Descrição de chapéu The Washington Post Governo Trump

Loja em Baltimore faz sucesso ao imprimir fala ofensiva de Trump em caneca

Produto é estampado com a frase 'adoro minha zona nojenta, infestada de ratos'

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Hannah Natanson
The Washington Post

A caneca estampada com um tuíte era para ser uma brincadeira para entendidos.

Quando uma loja de Baltimore estampou as palavras negativas do presidente Donald Trump a respeito da cidade sobre uma caneca azul para café –colocando a frase “adoro minha zona nojenta, infestada de ratos” sobre um mapa da região–, foi apenas para os proprietários e um funcionário.

Uma maneira de desabafar e fazer uma brincadeira.

“Foi uma oportunidade perfeita, não podíamos deixar passar”, comentou Robbie Marcouillier, gerente da Chase Street Accessories & Engraving, situada a poucos passos do gabinete do deputado democrata Elijah E. Cummings, no centro de Baltimore. “Mas a coisa pegou fogo.”

Caneca laranja
A caneca da Chase Street Accessories & Engraving - Reprodução/Chase Street

Na noite de 27 de julho, o dia em que Trump escreveu sobre Baltimore no Twitter, a loja postou uma foto da caneca no site Reddit.

Ao mesmo tempo em que a alegação do presidente de que “nenhum ser humano” gostaria de viver em Baltimore, cidade de maioria negra, era condenada em todo o país como racista, o post no Reddit também chamou a atenção das pessoas.

A foto acabou atraindo 500 curtidas no site de mídia social. E as vendas da caneca, comercializada por US$ 25 (R$ 101), também começaram a subir: uma dúzia no primeiro dia, por volta de cem no dia seguinte e quase 500 na sexta-feira.

Muito antes de a caneca viralizar, a Chase Street decidiu: mesmo que vendesse apenas dez canecas, doaria 10% de todos os lucros das vendas à ONG Thread, que ajuda estudantes secundaristas de Baltimore a superar situações domésticas difíceis para melhorar seu desempenho educacional, pessoal e profissional.

A loja deu US$ 200 (R$ 808) à ONG pelas vendas de julho e prevê doar um valor maior no final deste mês.

“Decidimos doar a uma organização sem fins lucrativos que trabalha com jovens, porque os jovens são nosso futuro”, explicou Marcouillier, 33. “Estamos usando as palavras de Trump para reinvestir em nossa cidade.”

Especialistas em políticas públicas sempre ressaltaram a importância de os jovens concluírem o ensino médio para terem acesso a empregos mais bem pagos, vinculando as conquistas educacionais a resultados melhores em termos de saúde.

“Os jovens com quem a Thread trabalha são pessoas que vão transformar esta cidade”, disse Marie Brown, diretora de comunicações da ONG. “Eles têm o talento, a coragem e a resiliência. Só precisamos ter confiança neles e levar o tempo preciso para chegar a conhecê-los.”

Aberta em abril, a Chase Street ocupa o primeiro andar da casa de seus proprietários, o casal Shana e Chris Beach.

Marcouillier conta que a ideia da loja, que vende artigos prontos e também oferece aos clientes a possibilidade de estampar as mensagens que quiserem sobre canecas, nasceu de uma ideia que os Beach, ambos com pouco mais de 30 anos, e Marcouillier e seu marido, Shaun, 35, aventara como brincadeira, falando do que poderiam fazer depois de se aposentarem.

Num jantar no Ano Novo, quando Marcouillier acabara de ficar desempregado, os quatro amigos decidiram não esperar para colocarem seu plano em prática. Nenhum dos quatro nasceu em Baltimore, mas todos acabaram indo viver na cidade alguns anos atrás devido ao trabalho. Ficaram amigos e gostaram tanto da cidade que resolveram ficar lá.

“É um negócio feliz. Queremos criar recordações que se guardam num objeto concreto”, disse Marcouillier, que é o único funcionário. “A ideia é celebrar as pessoas de Baltimore e suas ideias, quer seja em um objeto ou numa camiseta.”

Marcouillier contou que até agora a Chase Street tem conseguido se pagar. Mas suas vendas semanais explodiram desde que ela começou a produzir a caneca.

A loja pretende continuar vendendo o item enquanto houver demanda. Ela também criou alguns artigos semelhantes: uma versão mais barata em cerâmica e uma nova linha de produtos, incluindo canecas, sacolas de lona e camisetas, com o logotipo "Rat Invested: #WeAreBaltimore" e a palavra “infested” riscada (ou seja, o termo “infestada” está riscado e é substituído por “investida”).

A Chase Street vai doar à Thread 10% do lucro obtido com as vendas desses artigos.

“As canecas são um jeito de mostrar nosso apoio a Baltimore e o orgulho que sentimos da cidade, no momento que ela é criticada no palco nacional”, comentou um dos donos, Chris Beach, 37. “A reação da cidade está sendo ótima. Quem mora aqui conhece os encantos de Baltimore.”

Marcouillier vem tendo que trabalhar até tarde da noite para atender à demanda pelas canecas. A loja normalmente fecha às 20h, mas na semana passada ele precisou trabalhar até depois da meia-noite em quatro noites.

Cada caneca leva 2,5 minutos para ficar pronta. Marcouillier fica atento para o sinal que indica a chegada de mais um email contendo um pedido. E então trabalha fazendo a estampa a laser, limpando as canecas e embalando-as, geralmente ouvindo música enquanto trabalha.

“Quando vejo, já são 4h”, contou. “Mas estou achando ótimo, porque em última análise estamos ajudando as pessoas, doando para uma ONG de nossa cidade.”

Até agora ele está conseguindo garantir que cada freguês receba a caneca solicitada dentro do prazo pedido –geralmente até o dia útil seguinte.

A designer gráfica Parker Steven, 28, que vive no condado de Baltimore e trabalha na cidade, é uma dessas freguesas. Ela viu uma xícara da Chase Street na vitrine de outra loja no fim de semana e ficou encantada.

Ela comprou sua caneca no domingo e não usa outra desde então. Ela a usa para tomar café, chá ou refrigerantes.

Stevens postou comentários sobre a caneca no Instagram e está incentivando seus amigos e colegas a comprar uma também.

“A caneca me faz sorrir sempre que a pego nas mãos”, comentou. “Sinto que fiz algo de positivo por comprá-la e que ela representa algo de bom para a cidade. E ela me faz sentir que posso ajudar outras pessoas, mesmo que seja apenas de uma maneira pequena.”

Tradução de Clara Allain 

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