Presidente do Paraguai quer votar impeachment para esvaziá-lo, diz oposicionista

Abdo Benítez forçaria votação por saber que não há apoio suficiente para aprovação do afastamento

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Buenos Aires

Para o senador paraguaio Eusebio Ramón Ayala, da oposição, o presidente Mario Abdo Banítez quer que o Senado vote em breve o pedido de impeachment contra ele porque sabe que ainda não há votos necessários para a abertura do processo.

O país sul-americano enfrenta crise política desde o fim de julho, quando foi revelada a assinatura de um acordo secreto entre Paraguai e Brasil para a distribuição de energia da usina hidrelétrica binacional de Itaipu.

O novo pacto traria prejuízos de mais de US$ 200 milhões a Assunção, o que foi considerado "traição à pátria" pelos parlamentares da oposição e até pelo Honor Colorado, corrente do partido do presidente. Após o cancelamento do acordo, no começo de agosto, esse grupo retirou o apoio ao afastamento.

O presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez, acena a apoiadores em evento em Assunção
O presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez, acena a apoiadores em evento em Assunção - Jorge Adorno - 13.ago.19/Reuters

No entanto, mensagens de texto trocadas entre o advogado José Rodríguez, que se apresentou como assessor jurídico da vice-presidência do Paraguai, e Pedro Ferreira, então presidente da Ande, a agência nacional de eletricidade do país, complicaram a situação, o que levou a oposição a protocolar um pedido de impeachment.

Nas conversas, o advogado diz estar tratando do interesse da compra de energia por parte de representantes da empresa brasileira Léros, que, segundo as mensagens, representariam a “família presidencial do país vizinho”, ou seja, a família do presidente Jair Bolsonaro.

Ferreira alerta Rodríguez que o ponto seis do acordo estabelecia “não poder haver exclusividade” na venda de energia para uma empresa brasileira. Sem a restrição, o Paraguai poderia vender o excedente de energia elétrica produzida em Itaipu para quem desejasse.

O senador Ayala defende que, frente à investigação conduzida pelo Ministério Público local, não há razão para ter pressa para a votação do impeachment e que é preciso esperar "para saber mais detalhes sobre as conversas". "Aí sim poderemos contar com os votos do Honor Colorado e levar o presidente Mario Abdo Benítez a ser afastado", afirma. 

"O Honor Colorado, naquele dia da primeira tentativa de impeachment, deixou claro que o apoio deles a Abdo Benítez era provisório, apenas até que se apure melhor as acusações contra ele." 

Representante do PLRA (Partido Liberal Radical Autêntico), Ayala diz que a ata sobre Itaipu assinada entre Paraguai e Brasil vem de uma negociação "cheia de irregularidades".

Embora admita que não há evidências suficientes sobre o interesse de uma empresa brasileira supostamente vinculada ao presidente Jair Bolsonaro, "esse assunto foi tratado de modo inédito, às escondidas, o que já nos faz ter muitas suspeitas de tráfico de influências".

Por outro lado, Ayala quer celeridade na apuração do caso porque, segundo ele, a governabilidade do país está extremamente afetada. "Os paraguaios têm a certeza hoje de que este governo não defende o interesse do Paraguai. A população se sente traída." 

Já o ministro da Fazenda do governo de Abdo Benítez, Benigno López, diz que não há mais crise política e que o governo está voltando a dar tranquilidade aos mercados internacionais e à região.

"O momento mais crítico já passou, tanto o presidente como o vice já deram suas explicações à Justiça. Abdo Benítez segue com boa relação com os governos vizinhos e tem mantido reuniões de gabinete para transmitir tranquilidade."

Para ele, o que causou a crise das últimas semanas foi o "fato de a discussão sobre Itaipu, sempre conduzida de maneira técnica, ter sido levada de modo equivocado ao âmbito político".

"Agora a discussão voltou à área técnica, de onde nunca deveria haver saído. E logo haverá um novo acordo. Não houve segredo de nada. Os presidentes Bolsonaro e Abdo são amigos, por isso vêm conversando, mas não com a intenção de que nada seja secreto."

O ministro argumenta que as mensagens trocadas não são prova suficiente de irregularidades e que a possibilidade de um impeachment "é um direito legítimo previsto pela Constituição".

"Só que isso já ocorreu há duas semanas, e se interrompeu porque não havia votos suficientes. Não tem por que achar que numa próxima rodada será aprovado."

López também diz que a insatisfação nas ruas não é algo relevante porque não vê um movimento grande pedindo a saída do presidente. "O que vejo é um grupo político", referindo-se aos membros do PLRA, "tentando chegar ao poder por uma via que não é a democrática".

O ministro diz que, se há insatisfação popular, é devido à incerteza em relação ao crescimento do país, que vêm se desacelerando. Foi de 4,5% em 2017 para 3,7% em 2018. 

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