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Desafio de novo líder da Guatemala será aprovar acordo de imigração firmado com Trump

Economia frágil, gangues e alta taxa de homicídio levam população a tentar emigrar para os EUA

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Buenos Aires

Os desafios do novo presidente da Guatemala, o direitista Alejandro Giammattei, 63, não serão poucos.

A opinião pública internacional e o governo dos EUA querem saber se o novo líder, que venceu neste domingo (11) o segundo turno contra a candidata de centro-esquerda Sandra Torres, terá vontade política para convencer o Congresso a aprovar um acordo firmado em julho entre o atual presidente, Jimmy Morales, e Donald Trump.

O pacto determina que imigrantes que tenham passado pela Guatemala sejam obrigados a pedir asilo ali mesmo, antes de tentar chegar aos EUA por meio de seu território. Pelo acordo, a Guatemala passou a ser considerada um "terceiro país seguro". 

O novo presidente da Guatemala, Alejandro Giammatei - Jose Cabezas/Reuters

A medida é extremamente controversa. Por um lado, porque a Guatemala, embora economicamente mais estável do que El Salvador e Honduras (outros dois países que "exportam" muitos imigrantes), ainda é uma economia frágil, com mercado de trabalho que sequer dá conta de atender a atual população local, além daqueles que vêm sendo deportados dos EUA.

Por outro, porque assim como El Salvador e Honduras, a Guatemala também é um território de onde muitos querem fugir. Nestes três países, conhecidos como o Triângulo do Norte, operam as "maras", gangues formadas nos anos 1990 por imigrantes ilegais nos EUA e que, de volta a seus países de origem, viraram facções de crime organizado. 

Estima-se que as "maras" já tenham cerca de 80 mil membros nos três Estados. Seus modos de subsistência são a extorsão de comerciantes, fazendeiros e empresas de transporte, além de narcotráfico —colaborando para que seus países sejam rota aos EUA da droga fabricada na América do Sul— e sequestros.

Quem mais sofre com sua presença é a população camponesa, que teme a violência e o pesadelo de ver seus filhos recrutados por esses grupos. 

Essas são as principais razões pelas quais imigrantes desses três países buscam chegar ao México e, depois, aos EUA. Na verdade, a própria qualificação de "imigrante ilegal" dada por parte dos EUA é questionável.

Tal população é refugiada de uma grave situação de crise humanitária, comparável com a da Síria, da Venezuela e tantos lugares em que se torna impossível viver diante de uma situação deteriorada.

O problema da imigração no caso da Guatemala não pode ser tratado de modo separado da questão da violência, como parece desejar Donald Trump. Afinal, embora a taxa de homicídios tenha caído um pouco nos últimos anos, ainda é das mais altas das Américas, de 27 por cada 100 mil habitantes (dados do Banco Mundial).

Entre as principais preocupações dos guatemaltecos, segundo as pesquisas, estão a insegurança (36,9%), a falta de emprego (19,3%) e a corrupção (10%).

Uma vez que tanto Sandra Torres quanto Alejandro Giammattei tinham uma visão parecida sobre o acordo com os EUA —de que Jimmy Morales havia se apressado em assiná-lo sem discutir seu impacto internamente—, analistas apontam como a elevação do tom linha-dura no combate à violência foi o fator preponderante para a virada de Giammatei neste segundo turno. 

No primeiro, Torres havia obtido 25,5% dos votos, contra 13,5% de Giammatei. Porém, o restante dos votos se dispersou entre outros 17 candidatos. O presidente eleito foi mais hábil em convocar os derrotados em outras chapas.

Conhecido como "o eterno candidato", porque essa é sua quinta tentativa de chegar ao cargo, Giammatei também ganhou fama por ter sido dirigente do sistema prisional guatemalteco. Nessa carreira, enfrentou um julgamento por, supostamente, ter matado um prisioneiro. Foi absolvido.

Um tema que havia elevado a Guatemala como país-modelo na América Latina e que está em risco com a eleição de Giammattei é o futuro da Cicig (Comissão Internacional Contra a Impunidade na Guatemala), órgão independente, apoiado pela ONU, composto por magistrados guatemaltecos e estrangeiros para investigar casos de corrupção.

Em 2015, eles levaram à Procuradoria do país um escândalo de corrupção envolvendo o então presidente Otto Pérez Molina e seu gabinete.

A Guatemala viveu um momento único em sua história, em que, convocados pelas redes, centenas de milhares de pessoas lotaram as ruas das principais cidades do país, forçando a Justiça e o Legislativo a atuarem. O resultado foi o início de um processo de impeachment e a renúncia de Pérez Molina.

A ONU aplaudiu o que, no mundo, ficou conhecido como "a primavera guatemalteca".

Só que seu sucessor, Jimmy Morales, vinha criticando duramente a Cicig por suas investigações contra seu próprio governo, e esta enfrentava tentativas de expulsão do país.

Giammattei foi um duro crítico da Cicig durante a campanha, e é pouco provável que o órgão possa seguir atuando, pelo menos como fez até agora.

Em 12 anos de atuação na Guatemala, a Cicig levou adiante mais de cem investigações que terminaram em 60 denúncias de corrupção entregues à Procuradoria local.

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