Presidente do Paraguai fala ao Ministério Público sobre caso Itaipu

O órgão investiga irregularidades no acordo entre Brasil e Paraguai

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Buenos Aires

O presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez, recebeu neste domingo (11) um grupo de promotores em Assunção para responder questões relacionadas ao acordo assinado entre o país e o Brasil sobre Itaipu, que quase levou a seu impeachment. 

Os promotores Marcel Pecci, Susy Riquelme e Liliana Alcaráz chegaram ainda pela manhã na Quinta de Mburuvicha Róga, a residência oficial, para recolher o depoimento do mandatário sobre o novo acordo do uso da usina, que acabou cancelado pelo Paraguai. 

O Ministério Público paraguaio investiga possíveis irregularidades contidas no acordo, que permitiria que Assunção pudesse negociar com empresas privadas brasileiras parte de sua energia excedente.

Presidente do Paraguai, Mario Abdo Benitez, participa de entrevista coletiva em Assunção, no dia 1 de agosto de 2019. Nesse dia, o Brasil e o Paraguai cancelaram o acordo de energia em relação à hidroelétrica de Itaipu. - AFP

Os dois países assinaram em 24 de maio um acordo secreto sobre a distribuição de energia da usina hidrelétrica binacional de Itaipu que traria prejuízos de mais de US$ 200 milhões a Assunção.

A ata, porém, acabou sendo revelada ao público no fim de julho, causando uma crise política no país.

A oposição e parte do Partido Colorado, sigla de Abdo Benítez, anunciaram que votariam o impeachment do presidente por causa do documento. A pressão só diminuiu quando o governo anunciou em 1º de agosto que estava cancelando o acordo.  

O caso, porém, ficou mais grave quando foram entregues ao Ministério Público conversas vazadas entre o então presidente da Ande (estatal energética paraguaia) e o advogado José Rodríguez, que se apresentava como assessor jurídico de do vice presidente paraguaio, Hugo Velázquez. Depois que os chats vieram à tona, ambos negaram ter um vínculo. 

Nas conversas, fala-se de uma possível venda de parte da energia que corresponde ao Paraguai a uma empresa brasileira, a Léros, que segundo essas mensagens estaria ligada à família Bolsonaro

Alguns dias depois, outros diálogos divulgados mostraram que, além de Velázquez, o presidente Abdo Benítez também estaria a par da negociação e a teria aprovado. Por isso, tanto o presidente quanto seu vice foram chamados a depor. 

Ao entrar na residência presidencial, a promotora Liliana Alcaraz disse que o depoimento de Abdo Benítez tinha como propósito "obter informação" e teria um formato de entrevista informal, "e não de interrogatório". 

E acrescentou: "nesta etapa, o Ministério Público não tem nenhum tipo de formalidade, não se trata de um julgamento oral, onde se recolhem provas", disse.

O promotor Pecci disse que a investigação seguirá ao longo da semana, depois da entrega de um relatório e um cronograma sobre como foram as negociações entre a Ande e a Itaipu. Todos os telefones envolvidos nos chats devem ser entregues, por pedido do Ministério Público.

A pressão em torno da dupla presidencial tem sido grande, com alguns protestos tendo ocorrido em Assunção mesmo depois de a tentativa de impeachment, em 1º de agosto, não ter ido adiante.

Por ora, há uma espécie de trégua dentro do Partido Colorado, uma vez que o grupo liderado pelo rival interno de Abdo Benítez, o ex-presidente Horacio Cartes, se comprometeu a não oferecer os votos necessários ao início do julgamento político.

Ainda assim, o principal partido opositor, o PLRA, protocolou novamente o pedido de uma ação para julgamento político —por enquanto, ainda sem o número suficiente para autorizar o início do processo. 

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