Descrição de chapéu The New York Times

Morre David Koch, bilionário libertário que impulsionou movimento conservador americano

Industrial é considerado 8º homem mais rico do mundo

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Robert D. McFadden
The New York Times

David Koch, que se uniu ao irmão Charles Koch em empreendimentos empresariais e políticos que se tornaram a segunda maior empresa privada dos Estados Unidos, morreu aos 79 anos.

Eles fundaram um poderoso movimento libertário de direita que ajudou a reformular a política americana.

Charles Koch anunciou a morte em um comunicado que não informou a causa, mas observou que David Koch já havia sofrido de câncer de próstata.

O bilionário David Koch, considerado o oitavo homem mais rico do mundo
O bilionário David Koch, considerado o oitavo homem mais rico do mundo - Nicholas Kamm - 4.nov.11/AFP

Ao ligar seu destino às altas ambições de seu irmão mais velho, David Koch (pronuncia-se "couk") tornou-se uma das pessoas mais ricas do mundo —segundo a Bloomberg, o oitavo—, com ativos de US$ 42,2 bilhões (R$ 174 bilhões) em 2019 e uma participação de 42% na empresa familiar global, as Koch Industries.

Ele também se tornou um filantropo nacionalmente conhecido e a primeira face pública da linhagem política dos Koch, como candidato do Partido Libertário a vice-presidente em 1980.

Três décadas após os passos públicos de David Koch na política, segundo analistas, o libertarianismo abastecido a dinheiro dos irmãos Koch ajudou na criação do movimento Tea Party, fortaleceu a ala de extrema-direita do ressurgente Partido Republicano e teve um papel significativo na eleição de Donald Trump a presidente em 2016.

Um nova-iorquino proeminente e sociável, Koch amava balé, tinha sido um aficionado por dinossauros quando criança e lutou contra o câncer de próstata há 27 anos.

Essas foram as histórias por trás de seu nome, que brilhava nas marquises do Lincoln Center, do Museu Americano de História Natural e do Hospital Presbiteriano de Nova York —instituições de Manhattan às quais foram concedidas partes de seu US$ 1,2 bilhão (R$ 4,9 bilhões) em doações beneficentes.

Ele foi uma figura familiar nos bailes da sociedade, um ex-astro do basquete universitário de quase dois metros de altura que durante muito tempo deteve o recorde de 41 pontos em um único jogo, com o time do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, os Engineers.

Ele também teve o que a revista New York chamou de um "estoque aparentemente ilimitado de piadas no tom do clube Elks, muitas vezes seguidas por sua gargalhada alta e rouca".

Koch tinha casas palacianas em Manhattan; Southampton, Nova Iorque; Aspen, Colorado; e Palm Beach, Flórida; um iate no Mediterrâneo alugado por US$ 500 mil (R$ 2 milhões) por semana para escapadelas de verão; e conhecidos que incluíam Winston Churchill Jr., o príncipe Charles, Bill e Melinda Gates.

Ele também teve más experiências e boa sorte. Sobreviveu a um acidente de avião em 1991 que matou 34 pessoas no Aeroporto Internacional de Los Angeles.

Desabou em lágrimas em um banco de testemunhas no Kansas durante um julgamento civil que quase dividiu sua família por causa de dinheiro.

E durante anos ele e Charles enfrentaram e negaram acusações de ter explorado os princípios libertários por interesses próprios.

Eles insistiram que aderiram a uma crença tradicional na liberdade do indivíduo e no livre comércio, nos mercados livres e na liberdade do que chamavam de "intrusões" governamentais, como impostos, recrutamento militar, educação compulsória, regulamentação de empresas, programas de bem-estar social e leis que criminalizavam a homossexualidade, a prostituição e o uso de drogas.

Abastecendo a direita

Desde os anos 1970, os Koch gastaram pelo menos US$ 100 milhões (R$ 411 milhões) —algumas estimativas calculam em muito mais— para transformar um movimento marginal em uma formidável força política destinada a mover os EUA para a extrema-direita, influenciando o resultado de eleições, desfazendo limites a contribuições de campanha e promovendo candidaturas, grupos de pensadores e políticas conservadoras.

Mas eles disseram que não deram dinheiro a nenhum candidato do Tea Party. "Eu nunca fui a um evento do Tea Party", disse David Koch à revista New York em 2010. "Nenhum representante do Tea Party jamais me procurou."

Ainda assim, ele e seu irmão admitiram que ajudaram a fundar e contribuíram com dinheiro para a Americanos para a Prosperidade, grupo de defesa da direita que, segundo foi amplamente divulgado, forneceu apoio logístico ao Tea Party e a outras organizações em campanhas eleitorais e na promoção de causas conservadoras.

