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Venezuelanos são retirados de barracos para montagem de albergue em Manaus

Na prática, casas improvisadas deixam de existir para criar espaço só para jantar e dormir

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Manaus

Parte dos cerca de 500 venezuelanos que moram em barracos improvisados no entorno da rodoviária de Manaus começou a ser retirada nesta terça-feira (27) por equipes do Exército e da prefeitura.

A desmontagem dos barracos será iniciada na quarta (28), para dar espaço a um albergue sob tendas, estruturas que foram compradas via licitação pelo governo federal.

Na prática, os imigrantes do país vizinho deixam de morar no terreno, que agora, com o albergue, só poderá ser ocupado à noite para jantar, dormir e tomar banho, com entrada controlada.

Durante o dia, não será permitida a presença deles.

Acampamento de venezuelanos perto da rodoviária de Manaus sofre ação de retirada de imigrantes para montagem de albergue - Rosiene Carvalho/Divulgação

A retirada dos imigrantes deve ser concluída até as 15h de quarta, quando está previsto o início da montagem das novas tendas, que deve levar até três dias para ser concluída.

Enquanto isso, os venezuelanos e seus pertences serão acomodados em alojamentos de um ginásio público, a arena Amadeu Teixeira, cedida pelo governo estadual. Lá terão acesso a vestiários e alimentação.

O terreno onde estão atualmente os barracos, pertencente à prefeitura, será usado pelo Exército para montar o albergue. As novas tendas serão divididas em espaços para famílias, homens solteiros e mulheres solteiras.

A medida não agradou os imigrantes, conta o ex-militar venezuelano Samuel Enrique Nunes Perez, 21, que vive há dois meses no acampamento, com a esposa e a filha de três anos. Ele teme perder o pouco que tem. 

“Em Boa Vista fizeram do mesmo jeito. Levaram-nos a um local que disseram que era provisório e, quando voltamos, os pertences que guardamos lá foram jogados fora. Perdi fogão e geladeira. Eu já vivi isso uma vez, não vou viver de novo”, disse.

Perez não foi o único a criticar a medida. A ação provocou desconfiança entre outros imigrantes, que chegaram a apresentar resistência.

Mas, após uma conversa com representantes de órgãos municipais e estaduais de assistência social e o acompanhamento do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), alguns aceitaram a mudança.

O problema, diz o ex-empresário Aníbal Gutierrez, 46, foi a falta de comunicação prévia sobre a transferência dos imigrantes. “Fomos pegos de surpresa, foi tipo ou vocês vão ou vocês vão, não tivemos opção nem diálogo."

No entanto, ele conta que os próprios venezuelanos decidiram, voluntariamente, deixar o terreno e seguir para o Amadeu Teixeira.

De acordo com o coordenador-adjunto da força-tarefa da operação, coronel George Feres Kanaan, a proposta do novo albergue é criar uma área de pernoite protegida.

O local deve funcionar no mesmo modelo que os pontos de apoio montados em Boa Vista, onde os imigrantes passam o dia fora e só retornam para jantar, tomar banho e dormir. 

“A ação faz parte do ordenamento da rodoviária. Com as tendas, eles vão poder pernoitar em área segura, sem crianças correndo entre os carros ou em situação de mendicância. Mas não poderão permanecer nas tendas durante o dia. Para onde vão? Esperamos que vão trabalhar, estudar, procurar emprego”, disse, ao citar que as regras ainda serão definidas. 

Além disso, os venezuelanos poderão contar com a estrutura já montada pela Operação Acolhida na rodoviária, que inclui um posto de recepção com banheiro, lavanderia, área de recebimento de doações e refeitório. 

A decisão de estender a Operação Acolhida —antes restrita a Roraima, estado que é a via de entrada dos venezuelanos no Brasil— para Manaus foi motivada pelo fluxo crescente de imigrantes na capital amazonense, e também pela demora para emissão dos protocolos de solicitação de refúgio junto à Polícia Federal.

Sem o pedido, os imigrantes não podem retirar documentos, como CPF e carteira de trabalho. 

A proposta é que parte dos serviços ofertados nos abrigos de Roraima sejam disponibilizados também aos imigrantes de Manaus, como a emissão de documentos, assistência em saúde e, principalmente, a estratégia de interiorização.

O programa de interiorização do governo federal começou em abril de 2018 e, até o início deste mês, já havia transportado mais de 15 mil venezuelanos de Boa Vista para outras 67 cidades brasileiras. 

De acordo com estimativas da Operação Acolhida, atualmente existem mais de 254 mil imigrantes venezuelanos vivendo no Brasil e, todos os dias, 500 pessoas cruzam a fronteira em busca de refúgio.

Ainda segundo a agência de refugiados da ONU, só nos primeiros três meses deste ano mais de 3.000 venezuelanos chegaram a Manaus, mas nem todos conseguiram vaga nos seis abrigos mantidos por prefeitura, governo do Estado e pela Cáritas Arquidiocesana.
 
Segundo dados da Secretaria de Estado de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos (Sejusc), atualmente 536 venezuelanos ocupam a área do entorno da rodoviária de Manaus.

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