A pouco mais de um mês para as eleições parlamentares de 17 de setembro em Israel, o premiê Binyamin Netanyahu parece demonstrar certo nervosismo quanto a seu futuro político, que se reflete em ações de seus apoiadores.
Quarenta membros de seu partido, o conservador Likud, divulgaram no começo do mês um abaixo-assinado declarando lealdade a Netanyahu e jurando que não vão tentar substitui-lo na liderança do partido.
“Netanyahu é o único candidato do Likud a primeiro-ministro, e não haverá outro candidato”, afirma a petição.
A iniciativa foi do parlamentar David Bittan, um conhecido e histriônico defensor de Netanyahu. O objetivo, segundo ele, era estabelecer que o atual premiê mantenha o cargo caso o Likud vença o pleito.
Pelo sistema parlamentar israelense, quem vence a eleição são partidos e não políticos específicos. Bittan negou que Netanyahu esteja por trás do abaixo-assinado.
Memes ironizando a manifestação não tardaram a aparecer. A parlamentar Stav Shaffir, que disputará as eleições pela legenda de esquerda Campo Democrático, divulgou um vídeo mostrando israelenses sendo forçados a jurar lealdade a Netanyahu em aeroportos, casamentos e maternidades.
“O Likud se tornou oficialmente o partido fantoche de Netanyahu”, disse Shaffir, em comunicado com outros líderes do Campo Democrático.
“A iniciativa é uma reminiscência da Coreia do Norte, que obriga todos os cidadãos a se curvarem diante de cada estátua dos líderes”, comparou o ex-líder do Exército Moshe Ya’alon, da cúpula da aliança opositora Azul e Branco.
Diante da chacota e das críticas, alguns dos parlamentares do Likud confessaram arrependimento pela assinatura, mesmo que não abertamente.
Netanyahu é claramente o principal e inconteste líder do Likud. Há dez anos ininterruptos como primeiro-ministro (13, contando outros três anos durante a década de 1990), ele ultrapassou recentemente o recorde do celebrado premiê David Ben-Gurion em tempo de poder.
Mas ele enfrenta questões jurídicas que podem impossibilitar sua continuidade no cargo: nos próximos meses pode ser indiciado em três casos de corrupção.
Essa possibilidade foi levantada por seu maior rival atualmente, o ex-chanceler e ex-ministro da Defesa Avigdor Lieberman, líder do partido ultranacionalista Israel Nossa Casa.
Foi ele quem atiçou os membros do Likud para a possibilidade de que tenham de escolher um outro nome para liderar o partido, caso a sigla vença as eleições de 17 de setembro e Netanyahu seja indiciado ou falhe novamente em montar uma coalizão.
Lieberman até sugeriu o nome do sucessor: o presidente do Knesset (o Parlamento em Jerusalém), Yuli Edelstein.
Os líderes do partido —e Netanyahu— não admitem discutir a possibilidade de um sucessor no topo do Likud.
O próprio Edelstein teve que divulgar comunicado negando intenção de um “golpe interno” no partido.
Aos 69 anos, Bibi, como o premiê é conhecido, comanda a sigla desde 1993 —descontando seis anos em que Ariel Sharon foi o líder, de 1999 a 2005. Alguns temem o dia seguinte após o fim do período de Netanyahu à frente do partido.
Mas a precária situação jurídica do atual primeiro-ministro leva muitos apoiadores a pensar em quem é mais importante, Netanyahu ou o Likud?
“Não consigo pensar em Menachem Begin, Yitzhak Shamir ou Ariel Sharon fazendo algo assim [um abaixo-assinado de lealdade]”, afirmou ao Canal 11 o veterano político Dan Meridor, ex-membro do Likud e atual crítico do partido.
A sigla foi a mais votada nas eleições parlamentares de 9 de abril, mas Netanyahu não conseguiu formar um novo governo. A coalizão do premiê tinha 60 assentos, um a menos do que o necessário para formar a maioria no Knesset.
Lieberman, que tradicionalmente seria um parceiro natural, aproveitou-se da situação e fez diversas exigências para compor a coalizão, o que Netanyahu negou. Em 29 de maio, novas eleições foram convocadas —é a primeira vez na história do país que duas votações parlamentares serão realizadas no mesmo ano.
Desde a convocação das eleições, a política israelense passou por um terremoto de fusões e fissões partidárias, tanto na direita quanto na esquerda.
O próprio Likud, por exemplo, abocanhou o partido de centro Todos Nós, do ex-ministro da Economia Moshe Kahlon.
A direita radical se reorganizou com a criação da legenda Direita Unida, liderada pela ex-ministra da Justiça e estrela ascendente na política israelense Ayelet Shaked — outro desafeto de Netanyahu.
Na esquerda, o enfraquecido Partido Trabalhista se uniu à Ponte, e perdeu uma de suas líderes, a jovem Shaffir, para o novíssimo Campo Democrático, criado pelo ex-líder trabalhista Ehud Barak, que engoliu também o partido de ultraesquerda Meretz.
Já os partidos da minoria árabe-israelense —antes separados em dois blocos— se uniram em uma só legenda.
A aliança de centro-esquerda Azul e Branco, formada no começo do ano para as eleições de abril, continua como está, sob a liderança do ex-chefe do Exército Benny Gantz.
Também ficaram como estavam os partidos ultrarreligiosos (Shas e Judaísmo Unido da Torá) e o Israel Nossa Casa, do fortalecido Avigdor Lieberman, que se tornou o fiel da balança para o pleito de setembro.
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