Entre os grupos que os Koch apoiaram estava o American Legislative Exchange Council, organização de legisladores estaduais conservadores e lobistas de empresas.

O ALEC, como é conhecido o grupo, elabora modelos de legislação estadual que os membros podem personalizar e apresentar como propostas de lei para cortar impostos, combater a imigração ilegal, afrouxar as regulamentações ambientais, enfraquecer os sindicatos trabalhistas e se opor às leis sobre armas.

Como parte de sua antiga cruzada por menos impostos e menos governo, os irmãos Koch se opuseram a dezenas de iniciativas relacionadas ao trânsito em cidades e condados americanos nos últimos anos, segundo uma análise do New York Times.

Campanhas coordenadas e financiadas pelos Americanos para a Prosperidade combateram legislação estadual para financiar projetos de transporte, montaram campanhas publicitárias e fóruns públicos para derrubar planos de transporte e organizaram bancos telefônicos para convencer os cidadãos de que o transporte público é um desperdício de dinheiro dos contribuintes.

No início de 2017, Charles e David Koch, com um patrimônio líquido de mais de US$ 100 bilhões (R$ 411 bilhões), haviam se tornado líderes de um grupo libertário aliado ao Partido Republicano, que, após oito anos nos bastidores, controlou novamente a Casa Branca, as duas casas do Congresso e muitas legislaturas estaduais.

Sob o governo Trump, as perspectivas dos irmãos Koch em Washington pareciam melhores, pelo menos superficialmente. Mas sob a superfície há diferenças políticas e pessoais substanciais entre os Koch e Trump.

Embora os irmãos não apoiassem Trump, David Koch participou de sua festa na noite da vitória eleitoral e depois se encontrou com o presidente eleito em seu resort Mar-a-Lago, em Palm Beach.

Os Koch contribuíram fortemente para as duas campanhas do vice-presidente Mike Pence ao governo de Indiana e tiveram meia dúzia de aliados próximos entre as opções para o gabinete do presidente e assessores republicanos.

Os irmãos Koch, David (à esquerda) e Charles (à direita) - Reuters/CBS

"Os Koch serão figuras-chave em qualquer discussão sobre qual direção o partido tomará depois de 2016", informou The Times em setembro daquele ano, "e eles estão determinados a direcioná-la para sua visão de livre mercado".

Isso foi profético. Quando as eleições para o Congresso de 2018 se aproximaram, as frustrações dos Koch com Trump irromperam em uma discussão aberta e feia entre Charles e o presidente.

Charles denunciou como divisoras as políticas restritivas de comércio e imigração de Trump e ameaçou retirar o apoio da família aos candidatos republicanos que se opunham às políticas de livre comércio e de encolhimento do governo, centrais para a filosofia política dos Koch.

Trump revidou no Twitter, chamando o aparato político dos Koch de "superestimado" e "uma piada total nos verdadeiros círculos republicanos".

Uma dinastia poderosa

Críticos acusam os Koch de comprar influência e usar sua máquina política para manipular eleições e políticas governamentais sob o disfarce de patriotismo e liberdade, encobrindo o que os críticos chamaram de agenda oculta para cortar impostos e regulamentações federais sobre empresas, meio ambiente e outros interesses, principalmente para beneficiar a família e suas empresas.

Jane Mayer, escritora nova-iorquina e crítica dos irmãos Koch, disse em seu livro "Dark Money: The Hidden History of the Billionaires Behind the Rise of the Radical Right" [dinheiro sombrio: a história oculta dos bilionários por trás da ascensão da direita radical], de 2016, que as políticas libertárias que eles adotaram beneficiaram as empresas química e de combustíveis fósseis de Koch, que estavam entre os maiores poluidores do país, e pagaram milhões em multas e decisões judiciais por violações ligadas a resíduos perigosos.

"Reduzir os impostos e reverter os regulamentos, reduzir o Estado do bem-estar social e eliminar os limites dos gastos de campanha podem ou não ter ajudado outros", escreveu Mayer, "mas certamente reforçaram a mão de doadores radicais com extrema riqueza." Os irmãos Koch rejeitaram as denúncias.

Em entrevistas após a publicação do livro, Mayer disse que investigadores, que ela acreditava terem sido contratados pelos irmãos Koch, tentaram intimidá-la desenterrando informações falsas, incluindo acusações de plágio, para manchar sua reputação.

