A fotografia mostra um Boris Johnson descontraído a ponto de colocar o pé direito sobre uma mesa de centro do Palácio do Eliseu, sede do governo francês.
Mas, durante o encontro com o presidente Emmanuel Macron, nesta quinta (22), em Paris, o premiê britânico ouviu uma mensagem pouco otimista, de que não há tempo para negociar um novo acordo para o brexit, a saída do Reino Unido da União Europeia.
“Quero ser muito claro: no próximo mês não encontraremos um novo acordo de saída que seja muito diferente do original”, disse o francês em entrevista coletiva ao lado de Boris.
Já o britânico respondeu que acredita ser possível chegar a um pacto até o fim do atual prazo determinado para a concretização do brexit —31 de outubro—, e que se sentiu “poderosamente encorajado” pela chanceler alemã, Angela Merkel.
Na quarta-feira (21), Merkel sugeriu que Reino Unido e União Europeia podem encontrar nos próximos 30 dias uma solução para o “backstop”, principal entrave para a concretização do acordo.
Atualmente, não existem barreiras físicas na fronteira entre Irlanda do Norte (parte do Reino Unido) e República da Irlanda (país independente que faz parte da UE), um desdobramento do pacto de paz firmado no fim dos anos 1990 e que pôs fim ao conflito entre católicos e protestantes na região.
Com o brexit, porém, esses bloqueios poderiam voltar caso Londres e Bruxelas não cheguem a um acordo de livre circulação entre os países.
O “backstop” é, assim, uma espécie de plano B que permitiria às fronteiras entre as Irlandas permanecerem abertas depois da saída britânica.
Mas Boris quer impedir a implementação do dispositivo, porque isso exigiria do Reino Unido o cumprimento de regras da União Europeia.
No encontro nesta quarta, a chanceler alemã destacou que o principal objetivo ao ouvir as propostas britânicas é a preservação da integridade do mercado único.
“Assim como conseguimos discutir e resolver problemas dentro da União Europeia usando a imaginação, acredito que você também possa encontrar um caminho. Esta será a tarefa”, disse Merkel a Boris.
Ao citar o intervalo de 30 dias, Merkel disse que não pretendia estabelecer um prazo, mas que a declaração servia para “destacar a urgência” da questão.
A libra, sensível à perspectiva de uma saída sem acordo, subiu 1% em relação ao dólar e ao euro após os comentários.
No mesmo dia das falas de Merkel, o presidente francês se pronunciou dizendo que as exigências feitas pelo primeiro-ministro britânico eram inviáveis.
“Os custos de um brexit duro para o Reino Unido, que será a principal vítima, será compensado pelos EUA? Não. E, mesmo que fosse uma escolha estratégica, seria à custa de uma vassalagem histórica do Reino Unido”, disse Macron.
O líder francês também afirmou não ver razão para uma nova prorrogação do prazo para o brexit caso não haja acordo, a não ser que aconteça uma mudança política relevante ou um novo referendo.
“O ponto não pode ser sair da Europa e dizer ‘nós seremos mais fortes’, se, no final, [o Reino Unido] se tornará um parceiro júnior dos EUA, que estão agindo, cada vez mais, de forma hegemônica”, disse.
Boris, um fervoroso defensor do brexit, aposta que a ameaça do caos de uma saída do Reino Unido sem acordo convencerá Merkel e Macron de que a UE deveria fazer um pacto de última hora para atender suas demandas.
O francês, que insistiu em dizer que o destino do Reino Unido está nas mãos de Boris, afirmou que a UE não quer um cenário de saída sem negociação, mas que o bloco estará pronto caso isso aconteça.
Ao encontrar o britânico nesta quinta-feira, no entanto, o presidente francês adotou tom mais sutil. “Ninguém vai esperar até 31 de outubro sem tentar encontrar uma boa solução”, afirmou, ao estender a mão ao premiê.
Os encontros com Merkel e Macron fazem parte da primeira viagem do primeiro-ministro do Reino Unido ao exterior após chegar ao cargo.
“Vamos fazer o brexit acontecer de forma sensata e pragmática, dentro dos interesses de ambos os lados”, respondeu Boris a Macron ao sinalizar o desejo de aprofundar a parceria entre os dois países.
No fim, os encontros com os líderes europeus parecem resumidos na história por trás da foto do britânico quebrando o protocolo e colocando o pé sobre uma mesa na sede do governo francês.
O que parecia ser uma grosseria típica da imagem despojada de Boris era, segundo o site Business Insider, uma dica do próprio Macron. Ele teria dito ao colega que aquele móvel era bom para apoiar os pés.
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