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Âncora de canal americano corta entrevista de Trump para 'evitar inverdades'

Medida reforça debate sobre como cobrir um presidente que regularmente faz insinuações controversas

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The New York Times

Sete minutos depois de o presidente americano Donald Trump iniciar sua primeira entrevista coletiva desde que os democratas abriram uma investigação formal de impeachment, a MSNBC tomou uma decisão que a colocou em posição diferenciada das principais redes nesta quarta (25): ela cortou Trump.

"Nós genuinamente odiamos fazer isso", disse a âncora Nicolle Wallace quando Trump, no meio de uma frase, foi cortado das telas dos telespectadores. "Mas o presidente não está dizendo a verdade."

Wallace, que não é fã de Trump, apresenta um programa muito crítico em relação à Casa Branca.

O presidente dos Donald Trump junto ao secretário de Estados dos EUA, Mike Pompeo, durante entrevista coletiva em Nova York
O presidente dos Donald Trump junto ao secretário de Estados dos EUA, Mike Pompeo, durante entrevista coletiva em Nova York - Li Muzi - 25.set.19/Xinhua

Mas a medida reforçou um debate contínuo no setor de notícias televisivas: como cobrir responsavelmente um presidente que regularmente faz insinuações e acusações infundadas.

As redes ABC, CBS e NBC interromperam a programação diurna para transmitir as declarações de Trump, do centro de Manhattan, em um dia em que ele estava pronto para se juntar ao seleto grupo de presidentes que enfrentaram a ameaça de impeachment.

Em uma transmissão ao vivo para milhões de telespectadores, Trump alegou, sem provas, que o ex-vice-presidente Joe Biden e seu filho haviam lucrado com negociações na Ucrânia.

Ele insultou jornalistas e acusou o Washington Post de publicar um "artigo falso".

Ele afirmou sem evidências que o senador democrata Chris Murphy, de Connecticut, havia "ameaçado" as autoridades ucranianas e disse que os democratas haviam programado sua investigação de impeachment para atrapalhar a participação dele na Assembleia das Nações Unidas.

A interrupção de Trump durante a entrevista coletiva o privaria de um púlpito para fazer suas alegações.

Mas os produtores de notícias costumam respeitar o direito do público de saber o que seu presidente está dizendo, especialmente em um momento crucial na política do país.

Nesta quarta-feira (26), várias redes de notícias optaram por verificar o que foi dito por Trump.

"O presidente fez vários comentários distorcidos e mentirosos ao longo desses 45 minutos", disse Wolf Blitzer, âncora da CNN, aos telespectadores assim que Trump concluiu suas declarações.

O colega de Blitzer no canal, Jeffrey Toobin, chamou a entrevista de "uma enxurrada de mentiras".

Na ABC, o âncora George Stephanopoulos apareceu na tela no meio do evento, informando aos espectadores que "não havia provas" que respaldassem as alegações de Trump sobre Biden e seu filho.

Andrea Mitchell, da NBC, disse que as acusações contra Chris Murphy eram "contrárias a qualquer informação que temos".

"Não sabemos do que ele está falando", acrescentou Mitchell.

Com a aproximação da campanha presidencial de 2020, os produtores de televisão provavelmente terão que enfrentar mais escolhas polêmicas como essa.

"Jornalistas de televisão, em particular, estão reavaliando como lidar com esse presidente em um contexto ao vivo", disse Mark Lukasiewicz, ex-produtor da NBC News e agora reitor da faculdade de comunicação da Universidade Hofstra.

"Tomar uma decisão de não fazer uma transmissão é declarar que ela não é digna de ser noticiada, quando ela é claramente digna de ser noticiada", disse Lukasiewicz sobre a aparição de Trump.

"Mas as redes estão sentindo a responsabilidade de não serem meramente os veículos da decepção presidencial."

A televisão é um meio de comunicação menos ágil do que as plataformas sociais, como o Twitter, no qual analistas podem corrigir inverdades em um comentário corrente.

A MSNBC e a CNN testaram gráficos na tela contextualizando as declarações de um político.

Na quarta (25), a ABC, a CBS e a NBC optaram por algo mais básico: manchetes na tela que diziam simplesmente que Trump estava dando declarações.

Na MSNBC, a decisão de Wallace de interromper Trump seguiu decisões similares em transmissões anteriores em seu programa.

"Não colocamos Donald Trump ao vivo", disse em entrevista concedida ao apresentador Seth Meyers, no programa Late Night, neste ano. "Nós sentimos que estamos subjugando nossos espectadores ao fazer isso, mas, se for notícia, nós trabalharemos nela.”

Ao interromper a programação regular para exibir a entrevista, as redes garantiram que a aparição de Trump na quarta (25) fosse amplamente vista.

Porém, é provável que milhões de americanos mais assistam aos seus comentários nos programas de notícias em canal fechado no horário nobre, noticiários noturnos das emissoras, postagens no Facebook de familiares e amigos, e programas noturnos de entrevistas. 

Tradução AGFox

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