Enquanto os irmãos se apresentavam como parceiros iguais promovendo ideias libertárias, Charles era o principal tomador de decisões, assim como era a voz dominante nas empresas Koch, segundo a biografia de Daniel Schulman, de 2014, "Sons of Wichita: How the Koch Brothers Became America’s Most Powerful and Private Dynasty" [filhos de Wichita: como os irmãos Koch se tornaram a dinastia privada mais poderosa da América].

Houve outras diferenças. Charles viveu a maior parte de sua vida em um condomínio fechado em Wichita, Estado de Kansas, um barão secreto cercado por advogados, funcionários públicos e seguranças.

Segundo relatos, ele lê economia, história e filosofia política, ouve ópera, almoça no refeitório da empresa com os funcionários e raramente dá entrevistas à imprensa.

David, em contraste, era um extrovertido que ia a vários jantares por semana e se divertia com repórteres, políticos e amigos da sociedade nova-iorquina.

Sua personalidade extrovertida foi exposta em uma entrevista televisionada nacionalmente com Barbara Walters na ABC em 2014. Sua disputa à vice-presidência com Ed Clark, advogado do setor de petróleo indicado candidato presidencial libertário, atraiu quase 1 milhão de votos.

Irmãos contra irmãos

David Hamilton Koch nasceu em Wichita em 3 de maio de 1940, o terceiro dos quatro filhos de Fred Chase Koch, engenheiro de petróleo e empresário, e Mary Clementine Robinson, formada no Wellesley College e filha de um médico de Kansas City.

David e seus irmãos —Frederick, sete anos mais velho; Charles, cinco anos mais velho, e o gêmeo de David, William— cresceram em Wichita sob a disciplina de um pai emocionalmente distante, que os ensinou a lutar e competir uns com os outros.

Esse espírito chegou à idade adulta, gerando disputas e processos que se tornaram manifestações públicas de avareza e malícia fraterna.

Fred Koch ganhou milhões de dólares nas décadas de 1920 e 1930 ao inventar um processo para extrair mais gasolina do petróleo bruto e construir refinarias na União Soviética, na Alemanha nazista e em outros lugares na Europa e no Oriente Médio.

Firmemente anticomunista, ele cofundou a direitista John Birch Society e criou em Wichita a empresa que se tornou a Koch Industries.

Após a morte de Fred Koch, em 1967, seus filhos herdaram participações significativas na empresa.

Charles tornou-se presidente do conselho, chefe-executivo e estrategista da expansão para produtos químicos, oleodutos e bens de consumo, tornando a Koch Industries o segundo maior conglomerado privado do país, com participação em 60 países, mais de 100 mil funcionários e receita anual de mais de US$ 100 bilhões (R$ 411 bilhões).

David formou-se na exclusiva Deerfield Academy em Massachusetts e estudou engenharia química no MIT, sendo diplomado bacharel em 1962 e mestre em 1963.

Trabalhou em empresas de engenharia em Cambridge, Massachusetts e Nova York antes de ingressar na empresa familiar em 1970 como gerente de serviços técnicos. Mas ele não se estabeleceu em Wichita, como Charles.

Em vez disso, fundou um escritório das Koch Industries em Nova York, onde já havia criado raízes.

Era conhecido como um playboy cujas festas de cobertura eram animadas por modelos. Em 1979, foi nomeado presidente de sua própria divisão, a Koch Engineering, que mais tarde se transformou no Koch Chemical Technology Group e, em 1981, tornou-se vice-presidente-executivo da empresa matriz.

Aposentadoria da política e negócios

Em 1º de fevereiro de 1991, um Boeing 737 da USAir voando de Columbus, em Ohio, para Los Angeles, transportando 89 pessoas, incluindo David Koch, colidiu com um pequeno avião durante o pouso.

As 12 pessoas no avião menor e 22 no Boeing morreram. Em uma cabine cheia de fumaça e lotada, Koch abriu uma saída e saltou para a pista, escapando com cortes e pulmões queimados.

Em 1992, ele soube que tinha câncer de próstata. Fez cirurgias e tratamentos com radiação e hormônios que mantiveram a doença sob controle durante décadas. Todos os seus irmãos tiveram câncer de próstata e disseram ter sido curados.

Koch se afastou de seus interesses políticos e empresariais em junho de 2018. Em uma carta para funcionários da Koch Industries anunciando a aposentadoria de seu irmão, Charles Koch disse que a deterioração da saúde de David tornou impossível que continuasse trabalhando.

A carta não revelou a natureza de sua doença.

A presença de David nos círculos sociais e políticos, que antes funcionava nos níveis mais altos, vinha declinando há vários anos.

Solteiro até os 56, Koch se casou com Julia Flesher, uma ex-assistente de moda, em 1996. Eles tiveram três filhos: David Jr., Mary Julia e John Mark.

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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