Centenas de egípcios protestaram na noite desta sexta-feira (21) em várias cidades do país e na emblemática praça Tahrir, no Cairo, para pedir a saída do presidente Abdel Fattah al-Sisi, acusado de corrupção.
Os manifestantes no Cairo gritavam "Fora Sisi!" e pisavam em um cartaz com a imagem do presidente, desafiando a lei do país, que desde 2013 proíbe protestos contra o governo.
Na praça Tahir —epicentro dos protestos de 2011, que culminaram na queda do ditador Hosni Mubarak—a polícia usou gás lacrimogêneo contra os ativistas e ao menos 74 pessoas foram detidas, segundo a AFP.
Os atos de sexta-feira (20) foram convocadas pela internet por Mohamed Aly, empresário egípcio que vive no exílio na Espanha.
O empresário publicou vídeos que viralizaram, nos quais acusa al-Sisi e as Forças Armadas de corrupção.
Na semana passada, durante uma conferência sobre a juventude, o presidente negou as acusações em uma entrevista, durante a qual afirmou que é "honesto e leal" a seu povo e ao exército.
No vídeo mais recente, publicado na manhã de sexta-feira (20) em suas contas nas redes sociais, que têm cada vez mais seguidores, Aly pediu aos egípcios que protestassem antes de uma partida entre dois clubes de futebol do Cairo, Al Ahly e Zamalek.
Milhares de pessoas publicaram nas redes sociais imagens dos protestos em várias cidades, incluindo manifestações importantes em Alexandria, onde o trânsito foi bloqueado, El-Mahalla, Dumyat, Mansoura e Suez.
Muitos comentaram a estranha ausência de militares nas manifestações e especularam sobre possíveis divergências entre as várias agências de segurança egípcias. No Cairo, a polícia patrulhou as ruas à paisana.
Sob o regime do general Sisi, as autoridades adotaram uma vasta política de repressão dos dissidentes, com a detenção de milhares de islamitas, mas também de ativistas laicos e blogueiros famosos.
Sisi liderou o golpe que derrubou, em 2013, o presidente islamita Mohamed Mursi e, depois, venceu por ampla margem as eleições, praticamente sem oposição.
Na mesma conferência em que negou ser corrupto, Sisi também advertiu sobre o perigo das manifestações, uma ideia que sempre repete em seus discursos.
O presidente afirma com frequência que a segurança e a estabilidade são os principais objetivos do regime. A situação do Egito hoje contrasta com as dificuldades registradas em outros países da região, como Iraque, Líbia ou Síria.
Mas as medidas de austeridade econômica adotadas pelo governo desde 2016, em contrapartida a um empréstimo de US$ 12 bilhões do Fundo Monetário Internacional (FMI), provocam o aumento da inflação e terminam por estimular os protestos.
Quase um terço dos egípcios vive abaixo da linha da pobreza, com menos de US$ 1,40 ao dia, de acordo com dados oficiais de julho.
A ONG Human Rights Watch pediu a proteção do direito de manifestação pacífica no Egito, assim como a libertação dos detidos.
EGITO MODERNO TEM HISTÓRIA MARCADA POR PODER DOS MILITARES
1922 Egito oficialmente se torna independente e vira uma monarquia; o Reino Unido, porém, mantém o controle militar e diplomático
1952 Revolta contra a influência britânica derruba o rei e país se transforma em uma república; o general Mohamed Naguib assume como presidente
1954 Líder da Revolução de 1952 e figura mais popular do país, o coronel Gamal Abdel Nasser força Naguib a renunciar após este se recusar a banir a Irmandade Muçulmana
1956 Nasser é eleito presidente e nacionaliza o canal de Suez; com discurso contra Israel e defensor do pan-arabismo, ele aproxima o Egito da União Soviética
1970 Nasser morre em setembro após sofrer um ataque cardíaco e uma multidão acompanha seu funeral; seu vice, o coronel Anwar Sadat, assume a Presidência e aproxima o país dos EUA
1981 Sadat é assassinado por fundamentalistas islâmicos que estavam insatisfeitos com o acordo feito por ele com Israel; ele é substituído por seu vice, o marechal do ar Hosni Mubarak
2011 Em meio a Primavera Árabe, milhões vão às ruas protestar contra o regime e Mubarak renuncia, cedendo o poder para uma junta militar, que permite a volta dos partidos e da Irmandade Muçulmana
2012 Nas primeiras eleições livres da história do Egito moderno, Mohamed Mursi, da Irmandade Muçulmana, é eleito presidente
2013 Mursi é derrubado por um golpe militar liderado pelo general Abdel Fattah el-Sisi, que nomeia o presidente da Suprema Corte, Adly Mansour, como presidente interino
2014 Com opositores barrados e a Irmandade Muçulmana impedida de concorrer, Sisi vence a eleição com 96,9% dos votos e se torna presidente; em 2018 ele é reeleito com 97% de apoio
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