24 suspeitos do caso dos 43 estudantes desaparecidos no México são libertados

Juiz responsável pela decisão já concedeu liberdade a outros 53 investigados

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Cidade do México | AFP e Reuters

Às vésperas do aniversário de cinco anos daquela que ficou marcada como a tragédia de Ayotzinapa, uma decisão judicial tornou a afligir os familiares dos 43 estudantes desaparecidos no sul do México

Vinte e quatro suspeitos de envolvimento no crime foram libertados sob a justificativa de que haviam sido submetidos à tortura enquanto estavam presos.

O número soma-se a outros 53 suspeitos que já tiveram liberdade concedida pelo mesmo juiz, somando um total de 77 pessoas em liberdade.

Manifestantes seguram retratos de estudantes desaparecidos durante protesto no estado de Guerrero, na Cidade do México - Edgard Garrido - 26.ago.17/Reuters

Na noite de 26 de setembro de 2014, a polícia municipal de Iguala, no estado de Guerrero (sudoeste), desviou os ônibus em que viajavam estudantes da Escola Normal Rural de Ayotzinapa (vilarejo a 200 km dali), a maioria deles adolescentes. 

 
Nove pessoas morreram no local após um tiroteio. Em seguida, os ônibus e os 43 estudantes que viajavam neles deixaram o local, guiados por policiais. 

A partir daí, pouco se sabe. Diversas evidências foram negadas ou relativizadas depois de apresentadas.

Os únicos restos mortais encontrados por equipes forenses internacionais, meses depois, foram os de Alexander Mora Venancio e Jhosivani Guerrero de la Cruz. 

De acordo com a versão oficial de 2015, os estudantes foram entregues pela polícia municipal a narcotraficantes, que os mataram na cidade de Iguala, cremaram seus corpos e jogaram as cinzas em um rio próximo. 

Segundo o governo, a quadrilha matou os estudantes depois de confundi-los com membros de uma organização rival.

Em 2018, o Escritório de Direitos Humanos da ONU afirmou que as autoridades mexicanas teriam torturado dezenas de pessoas envolvidas no caso.

A decisão do juiz de libertar os suspeitos tem sido criticada por subestimar provas existentes e negar prazos razoáveis ​​aos promotores para que corrijam as investigações. 

"Esta resolução é uma afronta às vítimas, aos pais e à Justiça em nosso país. Ela mostra a miséria e a podridão em que o sistema judiciário está", afirmou Alejandro Encinas, chefe da comissão da verdade criada para o caso. 

Encinas, que também é subsecretário de Direitos Humanos no governo do presidente Andrés Manuel López Obrador, alertou que poderá haver mais liberações nos próximos dias. 

"O juiz interpreta a lei com muita cautela, mas não promove justiça e causa sérios danos à busca da verdade", disse.

Entre os que foram libertados até agora estão supostos membros de grupos criminosos, bem como alguns dos policiais que teriam participado do episódio.

Neste domingo (15), uma autoridade do governo confirmou a abertura de uma investigação contra o ex-procurador-geral do México, Jesús Murillo Karam, e seus principais assessores envolvidos no caso por suposta condução indevida.

À época, o desaparecimento dos estudantes atingiu duramente a reputação do então presidente Enrique Peña Nieto, o que ajudou a minar a confiança no governo nas investigações e a abrir caminho para a vitória esmagadora de López Obrador no ano passado.

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