É falsa corrente que afirma que a embaixada do Brasil em Washington seja um reduto do PT e que tenha uma sala de reuniões com o nome de Marielle Franco ou que tenha sido usada politicamente para apoiar a esquerda. A postagem que está circulando no WhatsApp e nas redes sociais foi verificada pelo Comprova.
Segundo o texto, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) teria escolhido o filho Eduardo Bolsonaro (PSL) para ser o novo embaixador em Washington para que ele faxinasse o órgão. A corrente faz acusações sobre as quais não há evidências em outras fontes de informação.
O texto acusa a embaixada de batizar uma sala de reuniões com o nome de Marielle Franco, vereadora carioca assassinada em 2018, e de exibir nas paredes a inscrição “Lula Livre”. Além disso, acusa a embaixada de ter abrigado integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Segundo a corrente, a fonte dessas informações seria um advogado brasileiro que vive em Washington e “muitas vezes precisa ir à embaixada” para “resolver assuntos de outros brasileiros”.
Em resposta ao Comprova, a embaixada do Brasil em Washington afirmou que as informações divulgadas na corrente são falsas e não têm nenhum fundamento. “A embaixada é um órgão oficial do governo brasileiro e não recebe ou apoia manifestações políticas de qualquer sorte.”
De acordo com o órgão, ele tampouco oferece espaço para realização de reuniões que não sejam relacionadas diretamente a suas atividades oficiais ou possui inscrições de cunho político.
Além disso, por se tratar de órgão exclusivamente voltado à política externa, a embaixada informou que não possui setor consular, ou seja, não atende brasileiros para resolver problemas pessoais, como retirada de passaporte. Tal competência cabe ao consulado-geral do Brasil em Washington.
Em março deste ano, o presidente Bolsonaro fez uma visita oficial aos Estados Unidos, e o primeiro compromisso da delegação, em 17 de março, foi um jantar com o então embaixador do Brasil em Washington, Sérgio Amaral.
Na ocasião, o presidente postou em suas redes sociais foto em que aparece acompanhado do assessor Filipe Martins, do escritor Olavo de Carvalho, do chanceler Ernesto Araújo e do filho Eduardo Bolsonaro com a legenda “jantar na embaixada do Brasil nos EUA”.
Nas postagens nas redes sociais referentes à visita, nenhum deles relatou ter visto o termo “Lula livre” nas paredes do local ou sala com o nome de Marielle Franco. Durante a visita, Araújo ainda concedeu uma entrevista coletiva na embaixada, transmitida ao vivo pela página do Ministério das Relações Exteriores.
Também o Itamaraty afirmou que as informações do texto não procedem. O Comprova questionou o órgão se o conteúdo da corrente que viralizou era verdadeiro, tendo em vista que o ministro das Relações Exteriores e outros integrantes do órgão tinham estado na embaixada. A assessoria de Eduardo Bolsonaro foi procurada, mas não enviou resposta até a publicação deste texto.
Apesar de não publicar agenda ou calendário de atividades oficiais, a embaixada informou que divulga as principais ações do órgão em um boletim eletrônico mensal. De outubro de 2015 a junho de 2019, mês da edição mais recente do boletim, não foi encontrada divulgação de atividades relacionadas ao MST ou a outra organização de esquerda.
Entre os acontecimentos em destaque no período estiveram a eleição de Bolsonaro, reuniões de grupos multilaterais, visitas de autoridades brasileiras aos EUA, ciclos de palestras e apresentações culturais. Em julho, a embaixada divulgou cerimônia sobre as vítimas do comunismo, em lembrança ao 30º aniversário da queda do Muro de Berlim.
Junto de outros grupos, integrantes do MST, sob o movimento de nome Amigos do Brasil, realizaram um ato em frente à embaixada em Washington em junho de 2017. Apesar de ter acontecido em frente ao órgão, o evento não teve apoio institucional da embaixada, mas de movimentos sociais.
André Borges, conselheiro da diretoria do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e frequentador da embaixada, afirmou que “nunca viu ou ouviu menção a nenhum dos pontos mencionados no texto”.
O Comprova fez buscas de fotos internas da embaixada nas principais redes sociais e não encontrou nenhuma imagem ou relato de usuário que corrobore o conteúdo do texto que viralizou.
A Embaixada é dividida em dois prédios: a residência do embaixador e a chancelaria, onde trabalham diplomatas e integrantes do Serviço Exterior Brasileiro.
Estão também na embaixada representantes de outros órgãos da administração federal, como o Ministério da Defesa, a Polícia Federal e a Receita Federal.
Participaram dessa apuração os veículos Nexo Jornal e piauí.
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