Fantasma da violência em período de eleições volta a assombrar Colômbia

Nove candidatos foram assassinados durante ciclo para eleger prefeitos e governadores no país

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Bogotá

O fantasma da violência política, que historicamente marcou os pleitos colombianos, reaparece com força às vésperas das primeiras eleições regionais da gestão do presidente de centro-direita Iván Duque, 43.

Em 27 de outubro —mesmo dia das votações para presidente na Argentina e no Uruguai—, os colombianos vão às urnas para eleger mais de mil prefeitos, 32 governadores, além de mais de 2.000 representantes de assembleias departamentais e municipais. 

A última eleição regional, em 2015, foi celebrada pela diminuição da violência. Afinal, o país estava próximo de aprovar um acordo de paz com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e em negociações com a segunda maior guerrilha do país, o ELN (Exército de Libertação Nacional). Havia clima de trégua no ar.

Carro carbonizado no qual foram encontrados os corpos de Karina Garcia, candidata à Prefeitura de Suárez, e de mais cinco pessoas - Luis Robayo/AFP

Agora, a situação é outra. A ineficiência do governo em implementar o pacto, o aumento de dissidentes que voltaram às armas e a suspensão, por parte de Duque, do diálogo com o ELN ampliaram a violência no interior do país, já grave pela ação dos paramilitares e das chamadas “bacrim” (“bandas criminales”, ou quadrilhas criminosas).

A votação de outubro define o mapa político do interior colombiano, e há acusações de que as campanhas de muitas lideranças são financiadas por facções criminosas ligadas ao narcotráfico —a produção de coca para a fabricação de cocaína dobrou nos últimos quatro anos. 

O impacto também se sente nos grandes centros urbanos, onde aumenta o descontentamento em relação a Duque e seu partido, o Centro Democrático, comandado pelo ex-presidente Álvaro Uribe. 

A aprovação do atual presidente está em queda (29%), e a rejeição, em alta (64%). Com isso, a legenda governista, de acordo com as pesquisas, deve perder o comando das principais cidades e Estados do país.

A principal batalha é pela capital Bogotá, onde os dois favoritos são anti-Duque: o liberal Carlos Galán e a “verde” Claudia López, ambos favoráveis ao acordo de paz e críticos da ineficiência do governo em combater a violência —em seus piores níveis em épocas eleitorais nos últimos 20 anos. 

Segundo as ONGs Misión de Observación Electoral e Fundación Paz y Reconciliación, a violência política nesta eleição já atingiu 54 candidatos —a maioria das vítimas pertence a partidos opositores ao Centro Democrático.

Desse número, nove foram assassinados, e os demais, feridos, sequestrados ou tiveram familiares como alvos. 

Além de 40 outras ameaças reportadas, somam-se a esse saldo os assassinatos de mais de 300 líderes sociais —representantes voluntários de comunidades do interior que funcionam como mediadores entre população, Justiça e imprensa, denunciando abusos de poder ou ataques de grupos criminosos. 

A ONU (Organização das Nações Unidas) instou o governo a protegê-los, e há marchas regulares nas grandes cidades para pedir que se faça algo contra os assassinatos.

No bairro Mandela, na periferia de Cartagena, onde a maior parte da população é de “deslocados” —como se denominam aqueles que têm de deixar suas terras em áreas de conflito intenso—, o dia da eleição é um dia “para não dar moleza”. 

Nesta época há muita pressão dos representantes dos políticos e dos “paracos” —como se denominam os paramilitares—, que controlam os comércios. “Tem tiroteio toda hora”, conta Nayro Catalán, 23.

Já em Bogotá, a maior parte dos entrevistados pela Folha teme o retorno dos piores tempos da violência —os anos 1980 e 1990—, com a guerra ao narcotráfico e as guerrilhas ativas com atentados nos grandes centros urbanos. 

“Eu já vi isso antes e creio que estamos indo por esse caminho. Já tivemos alguns atentados recentes [numa escola de cadetes militares e num shopping]. Morro de medo de que voltem a ser comuns bombas que deixam centenas de vítimas”, diz Catalina Abad, 63, que mora num bairro nobre da capital colombiana.

Segundo pesquisa do instituto Gallup, os temas que mais preocupam os colombianos nesse período são a insegurança (83%), a corrupção (82%) e o narcotráfico (63%).


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