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Livro compila memórias de ex-correspondente da revista Time na América Latina

Americano Charles Eisendrath foi responsável pela 1ª entrevista de Pinochet a veículos internacionais

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Buenos Aires

Em 11 de setembro de 1973, o jornalista americano Charles Eisendrath, então correspondente na América Latina da revista Time, tinha uma entrevista marcada para as 8h30 daquele dia com o presidente do Chile, o esquerdista Salvador Allende.

Quando estava a caminho do palácio de La Moneda, sede do governo chileno, porém, Eisendrath começou a escutar um bombardeio. Com o sarcasmo que o caracteriza, pensou: “Minha entrevista terá de ser remarcada, talvez para a eternidade”.

O jornalista americano Charles Eisendrath entrevista o general chileno Augusto Pinochet após o golpe de Estado no Chile.
O jornalista americano Charles Eisendrath entrevista o general chileno Augusto Pinochet após o golpe de Estado no Chile. - Reprodução

A data ficaria marcada como o dia em que o general Augusto Pinochet comandou o ataque que culminou com o suicídio de Allende e o início de uma ditadura que duraria até 1990.

Esse e outros casos estão no livro “Downstream from Here” (Mission Point Press, importado), recém-lançado nos Estados Unidos, no qual Eisendrath descreve suas memórias.

Dias depois, ele faria a primeira entrevista internacional com Pinochet. “Lembro-me de seu olhar gelado e do fato de que estava convencido de estar certo, e que não considerava um problema as pessoas estarem sendo mortas e desaparecendo”, conta, em entrevista por telefone.

Depois do período no Chile e na Argentina, Eisendrath retornou aos EUA e passou a trilhar outro caminho, pelo qual ficaria mais conhecido.

Em Ann Arbor, na Universidade de Michigan, fez parte de um programa que ele depois transformaria no Knight-Wallace Fellowship, curso para jornalistas em meio de carreira. Dirigiu o programa até se aposentar, em 2015, aos 75.

Paralelamente ao jornalismo e às atividades acadêmicas, Eisendrath converteu sua fazenda, a Overlook Farm, num lugar para suas memórias pelo mundo e as de seus antepassados.

“Ter sido correspondente em vários países [além da América Latina, na França e na Inglaterra] faz com que você se dê conta de seu lugar no mundo e valorize voltar para casa. No meu caso, o lugar a que pertenço é esta fazenda.”

É por isso que, todo ano, enquanto dirigiu o Knight-Wallace Fellowship, Eisendrath levou os bolsistas do programa em Michigan para uma visita ao local, que incluía caminhadas por trilhas e uma aula (optativa, é claro) de tiro. 

“É um lugar especial. E, quando vinha passar as férias aqui, escrevia um pequeno ensaio e guardava numa caixa. Quando me aposentei, resolvi ver quantas folhas de papel havia nessa caixa. Eram mais de 300, por isso decidi fazer o livro”, conta.

Os textos foram revistos e depois ilustrados por um de seus filhos. A narrativa tem o tom irreverente que marca seu modo de falar. “Todos os que estão lendo dizem isso, que o livro soa como se eu estivesse falando. Fico feliz que reconheçam minha voz.”

Rever sua própria história, porém, foi um desafio. “Quando um jornalista sério encara a si mesmo, enfrenta coisas difíceis. Como descrever o que aconteceu comigo sem cair na tentação de mentir em algumas partes? Mas você não pode mentir. Foi um aprendizado.”

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