe ao certo quais eram os valores de suas contas quando foram fechadas.

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