Descrição de chapéu The New York Times

Trump volta a dar ouvidos a uma voz divisora

Presidente americano tem falas validadas por comentarista da extrema direta

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Maggie Habberman
Washington | The New York Times

Enquanto o presidente Donald Trump, em campanha de reeleição, intensifica seu esforço para levar os eleitores a sentir medo de imigrantes, ele está novamente dando destaque a uma voz que descobriu durante sua última campanha presidencial. Alguém que validou seus argumentos e que, para muitos, defende o racismo.

Essa voz é a de Katie Hopkins, comentarista britânica de extrema direita que fez das críticas arrasadoras a migrantes e muçulmanos, além de defesas de Trump, um dos elementos mais frequentes de seu discurso público. Graças às suas opiniões sobre imigrantes, as manchetes britânicas a descrevem frequentemente como “racista” e “fanática”.

O presidente dos EUA, Donald Trump, em entrevista coletiva no jardim da Casa Branca, em Washington
O presidente dos EUA, Donald Trump, em entrevista coletiva no jardim da Casa Branca, em Washington - Ting Shen - 9.ago.19/Xinhua

Trump evocou Hopkins na manhã do último sábado (3), pouco antes do início de um massacre que deixou 22 mortos em El Paso, Texas, no qual o suspeito deixou um manifesto anti-imigrantes que ecoou o discurso inflamatório do próprio Trump sobre o tema.

De seu clube de golfe em Bedminster, Nova Jersey, o presidente compartilhou um tuíte de Hopkins criticando o prefeito de Londres, Sadiq Khan, pelas taxa de criminalidade na cidade. Trump trava uma vendeta com Khan desde 2016, quando o londrino criticou declarações do presidente sobre o islã.

“O prefeito de Londonistão, que mal chega à altura dos mamilos de alguém, NUNCA foi tão impopular quanto agora”, escreveu Hopkins no Twitter. “Seus índices de aprovação estão ABAIXO DE ZERO porque somos a cidade das facadas. Londres merece algo melhor. Fora Khan".

O presidente também retransmitiu uma postagem de Hopkins culpando a chanceler alemã, Angela Merkel, por crimes cometidos por imigrantes.

Na segunda-feira (5), sob pressão pública para expressar repúdio pelo racismo por trás do massacre de El Paso, Trump criticou o supremacismo branco em um discurso redigido em grande parte por um assessor,
Stephen Miller. Mas é frequentemente o feed de Twitter do presidente que expõe sua voz verdadeira.

Trump tem um histórico de promoção de opiniões incendiárias de extrema direita, incluindo as de nacionalistas brancos, teóricos conspiratórios e críticos do islã. Mesmo assim, em meio à enxurrada de outras notícias, sua admiração por Katie Hopkins recebeu pouca atenção até agora, fato que preocupa alguns defensores de reformas da imigração.

“Não há dúvida alguma quanto ao tipo de pessoa que é Katie Hopkins”, afirmou Todd Schulte, presidente da organização FWD.us. “O presidente deveria ter parado há muito tempo de utilizar sua plataforma para difundir a ideologia dela. Ele não o fez. Isso diz às pessoas tudo que elas precisam saber”.

Ex-colunista do “Sun” e do “Daily Mail” e ex-participante da versão britânica de “O Aprendiz”, Hopkins é conhecida no Reino Unido por suas provocações políticas.

Em uma coluna escrita em 2015, ela comparou migrantes a baratas. E em 2017, depois de um ataque suicida que causou 22 mortes num concerto de Ariana Grande em Manchester, Hopkins escreveu no Twitter que “precisamos de uma solução final” para o problema do terrorismo. Ela deletou a postagem depois.

Difundir o medo de muçulmanos e criticar outros políticos por não empregarem a frase “terrorismo islâmico radical” foi uma das bases da campanha presidencial de Trump em 2016. Em entrevista que concedeu a Anderson Cooper, da CNN, em março desse ano, ele disse que “o islã nos odeia”. No ano anterior, em entrevista ao Yahoo News, ele não descartou a criação de um registro obrigatório de muçulmanos nos Estados Unidos. E depois de um massacre em San Bernardino, Califórnia, pediu uma medida para proibir o ingresso de muçulmanos no país.

Os tuítes e comentários de Katie Hopkins foram uma primeira fonte de validação que Trump recebeu nessa campanha.

“Agradeço à respeitada colunista Katie Hopkins”, escreveu Trump no Twitter em 2015, “por seus textos incisivos sobre os problemas do Reino Unido com muçulmanos”. Em outro tuíte, ele disse: “Os políticos do Reino Unido deveriam ficar de olho em Katie Hopkins”, acrescentando: “Muitas pessoas no Reino Unido concordam comigo!”.

Trump elogia o Twitter, descrevendo a plataforma como uma maneira que tem de se comunicar diretamente com sua base, e a rede virou uma maneira de seus seguidores mais controversos se comunicarem diretamente com ele.

Mas desde que chegou à Presidência, Trump manteve distância do feed de Hopkins no Twitter. Mais recentemente, porém, ela voltou a chamar sua atenção quando ele atacou Sadiq Khan durante a visita de Estado que fez ao Reino Unido.

No mês passado, Trump retransmitiu o post de Hopkins sugerindo que “mandem-na para casa” —uma frase que defensores de Trump gritaram contra uma das duas primeiras mulheres muçulmanas eleitas deputadas nos EUA— poderia ser um novo slogan de campanha. “’Mandem-na para casa’ é o novo ‘prendam-na’”, escreveu Hopkins.

A tarefa de controlar o que Trump posta no Twitter às vezes é um esforço coletivo empreendido em conjunto com seu assessor de longa data Dan Scavino. Mas nos fins de semana, quando está sozinho, o presidente tende a ler as respostas a seus tuítes e, segundo um ex-funcionário da administração, frequentemente posta réplicas ao que encontra.

Ele é especialmente receptivo a tuítes que reforçam seus próprios pontos de vista, disse o ex-funcionário, e também a postagens de pessoas que têm “tiques” azuis ao lado de seus nomes, indicando que foram verificadas pelo Twitter.

Um porta-voz da Casa Branca, questionado sobre como Trump encontrou os tuítes de Katie Hopkins, não respondeu.

Em entrevista, Hopkins disse que nunca falou com Trump, mas não respondeu se algum assessor do presidente já entrou em contato com ela. Mesmo assim, descreveu Trump como alguém que pensa como ela e que está sendo tratado injustamente por falar com franqueza sobre a imigração.

“Não me surpreende que Trump reproduza meus tuítes”, ela disse, acrescentando que vê o Reino Unido e os EUA como semelhantes, na medida em que ambos têm elites urbanas cuja voz se eleva mais alto que outras vozes.

“Acho que é por isso que o presidente Trump e eu acabamos passando uma mensagem semelhante.” Hopkins elogiou os esforços de Trump, no início de seu mandato, para impedir a entrada nos EUA de pessoas vindas de meia dúzia de países de maioria muçulmana.

“Acho que o decreto proibindo a entrada de muçulmanos foi pelo menos uma maneira de dizer que precisamos recuperar o controle”, disse a britânica.

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