Paquistão expulsa embaixador da Índia e suspende comércio bilateral por crise na Caxemira

Medida é retaliação a decisão indiana de retirar status especial da região disputada pelos dois países

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Islamabad, Srinagar e Washington | AFP e Reuters

O Paquistão anunciou nesta quarta-feira (7) a expulsão do embaixador indiano em Islamabad e a suspensão do comércio bilateral com a Índia, dois dias depois de Nova Déli revogar a autonomia constitucional da Caxemira, região disputada por ambos os países.

“Vamos chamar nosso embaixador em Déli e expulsar o deles”, declarou o chanceler paquistanês, Shah Mehmood Qureshi, à TV ARY news.

Em um comunicado, o governo do Paquistão anunciou também a “suspensão do comércio bilateral” com a Índia e disse que apresentará a contenda ao Conselho de Segurança da ONU. 

Os EUA disseram que apoiam o “diálogo direto” entre Índia e Paquistão sobre a Caxemira.

 

Na segunda, o governo do premiê indiano, Narendra Modi, retirou por decreto presidencial a autonomia constitucional do estado de Jammu e da Caxemira (norte), tomando o controle dessa região majoritariamente muçulmana.

Índia e Paquistão —ambos potências nucleares— travaram duas guerras pela Caxemira, cujo controle disputam desde a independência do Império Britânico. Em fevereiro, a captura de um piloto indiano por forças paquistanesas após um ataque do Paquistão acirrou as tensões na região. 

A Índia, que combate insurgentes na área há 30 anos, disse que o status especial impede o desenvolvimento da Caxemira e por isso quer integrar a região ao resto do país. 

Moin-ul-Haq, recém-apontado embaixador do Paquistão na Índia, ainda teria de assumir o posto, mas já não irá mais para Nova Déli, enquanto Ajay Bisaria, embaixador indiano, será expulso. 

Nesta quarta, o bloqueio à Caxemira chegou ao terceiro dia, com ao menos um manifestante morto.

Uma fonte das forças de segurança de cidade de Srinagar avaliou que a explosão da situação da Caxemira é uma questão de tempo. 

Apesar da grande presença das forças de segurança e de restrições a deslocamentos e reuniões em vigor, algumas manifestações esporádicas foram registradas em Srinagar.

Mais de uma centena de pessoas, incluindo líderes políticos locais, foram detidas nos últimos dias, informou a agência Press Trust of India.

Há vários dias as ruas de Srinagar são dominadas pelo silêncio. Tropas indianas estabeleceram postos de controle com alambrados, e apenas os pássaros e cães circulam com liberdade pela cidade.

Os jornalistas não são autorizados a passar pelos postos de controle militares. 

Um fotógrafo que trabalha na região há mais de 30 anos e que pediu para não ter o nome divulgado disse que se trata de um bloqueio sem precedentes.

Um policial atuando na região disse que os protestos de ruas são localizados, devido à forte presença das segurança, e que a polícia tem usado gás lacrimogêneo e spray de pimenta para dispersá-los. 

Uma testemunha afirmou ter visto um protesto na área de Old Barzullah, próximo ao centro de Srinagar, em que cerca de cem meninos jogavam pedras contra policiais, que reagiram com disparos de gás lacrimogêneo. 

A Índia ordenou um aumento da segurança nos aeroportos do país, dizendo que “a aviação civil se tornou alvo”. 

Todas as comunicações, incluindo telefone, televisão e conexão de internet, foram cortadas na Caxemira. 
No entanto, segundo uma fonte da polícia, cerca de 200 policiais e funcionários públicos receberam telefones por satélite, com centenas de outros utilizando uma rede militar de uso restrito.

As autoridades não declararam oficialmente um toque de recolher, mas restringiram viagens e reuniões não essenciais de quatro ou mais pessoas.

Durante a noite, vans da polícia patrulham as ruas com alto-falantes, alertando a população a ficar dentro de casa.

Funcionários dos serviços de emergência, como ambulâncias de hospitais e equipes dos bombeiros disseram que estão sendo frequentemente parados em pontos de bloqueio e às vezes impedidos de seguir adiante.

O governador de Jammu e da Caxemira, Satya Pal Malik, pediu que as autoridades garantam que a população tenha suprimentos suficientes. 

O sul da Caxemira, epicentro da insurgência contra a Índia nos anos recentes, foi completamente bloqueado, afirmaram autoridades locais. Uma grande parcela da população da Caxemira, majoritariamente muçulmana, vê a Índia como uma força de ocupação.​

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