A principal preocupação dos Estados Unidos é o Eixo do Mal, e em seguida o Clube de Nações Hostis.
Em sua passagem por Lima, John Bolton, assessor de segurança nacional do presidente Donald Trump, incluiu a Venezuela no primeiro grupo.
Em 6 de agosto, aconteceu na capital peruana a Conferência Internacional pela Democracia na Venezuela, com a participação de 59 países e três órgãos internacionais, e nela foi discutido basicamente o que se faria no "dia seguinte" à queda do regime de Nicolás Maduro.
Ainda assim, um dia antes os Estados Unidos atraíram a atenção quando seu presidente assinou uma ordem executiva para colocar a Venezuela em uma espécie de quarentena econômica, ao bloquear todos os ativos que o governo Maduro controla em território americano.
São as medidas mais contundentes até o momento e a maior ameaça ao governo chavista, já que se tratam de todos os ativos, inclusive os da estatal petroleira PDVSA, que já haviam sido bloqueados anteriormente.
A sanção inclui, além disso, medidas de segunda ordem como a proibição a todo país, empresa ou indivíduo de fazer negócios com a república bolivariana, sob pena de sanções e restrições a fazer negócios nos Estados Unidos.
A situação é semelhante à do embargo contra Cuba instaurado no começo dos nos 1960 e a algumas medidas aplicadas contra o Irã e a Coreia do Norte.
Maduro, de sua parte, apressou-se em classificar a medida como "terrorismo econômico", prometendo resistir às forças externas e internas que querem vê-lo fora do poder.
A situação surgiu em meio ao fracasso das negociações entre representantes do regime e uma facção da frente oposicionista liderada por Juan Guaidó, que muitos países reconhecem como presidente legítimo da Venezuela.
O objetivo desses diálogos, realizados em Barbados e organizados pela Noruega, era estabelecer uma possível saída negociada, por meio de eleições antecipadas com garantias.
O principal obstáculo para a negociação foram os prazos para o abandono do poder. Enquanto Maduro se negava a deixar o cargo nos meses anteriores a uma possível eleição, os Estados Unidos e alguns países latino-americanos se opunham a que ele mantivesse o posto durante a realização do pleito, devido à possível manipulação da votação.
Assim, estamos novamente em ponto morto e, ainda que essas novas sanções econômicas aumentem a pressão sobre o regime, o efeito devastador sobre a economia que se espera delas não acontecerá; a analogia seria espetar um animal moribundo com um pedaço de pau para provocar uma reação.
E, se bem que as medidas privem ainda mais a Venezuela de moeda estrangeira, o aparato produtivo do país está quase desmantelado e os escassos bens que lá circulam não causam mais que a atual hiperinflação.
Além disso, em termos de efeito político, as políticas não farão mais que exacerbar as tensões existentes e criar novos confrontos.
Os participantes da Conferência de Lima, entre os quais representantes da oposição venezuelana, reconheceram que a tarefa mais importante e mais difícil será a imensa reconstrução do aparato produtivo do país, começando pela PDVSA.
A Venezuela detém as maiores reservas mundiais de petróleo, mas sua produção caiu a menos de um milhão de barris diários, apenas dois terços da produção nacional em 2000.
A verdadeira tragédia venezuelana, no entanto, não está na destruição do aparato produtivo, e sim no êxodo de quatro milhões de venezuelanos ao exterior.
Ricardo Aceves é economista e trabalha como analista e pesquisador para a Dow Jones. É especialista em conjuntura econômica da América Latina e foi economista sênior para a América Latina na consultoria FocusEconomics.
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Tradução de PAULO MIGLIACCI
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