Descrição de chapéu Brexit

Boris Johnson diz que não quer novas eleições, mas ameaça convocá-las mesmo assim

Para premiê, pleito é necessário para resolver impasse entre seu governo e o Parlamento sobre o brexit

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Londres e São Paulo | Reuters e AFP

O debate sobre a convocação de eleições gerais para tentar resolver o impasse que se transformou a saída do Reino Unido da União Europeia foi o assunto desta segunda-feira (2) para os políticos e a imprensa do país. 

O pleito seria uma tentativa de acabar com a disputa entre o governo do premiê Boris Johnson e o Parlamento, que não conseguem concordar com um plano para o brexit. 

Boris disse que não quer uma nova votação, e voltou a afirmar que o país sairá do bloco europeu em 31 de outubro.

"Não há circunstâncias nas quais eu pedirei a Bruxelas mais prazo. Nós estamos partindo em 31 de outubro, sem 'ses' nem 'mas'", disse. "E sem uma eleição. Eu não quero uma eleição, vocês não querem uma eleição."

O premiê britânico Boris Johnson, no jardim da sede do governo, em Londres - Simon Dawson/AFP

Para a imprensa, a fala do premiê foi uma ameaça aos parlamentares. Segundo a rede BBC e os jornais The Guardian e Financial Times, o plano do premiê é, na verdade, convocar uma eleição —que precisa ser aprovada pelos deputados— para 14 de outubro, duas semanas antes do prazo final para o brexit acontecer.

Mas o pleito só ocorreria se o Parlamento aprovar nesta terça (3) uma proposta que proibiria o governo de realizar o brexit caso não exista um acordo entre o país e a União Europeia, o chamado “no deal”.

Boris se opõe a essa proposta e considera que sua aprovação significaria que o Parlamento não confia em seu governo —portanto, novas eleições são necessárias. 

A saída da UE está atualmente marcada para acontecer em 31 de outubro, mas Londres e Bruxelas ainda não chegaram a um acordo de como deve ficar a relação entre eles após esta data. O brexit foi aprovado em um plebiscito em 2016, com 52% dos votos. 

Boris, eleito líder do Partido Conservador —e consequentemente primeiro-ministro— em junho, promete tirar o país do bloco no dia 31 de outubro mesmo que não exista um pacto.

O problema para ele é que a maior parte do Parlamento é contra essa opção e prefere adiar a saída caso não exista um entendimento entre as partes. Uma saída sem regras pode trazer efeitos perversos para a economia britânica.

Membros do governo contrários à saída sem acordo negociam uma aliança com a oposição. Além da ideia de votar uma lei que proíba um brexit não pactuado com a UE, uma alternativa seria uma moção de desconfiança que levaria à queda do governo —ou um novo adiamento do brexit.

Um rascunho de projeto, divulgado em redes sociais pelo parlamentar trabalhista Hilary Benn, propõe que a saída seja automaticamente postergada para 31 de janeiro de 2020 caso nenhum acordo com Bruxelas tenha sido concluído até 19 de outubro. 

No entanto, há pouco tempo para aprovar algo. O Parlamento volta ao trabalho nesta terça-feira (3), após o recesso de verão.

Na semana que vem, as atividades serão paralisadas, pois o premiê pediu uma suspensão de cinco semanas. Com isso, o trabalho será retomado só na segunda quinzena de outubro, a poucos dias da data do brexit. 

Essa suspensão, apontada como estratégia para reduzir os debates, gerou diversos protestos no fim de semana por todo o país

​​Boris tem maioria no Parlamento de apenas uma cadeira. De acordo com a imprensa britânica, cerca de 20 membros de seu partido podem se rebelar. 

O premiê ameaçou expulsar da legenda quem se posicionar contra ele. No entanto, o próprio Boris e vários de seus ministros fizeram algo semelhante neste ano contra a antecessora no cargo, Theresa May. 

"A estratégia [do governo], para ser honesto, é perder essa semana e então buscar uma nova eleição", disse David Gauke, ex-ministro da Justiça e um dos parlamentares rebeldes do Partido Conservador. 

O principal partido de oposição defendeu a ideia. “Nós queremos uma eleição geral”, disse Jeremy Corbyn, líder dos trabalhistas. “Devemos permanecer juntos para impedir a saída sem acordo. Esta semana pode ser nossa última chance”, acrescentou.

O ex-premiê trabalhista Tony Blair apontou que a ideia pode ser uma armadilha. “Boris sabe que a proposta de um brexit sem acordo pode falhar se permanecer sendo algo apenas dele, mas, se isso se misturar à questão de uma nova eleição, ele pode conseguir, apesar de a maioria ser contra, porque alguns podem temer mais a um governo de Corbyn”, disse Blair.

Para os apostadores, é grande a chance de uma nova eleição em outubro. Na casa de apostas Ladbrokes, essa opção é considerada como provável por 75%. 

Segundo uma pesquisa do Yougov feita após o anúncio de suspensão do Parlamento, os conservadores teriam 33% dos votos em uma eleição geral, contra 22% dos trabalhistas, 21% para os liberais-democratas e 12% para o Partido do Brexit.

Em condições normais, as eleições gerais no Reino Unido ocorrem a cada cinco anos —a próxima está marcada para 2022. No entanto, elas podem ser antecipadas se houver apoio de dois terços dos membros do Parlamento. 

A votação fora de época também pode ocorrer se for aprovada uma moção de desconfiança contra o premiê e, em 14 dias, não houver acordo para a formação de um novo governo.

A última eleição geral foi realizada em junho de 2017, de modo antecipado. A então premiê Theresa May esperava conquistar uma prova de apoio popular, mas seu governo acabou ficando com menos representantes do que tinha antes

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