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Estudantes sofrem com alta dos aluguéis em Portugal

Aumento de estrangeiros leva a disparada do preço da moradia no país

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Lisboa

Para a estudante brasileira Ana Carolina Oliveira, 24, encontrar um lugar para morar em Lisboa tem sido a parte mais difícil e estressante de seu mestrado em Portugal.

“Passo umas duas horas por dia vendo nos sites, ligando para [telefones dos] anúncios. Os preços estão surreais. O que tem de bom, desaparece num segundo”, conta.

Neste início de ano letivo europeu, não faltam relatos semelhantes aos dela entre os estudantes das universidades de Portugal.

As dificuldades de alojamento são, segundo especialistas, um dos grandes gargalos do acesso ao ensino superior no país.

Uma pesquisa da plataforma imobiliária Idealista mostra que quartos próximos às principais universidades de Lisboa variam desde 200 euros (R$ 909) até 890 euros (cerca de R$ 4.000).

Casas no Porto, em Portugal
Casas no Porto, em Portugal - Rafael Balago/Folhapress

As residências geridas pelas universidades, que têm preços acessíveis e localização próxima aos polos de ensino, já não eram suficientes para os alunos portugueses.

Com a chegada de cada vez mais estudantes estrangeiros —são mais de 50 mil em 2019, um recorde histórico—, a pressão ficou ainda maior.

Um levantamento feito pelo Ministério do Ensino Superior português em 2018 indicou que as residências universitárias só eram suficientes para 12% dos alunos deslocados, o que deixa a maioria dos estudantes vulneráveis à alta de preços do mercado regular da habitação, que vem batendo recordes sucessivos.

O assunto tem ganhado tanto destaque entre a comunidade acadêmica que foi um dos temas do discurso do reitor da Universidade de Lisboa, António Cruz Serra, na cerimônia que marcou o começo deste ano letivo.

“É imperativo dar resposta aos nossos estudantes que se deparam com a falta de alojamento a preços acessíveis nos principais centros universitários do país”, afirmou.

O problema, de fato, não está restrito apenas a Lisboa e ao Porto. Cidades menores, como o Faro, no Sul, ou Braga, no Norte, também têm assistido a alta nos preços, embora em menor escala.

Na semana passada, mais de uma centena de alunos da Utad (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro) protestaram em frente à Câmara Municipal da cidade de Vila Real, no Norte de Portugal, contra a falta de alojamento a preços acessíveis.

“Uma crise se arrasta há vários anos no alojamento estudantil“, disse o presidente da associação acadêmica, José Pinheiro, ao Jornal de Notícias.

Segundo o líder estudantil, no ano passado, os altos custos empurraram muitos alunos para a periferia da cidade, em locais muitas vezes sem transporte público e de difícil acesso.

O governo português reconhece as dificuldades e tem apostado em um plano amplo de reconversão de prédios públicos em apartamentos para estudantes.

O objetivo do chamado Pnaes (Plano Nacional para o Alojamento no Ensino Superior) é duplicar a quantidade de vagas existentes até 2030, chegando a 30 mil camas com preços acessíveis.

No fim de agosto, foram disponibilizadas 595 novas camas em vários pontos do país. Até o fim do ano, mais vagas devem ser inauguradas.

A alta nos preços dos imóveis em Portugal atinge não somente os estudantes: tem havido um aumento generalizado no custo dos imóveis das principais cidades do país.

Um estudo divulgado pelo Eurostat (Gabinete de Estatísticas da União Europeia) diz que Portugal foi o país do bloco no qual os preços da habitação mais subiram em 2018, com um aumento de 10,3% em relação ao ano anterior.

Muitos investidores estrangeiros —inclusive brasileiros— têm comprado e reformado casas e apartamentos no país, mas muitas destas unidades são disponibilizadas para aluguéis de curta duração para turistas, como no Airbnb, o que encolhe cada vez mais o mercado tradicional de habitação.

Em julho, o governo lançou um programa de aluguel acessível, que garante vantagens fiscais para os proprietários que alugarem suas casas por preços até 20% inferiores à média do mercado e contratos com mais de cinco anos.

Apesar de o lançamento ter atraído muita atenção, nos dois primeiros meses da medida, apenas 20 contratos foram celebrados pelo programa.

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