Gantz rejeita proposta de Netanyahu e diz que pretende ser premiê de Israel

Políticos tentam chegar a acordo para formar novo governo após eleições

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São Paulo e Tel Aviv | Reuters e AFP

O premiê israelense, Binyamin Netanyahu, propôs ao rival Benny Gantz um acordo nesta quinta-feira (19): junte-se ao meu futuro governo, no qual seguirei como primeiro-ministro, e teremos ao nosso lado os partidos ultraortodoxos e de direita. 

Gantz, do partido centrista Azul e Branco, não achou uma boa ideia e propôs o contrário: aceita a ideia de uma coalizão, mas desde que ele seja o comandante e que os partidos religiosos fiquem de fora. 

Benny Gantz, líder do partido Azul e Branco, em discurso em Tel Aviv - Jack Guez/AFP

"Por isso que peço a você, Benny. Vamos nos reunir ainda hoje, a qualquer hora, [para] impulsionar este processo que é urgente. Não temos o direito de caminhar para a terceira eleição. Sou contra. A agenda agora é um governo de união", afirmou Netanyahu ao fazer o convite, que logo foi recusado pelo adversário.

"Os israelenses querem um governo de unidade (...) Vou formar esse governo comigo à frente", disse Gantz antes de uma reunião com aliados. 

"O partido Azul e Branco venceu e, no momento em que estou conversando com vocês, temos 33 cadeiras, enquanto Netanyahu não conseguiu a maioria para formar uma coalizão como esperava", completou o ex-chefe do Exército israelense.

Aliado de Gantz e membro da sigla, Moshe Ya’alon foi ainda mais enfático. "Nós não vamos entrar em uma coalizão com Netanyahu", disse a jornalistas. 

O "não" do Azul e Branco abre brecha para um outro tipo de acordo com o Likud: sem Netanyahu. Embora o premiê afirme que não deixará o comando do partido, analistas israelenses consideram que isto pode acontecer para destravar as negociações.   

O primeiro-ministro, porém, não gostou da resposta dos rivais. "Estou surpreso e desapontado com o fato de que Benny Gantz ainda rejeita meu chamado para uma reunião", disse, em uma rede social.

"Gantz, minha oferta é que nós dois cheguemos a um acordo. É o que o público espera de nós."

Mais cedo, o premiê reconheceu suas dificuldades, dizendo que, durante a campanha, defendeu a criação de um governo de direita, mas, "lamentavelmente, o resultado da eleição mostrou que isso é impossível".

Netanyahu se mantém como premiê até que alguém consiga o apoio da maioria do Parlamento. 

A proposta do líder do Likud foi recebida com surpresa em Israel. Embora uma possível coalizão entre os dois rivais tenha sido levantada por comentaristas, a expectativa era de que essas conversas só começariam após os líderes partidários se reunirem com o presidente Reuven Rivlin. 

É esse encontro que dá início oficial às negociações para formar um novo governo, e ele só deve acontecer depois que a apuração dos votos terminar — com 97% do processo concluído, a expectativa para a conclusão é sexta (20).

O Azul e Branco foi a legenda mais votada nas eleições de terça-feira (17), e somou 33 assentos. O Likud, de Netanyahu veio em segundo lugar, com 32, de acordo com os dados registrados até agora. 

No entanto, para formar maioria é preciso obter 61 das 120 cadeiras. Mesmo com suas coligações, nem Gantz nem Netanyahu conseguem chegar a esse número, e passaram a ter de negociar com outros partidos para tentar resolver o impasse

Nesse caso, o caminho mais realista seria uma coalizão entre as duas siglas, donas das maiores bancadas na Casa, possivelmente com apoio também dos oito parlamentares da sigla secular e nacionalista Israel Nossa Casa, liderada por Avigdor Lieberman

Segundo o jornal The Times of Israel, Lieberman teria dito a aliados que pretende recomendar Gantz como premiê, o que pode desequilibrar a balança a favor do ex-chefe do Exército e pôr fim ao governo de Netanyahu. 

O atual premiê luta não apenas por sua sobrevivência política, mas também contra o risco de ser preso. Ele é investigado em três casos de corrupção, e fazer parte do governo pode ajudá-lo a manter imunidade legal.

Netanyahu, que está no cargo desde 2009, anunciou que não irá discursar na Assembleia Geral da ONU, que ocorre na próxima semana, em Nova York, justamente para tentar resolver o imbróglio político.

Outra saída aventada é que Netanyahu e Gantz se alternem no poder ao longo do mandato, com dois anos de comando para cada um. Já houve um precedente. Em 1984, o Likud e o Partido Trabalhista se viram em impasse similar e decidiram formar governo em conjunto, com cada legenda liderando por dois anos.

Há prazo de seis semanas para os partidos chegarem a um acordo. Caso contrário, haverá novas eleições no início de 2020.

O país já foi às urnas em abril deste ano. Embora tenha sido bem votado, Netanyahu não conseguiu apoio para formar um governo por divergências com Lieberman, um ex-aliado que se tornou adversário. 

Foi esse impasse que gerou as eleições atuais, que também terminaram sem um vencedor claro.

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