Um acordo sobre a formação de um governo na Itália entre o Movimento 5 Estrelas e o Partido Democrático (PD) parecia mais próximo nesta segunda-feira (26), depois de a sigla de centro-esquerda retirar seu veto à ideia de reconduzir Giuseppe Conte ao cargo de premiê.
Conte não pertence a nenhum dos dois partidos, mas é mais próximo ao 5 Estrelas. O premiê renunciou ao cargo na semana passada, após Matteo Salvini, líder do partido de ultradireita Liga, apresentar uma moção de desconfiança contra ele.
A volta de Conte ao poder é defendida pelo 5 Estrelas (partido antissistema), mas sofria resistências do PD e era o principal obstáculo para um acordo entre os dois partidos, tradicionalmente antagônicos.
"Não há veto, queremos falar sobre políticas", disse Andrea Marcucci, líder do PD no Senado, a repórteres, ao deixar uma reunião dos principais nomes do partido.
Líderes do 5 Estrelas se reuniram em um apartamento no centro de Roma para decidir a resposta.
O partido está dividido entre setores que defendem um acordo com o PD e outros que acreditam que isso destruiria sua imagem antissistema e aceleraria o declínio do apoio de eleitores da legenda, algo que já ocorreu no ano passado.
Conte renunciou na última semana depois que o partido de extrema-direita Liga declarou que sua coalizão de 14 meses com o 5 Estrelas estava acabada. A jogada, liderada por Salvini, desaguaria no pedido de uma nova eleição nacional.
No entanto, a estratégia do atual ministro do Interior e vice-premiê parece estar em vias de falhar.
Só haverá novas eleições se os partidos não chegarem a um acordo para formar o governo. Com 5 Estrelas e PD próximos, a legislatura atual deve seguir, e a Liga deve ir para a oposição.
A Liga e o 5 Estrelas foram os partidos mais votados na eleição de 2018, formando uma coalizão.
Nas eleições para o Parlamento Europeu, porém, a Liga ganhou força, e o 5 Estrelas perdeu eleitores, o que impulsionou o movimento de Salvini, lançando um plano para forçar novas eleições e, assim, obter mais poder.
O dilema do 5 Estrelas é aprofundado pelo fato de que a Liga está tentando ressuscitar a coalizão inicial. A sigla de Salvini chegou a sugerir que o líder do 5 Estrelas, Luigi Di Maio, possa ser o premiê.
"Muitos italianos continuam acreditando que podemos voltar com o 5 Estrelas, e acredito que podemos", disse o ministro da Agricultura da Liga, Gian Marco Centinaio, acrescentando que a Liga estava "disposta a falar" sobre Di Maio assumir o comando.
Pesquisas de opinião sugerem que a Liga perdeu entre 5 e 7 pontos percentuais desde que pressionou o governo, embora continue sendo o partido mais popular, seguido pelo PD e pelo 5 Estrelas.
Somente o presidente da Itália, Sergio Mattarella, pode dissolver o Parlamento. Na segunda-feira (26), ele deu ao PD e ao 5 Estrelas mais tempo. A resposta final sobre um acordo deve ser dada até quarta-feira (28).
A CRISE NA ITÁLIA
mar.2018 Os partidos A Liga (extrema-direita) e Movimento 5 Estrelas (anti-sistema) conquistam votação expressiva nas eleições e debatem formar uma coalizão
jun.2018 Os líderes dos dois partidos, Matteo Salvii (Liga) e Luigi di Maio (5 Estrelas) chegam a um acordo para formar o governo e Giuseppe Conte, um independente, toma posse como premiê
mai.2019 A Liga é o partido mais votado (34%) nas eleições para o Parlamento Europeu. O 5 Estrelas (17%) fica em terceiro lugar, num sinal de perda de força
jul.2019 A Liga é alvo de processo pela acusação de receber doações de campanha da Rússia de modo ilegal
7.ago.2019 Senado aprova nova linha de trem para a França. A Liga defende o projeto, mas o 5 Estrelas tenta barrá-lo, por envolver questões ambientais
8.ago.2019 A Liga convoca uma moção de desconfiança contra o governo e Salvini pede novas eleições
20.ago.2019 Conte renuncia ao cargo
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