A acusação de que o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, teria assediado uma jornalista 20 anos atrás ameaça ofuscar o congresso anual de seu partido, que começou nesta segunda-feira (30) e vai até quarta. 

Charlotte Edwardes afirmou em um artigo publicado no domingo, no jornal The Sunday Times, que foi tocada inapropriadamente por Boris durante um almoço no escritório da revista conservadora The Spectator, em Londres, logo após ele se tornar editor da publicação, em 1999. 

"Por baixo da mesa, sinto a mão de Johnson na minha coxa. Ele a está apertando. Sua mão está no topo da minha perna, e ele tem carne suficiente sob os dedos para que eu me levante de repente", relata no artigo, escrito por ocasião dos dois anos do movimento antiassédio #MeToo.

​Charlotte, que na época era uma jovem repórter, afirma ter compartilhado o episódio com uma outra mulher que também estava sentada ao lado de Boris durante o almoço. Segundo a jornalista, ela teria respondido: “Oh, meu Deus, ele fez o mesmo comigo!”.

O gabinete do primeiro-ministro divulgou na noite de domingo (29) um breve comunicado no qual afirma que “a acusação é falsa”. Boris, que está em Manchester, no norte da Inglaterra, para o congresso anual de seu partido, também negou o incidente em uma entrevista à Sky News

“Se o primeiro-ministro não se lembra do incidente, então tenho claramente uma memória melhor do que a dele”, respondeu Charlotte no Twitter.

O crime de abuso sexual não prescreve no Reino Unido —ou seja, não há uma lei que defina o prazo máximo para a vítima se manifestar e um processo penal contra o suposto autor seja aberto. No entanto, há histórico de casos isolados em que juízes julgaram que os fatos teriam acontecido há muito tempo.

Ela recebeu apoio do ministro da Saúde Matt Hancock, que disputou com Boris a liderança do partido conservador em julho. "Eu a conheço bem e sei que ela é digna de confiança", declarou ao Channel 4.

“Concordo totalmente com Matt Hancock”, acrescentou no Twitter Amber Rudd, que renunciou no mês passado ao cargo de ministra do Trabalho. Outros políticos, porém, expressaram apoio a Boris.

"É uma pessoa decente. Acredito que se importa muito com as mulheres e meninas", disse Penny Mordaunt, ex-ministra da Defesa, enquanto a deputada Rachel Maclean destacou sua campanha contra a mutilação genital feminina.

Boris também corre o risco de ser investigado devido ao relacionamento com uma empresária americana, Jennifer Arcuri, que recebeu financiamento público na época em que o conservador era prefeito de Londres.

Arcuri, 34, teria recebido 126 mil libras (R$ 643 mil) em verbas públicas e tido acesso privilegiado em viagens comerciais no exterior e patrocínios, segundo o diário Sunday Times revelou.

O jornal afirma que eles tiveram um caso e não declararam nenhum potencial conflito de interesses. “Tudo foi feito como deveria”, replicou o premiê. 

Separado desde o ano passado de Marina Wheeler, Boris namora Carrie Symonds, 31, especialista em comunicação 24 anos mais nova que ele.

Existe preocupação com o impacto que essas acusações podem ter sobre a popularidade do polêmico primeiro-ministro entre as eleitoras, dada a perspectiva de eleições antecipadas nos próximos meses. 

Para muitos em Manchester, porém, o principal problema ainda é o brexit​. E eles afirmam acreditar que Boris é a pessoa que pode fazê-lo acontecer, mesmo ao custo de uma saída brutal da União Europeia, caso o Reino Unido não chegue a um acordo com Bruxelas.

Questionado pela BBC sobre o impacto desse cenário, calculado em até 30 bilhões de libras (R$ 153 bilhões) por ano para os cofres públicos, o ministro das Finanças, Sajid Javid, disse que ninguém sabe realmente quanto isso poderia custar.