Mais de 400 homens e meninos, muitos deles acorrentados, foram resgatados de um edifício na cidade de Kaduna, no norte da Nigéria, informou um porta-voz da polícia nesta sexta-feira (27).
A maioria era de crianças —as que foram vistas por um repórter da agência Reuters eram meninos com idades entre cinco e 20 anos. Algumas tiveram seus tornozelos algemados e outras foram acorrentadas pelas pernas a grandes calotas de metal.
A polícia afirmou que o prédio abrigava uma escola islâmica e que sete professores foram presos na quinta-feira (26), quando o local foi descoberto. Não está claro quanto tempo as crianças ficaram ali.
O chefe da polícia de Kaduna, Ali Janga, disse à BBC que os agentes receberam uma denúncia sobre “atividades suspeitas” no edifício. Ele descreveu o local como uma “casa de tortura” onde pessoas eram escravizadas.
Relatos da mídia local afirmam que os prisioneiros foram torturados, abusados sexualmente e impedidos de partir, além de passarem fome. A Reuters não conseguiu confirmar as informações, embora cicatrizes que se assemelham a marcas de chicote fossem visíveis nas costas de um garoto.
“Eu passei três meses aqui com correntes nas minhas pernas”, disse Bell Hamza, uma das vítimas, à imprensa nigeriana. “Era para ser um centro islâmico, mas tentar fugir daqui levava a punições severas. Eles amarravam as pessoas e as penduravam no teto por isso.”
Duas crianças eram de Burkina Faso e outras do Mali e de Gana. A maioria havia sido trazida de todos os estados da região norte da Nigéria pelos pais.
“Não sabíamos que eles seriam submetidos a essas condições severas”, disse um dos pais à Reuters.
As crianças foram transferidas para um abrigo temporário em um estádio em Kaduna e posteriormente seriam levadas para outro local em um subúrbio da cidade, enquanto são feitas tentativas para encontrar seus pais.
Alguns já haviam sido contatados e foram à escola para recuperar seus filhos.
As escolas islâmicas, conhecidas como Almajiris, são comuns em todo o norte muçulmano da Nigéria —um país no qual metade da população é cristã, e a outra metade, islâmica. Tais estabelecimentos de ensino são alvos de acusações de abuso há anos.
No início de 2019, o governo do presidente Muhammadu Buhari, ele próprio muçulmano, disse que planejava proibir as escolas, mas não o faria imediatamente.
O norte da Nigéria é a região mais pobre do país, onde a maioria das pessoas vive com menos de US$ 2 (R$ 8) por dia.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.