Gibraltar libera petroleiro iraniano mesmo após pedido de retenção dos EUA

Grace 1 foi capturado pela Marinha britânica no início de julho e liberado nesta quinta

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Londres e Gibraltar (Reino Unido) | Reuters

Um navio petroleiro iraniano foi liberado pelo governo de Gibraltar nesta quinta-feira (15), após ficar mais de um mês retido por acusação de violar sanções contra a Síria. 

A liberação do navio, chamado Grace 1, ocorreu mesmo após um pedido dos EUA para que a embarcação seguisse presa em Gibraltar, território do Reino Unido que fica no sul da Espanha, na entrada para o mar Mediterrâneo. 

Oficiais de defesa de Gibraltar escoltam petroleiro iraniano Grace 1 no estreito de Gibraltar, ao sul da Espanha - Jon Nazca/Reuters

O presidente da Suprema Corte de Gibraltar, Anthony Dudley, porém, declarou não ter recebido a solicitação dos EUA por escrito e autorizou a partida do Grace 1.  

A apreensão do navio foi mais um capítulo de uma crise entre o Irã e países do Ocidente. A tensão foi elevada depois que os Estados Unidos se retiraram de um acordo internacional que suspendia as sanções ao país islâmico em troca da redução do programa nuclear iraniano

Gibraltar disse que o Grace 1 era suspeito de vender petróleo para a Síria, em violação às sanções impostas ao país pela União Europeia. Duas semanas depois, a Guarda Revolucionária do Irã apreendeu o navio Stena Impero, de bandeira britânica, no Golfo Pérsico.

Com a liberação, há a expectativa de que o Irã também solte a embarcação que capturou.  

O destino dos navios está vinculado às diferenças diplomáticas entre as grandes potências da UE e os Estados Unidos.

Gibraltar nega que tenha sido forçada a deter o Grace 1, que transportava até 2,1 milhões de barris de petróleo, mas fontes diplomáticas disseram que os Estados Unidos pediram ao Reino Unido para apreender a embarcação.

Países europeus, incluindo o Reino Unido, discordaram veementemente da decisão de Washington no ano passado de abandonar um acordo internacional que garante o acesso do Irã ao comércio em troca de restrições ao seu programa nuclear.

Washington impôs sanções ao Irã com o objetivo de interromper totalmente suas exportações de petróleo. Já os países europeus suspenderam as sanções contra o Irã, que ainda é proibido de vender petróleo para a Síria, medida em vigor desde 2011.

Desde maio, uma série de ataques a navios no Golfo Pérsico aumentou a tensão na região, uma importante rota de exportação de petróleo. Além do navio britânico apreendido, houve danos a navios dos Emirados Árabes Unidos e da Arábia Saudita. 

Em junho, o Irã derrubou um drone dos EUA, sob acusação de que ele teria invadido o espaço aéreo do país, algo negado pelo governo norte-americano. 

Frente aos ataques (leia mais abaixo), os EUA e o Reino Unido passaram a fazer a segurança de navios privados do país na região, o que irritou o Irã.

O almirante Hossein Khanzadi, comandante da Marinha iraniana, repetiu a exigência do Irã de que as marinhas ocidentais deixem o Golfo, que, segundo Teerã, deve ser patrulhado apenas pelos países da região, informou a agência iraniana de notícias ISNA nesta quinta.

"Os inimigos da região, os Estados Unidos, a Inglaterra e o regime sionista e seus aliados deveriam saber que acabou a hora de desfilar, perambular e fazer um espetáculo hipócrita na região do Golfo Pérsico e no mar de Omã", disse Khanzadi, de acordo com a ISNA. "Os inimigos devem deixar a região o mais rápido possível."


ENTENDA O HISTÓRICO DE ATAQUES

12.mai
Emirados Árabes Unidos afirmam que que quatro navios foram atacados nas proximidades de Fujairah (um dos sete emirados que formam o país)

13.mai
Arábia Saudita afirma que teve dois navios sabotados no Golfo Pérsico

13.jun
Dois petroleiros, um norueguês e outro japonês, são atingidos por explosões no Golfo de Omã; EUA afirmam que minas marítimas foram usadas, divulgam suposto vídeo do ataque e responsabilizam o Irã, que nega

14.jun
Presidente da companhia dona do navio japonês contraria os EUA e afirma que embarcação foi atingida por objetos voadores

Grupo rebelde houthi, que é apoiado pelo Irã, realiza uma série de ataques com drones a aeroporto de Abha, na Arábia Saudita (reino é aliado dos Estados Unidos)

15.jun
Irã convoca embaixador do Reino Unido em Teerã após Londres acusar a república islâmica pelos ataques contra petroleiros no golfo de Omã

17.jun
Exército dos EUA divulga fotos que supostamente mostram membros da Guarda Revolucionária do Irã removendo uma mina de um petroleiro que sofreu ataque

20.jun
Irã derruba drone americano que estaria violando seu espaço aéreo às margens do golfo de Omã

23.jun
Trump desiste de ação militar contra o Irã na última hora; EUA realizam ataque ciberataque que desabilitou sistemas no lançamentos de mísseis e foguetes

4.jul
A pedido dos EUA, britânicos apreendem petroleiro iraniano no estreito de Gibraltar; navio estaria violando as sanções da ONU. Irã convoca embaixador britânico em Teerã novamente

5.jul
Irã ameaça apreender petroleiro britânico em retaliação

11.jul 
Reino Unido afirma que Irã tentou bloquear petroleiro britânico no estreito de Hormuz, mas que sua Marinha interveio e a passagem foi liberada

18.jul 
Irã afirma que apreendeu no estreito de Hormuz, no domingo (14), um petroleiro estrangeiro com 12 tripulantes a bordo; navio estaria contrabandeando combustível para o Golfo

18.jul
Trump afirma que EUA derrubaram drone iraniano no estreito de Hormuz por voar perto demais de uma embarcação americana

19.jul 
Britânicos condenam apreensão de dois petroleiros pelo Irã, um de bandeira britânica e outro de bandeira liberiana, mas operado por empresas do Reino Unido; Teerã afirma que apenas o navio britânico foi apreendido

15.ago 
EUA tentam impedir liberação de petroleiro iraniano Grace 1, apreendido pela Marina britânica em Gibraltar. Apesar disso, o navio é liberado

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